segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O dogma da Assunção de Maria

O dogma da Assunção se refere a que a Mãe de Deus, ao cabo de sua vida terrena foi elevada em corpo e alma à glória celestial.

Este dogma foi proclamado pelo Papa Pio XII, no dia 1 de novembro de 1950, na Constituição Munificentissimus Deus:
"Depois de elevar a Deus muitas e reiteradas preces e de invocar a luz do Espírito da Verdade, para glória de Deus onipotente, que outorgou à Virgem Maria sua peculiar benevolência; para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte; para aumentar a glória da mesma augusta Mãe e para gozo e alegria de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu".

Por que é importante que os católicos recordem e se aprofundem no Dogma da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu?
O Novo Catecismo da Igreja Católica responde à esta interrogação:
"A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos"(966).
A importância da Assunção para nós, homens e mulheres do começo do Terceiro Milênio da Era Cristã, radica na relação que existe entre a Ressurreição de Cristo e nossa. A presença de Maria, mulher da nossa raça, ser humano como nós, quem se encontra em corpo e alma já glorificada no Céu, é isso: uma antecipação da nossa própria ressurreição.

Mais ainda, a Assunção de Maria em corpo e alma ao céu é um dogma da nossa fé católica, expressamente definido pelo Papa Pio XII pronunciando-se "ex-cathedra". E... Quê é um Dogma?
Posto nos termos mais simples, Dogma é uma verdade de Fé, revelada por Deus (na Sagrada Escritura ou contida na Tradição), e que também é proposta pela Igreja como realmente revelada por Deus. Neste caso se diz que o Papa fala "ex-cathedra", quer dizer, que fala e determina algo em virtude da autoridade suprema que tem como Vigário de Cristo e Cabeça Visível da Igreja, Mestre Supremo da Fé, com intenção de propor um assunto como crença obrigatória dos fiéis católicos.


O Novo Catecismo da Igreja Católica (966) nos explica assim, citando a Lumen Gneitium 59, que à sua vez cita a Bula da Proclamção do dogma:
"Finalmente a Virgem Imaculada, preservada livre de toda macha de pecado original, terminado o curso da sua vida terrena foi levada à glória do Céu e elevada ao trono do Senhor como Rainha do Universo, para ser conformada mais plenamente a Seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte".

E o Papa João Paulo II, em uma das suas catequeses sobre a Assunção, explica isto mesmo nos seguintes termos:
"O dogma da Assunção, afirma que o corpo de Maria foi glorificado depois de sua morte. Com efeito, enquanto para os demais homens a ressurreição dos corpos ocorrerá no fim do mundo, para Maria a glorificação do seu corpo se antecipou por singular previlégio" (JPII, 2- Julho-97).
"Contemplando o mistério da Assunção da Virgem, é possível compreender o plano da Providência Divina com respeito a humanidade: depois de Cristo, Verbo Encarnado, Maria é a primeiria criatura humana que realizou o ideal escatológico, antecipando a plenitude da felicidade prometida aos eleitos mediante a ressurreição dos corpos" (JPII, Audiência Geral do 9-julho-97). Continua o Papa: "Maria Santíssima nos mostra o destino final dos que 'escutam a Palavra de Deus e a cumprem'(Lc. 11,28). Nos estimula a elevar nosso olhar às alturas onde se encontra Cristo, sentado à direita do Pai, e onde também está a humilde escrava de Nazaré, já na glória celestial"(JPII, 15-agosto-97).

Os homens e mulheres de hoje vivemos pendentes do enigma da morte. Ainda que o enfoquemos de diversas formas, segundo a cultura e crenças que tenhamos, por mais que o evadimos em nosso pensamento por mais que tratemos de prolongar por todos os meios ao nosso alcance nossos dias na terra, todos temos uma necessidade grande desta esperança certa de imortalidade contida na promessa de Cristo sobre nossa futura ressurreição.
Muito bem faria a muitos cristãos ouvir e ler mais sobre este mistério da Assunção de Maria, o qual nos diz respeito tão diretamente. Por quê se chegou a difundir-se a crença no mito pagão da re-encarnação entre nós? Se pensamos bem, estas idéias estranhas à nossa fé cristão vieram metendo-se na medida em que deixamos de pensar, de predicar e de recordar aos mistérios, que como o da Assunção, têm a ver com a outra vida, com a escatologia, com as realidades últimas do ser humano.

