P.- Santo Padre, depois do Médio Oriente, voltamos agora para a Europa. Vossa Santidade está preocupado com o crescimento do populismo na Europa, que ainda ontem se manifestou nas eleições europeias?
R. - (Santo Padre)
Nestes dias, só tive tempo para rezar o Pai Nosso… Verdadeiramente não segui as notícias das eleições. Não tenho os dados: quem venceu, quem perdeu… Não segui as notícias. Populismo, em que sentido? Pode-me dizer?
P. - No sentido que hoje muitos europeus têm medo, pensam que não haja futuro na Europa. Há muito desemprego e o partido anti-europeu registou um forte crescimento nestas eleições…
R. – Este é um argumento de que ouvi falar: da Europa, da confiança ou desconfiança na Europa. Inclusive a propósito do euro, alguns querem voltar atrás... Destas coisas, não entendo muito. Mas o senhor disse uma palavra-chave: o desemprego. Este é grave. É grave, porque – eu interpreto assim, simplificando – estamos num sistema económico mundial, em que, no centro, está o dinheiro, não a pessoa humana. Num verdadeiro sistema económico, no centro devem estar o homem e a mulher, a pessoa humana. E hoje, no centro, está o dinheiro. Para se manter, para se equilibrar, este sistema deve ir em frente com algumas medidas «de descarto». E descartam-se as crianças – o nível de natalidade na Europa não é muito elevado! Creio que a Itália tem 1,2 por família; vós, em França, tendes 2… um pouco mais; a Espanha, menos do que a Itália: não sei se chega a 1… Descartam-se as crianças. Descartam-se os idosos: os velhos já não servem; conjunturalmente, neste momento, vão encontrá-los porque são reformados e precisam da sua reforma, mas é um facto conjuntural. Descartam-se os idosos, mesmo com situações de eutanásia escondida, em muitos países. Ou seja, os remédios são fornecidos até um certo ponto, e assim… E, neste momento, descartam-se os jovens… Isto é gravíssimo, é gravíssimo. Na Itália, creio que o desemprego juvenil atinge quase 40%, não tenho a certeza. Na Espanha, tenho a certeza que anda pelos 50%; e na Andaluzia, no sul da Espanha, 60! Isso significa que há toda uma geração de «nem… nem…»: nem estudam, nem trabalham. E isto é gravíssimo! Descarta-se uma geração de jovens. Para mim, esta cultura do descarte é gravíssima. Mas isto não sucede só na Europa, verifica-se um pouco por toda a parte; na Europa, sente-se forte. Faz-se a comparação com a cultura do bem-estar de há 10 anos. E isto é trágico. É um momento difícil. É um sistema económico desumano. Não tive medo de escrever na Exortação Evangelii gaudium: este sistema económico mata. E repito-o. Não sei se fui um pouco ao encontro da sua preocupação... Obrigado.