O mistério da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu nos convida a fazer uma pausa na agitada vida que levamos para refletir sobre o sentido da nossa vida aqui na terra, sobre o nosso fim último: a Vida Eterna, junto com a Santíssima Trindade, a Santíssima Virgem Maria e os Anjos e Santos do Céu. O fato de saber que Maria já está no Céu gloriosa em corpo e alma, como nos foi prometido aos que façamos a Vontade de Deus, nos renova a esperança em nossa futura imortalidade e felicidade perfeita para sempre.

Fonte:

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O uso do Projetor Multimídia na Liturgia

Elementos para reflexão
1.    O uso do projetor multimídia na liturgia é hoje uma realidade frequente em nossas comunidades. Por se tratar de uma realidade relativamente recente e ainda pouco refletida em nosso meio, causando discussões e até mesmo divergências de opinião, a Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB quer oferecer, com a presente nota, alguns elementos para uma reflexão e futuros aprofundamentos da parte do episcopado nacional, dos liturgistas, dos párocos e todos os agentes de pastoral litúrgica em nosso país e, sobretudo, daqueles que utilizam o projetor multimídia como recurso para a liturgia.
2.    A partir do Concílio Vaticano II e da reforma litúrgica dele derivada, como compreender esta realidade? Seria esta uma simples adaptação à cultura moderna? Apenas uma moda, como foi com o retroprojetor, que depois caiu em desuso? Uma criatividade litúrgica? Quais os motivos da introdução deste meio na liturgia? Seria o projetor multimídia algo a ser realmente necessário na liturgia?
Vendo a realidade do uso do projetor multimídia na liturgia
3.    Em diferentes comunidades, o projetor multimídia vem sendo utilizado como recurso audiovisual para, por exemplo:
•    projetar cantos num telão ou numa parede da igreja, inclusive fazendo correção de textos durante a ação ritual;
•    projetar as orações presidenciais, inclusive a oração eucarística, enquanto o presidente as proclama;
•    projetar as leituras bíblicas enquanto são proclamadas;
•    projetar a homilia ou parte dela, de forma esquemática, enquanto é proferida, chegando até mesmo a ser acompanhada por trilha sonora;
•    projetar, durante a homilia e a oração eucarística, imagens ou vídeo de Jesus retratando ações correspondentes a estes momentos rituais como, por exemplo, cenas da última ceia projetadas durante a narrativa da instituição, no momento em que Jesus parte o pão;
•    projetar ícones em diferentes momentos da celebração, bem como mensagens após a comunhão;
•    e também projetar os textos da liturgia das horas.
Estes exemplos - como outros que poderiam ser citados -, nos servirão de referência para refletirmos sobre a complexa realidade do uso do projetor multimídia na liturgia.
Justificativas comumente dadas para o uso
4.    São várias as justificativas apresentadas por aqueles que se utilizam deste meio. Dentre elas, elencamos algumas:
•    Por questões econômicas e ecológicas (menos custos e gastos de papel), a utilização do projetor multimídia leva a eliminar o uso dos “folhetos litúrgicos” e livros de cantos.
•    É mais prático, tendo os textos em um só lugar e projetá-los, do que multiplicar e distribuir papéis, como aqueles usados para os cantos.
•    O uso do projetor multimídia ajuda e facilita a participação da assembleia na liturgia, porque ela (a assembleia) se vê livre e despreocupada de manter folhas e objetos nas mãos.
Elementos para reflexão sobre essa realidade
5.    É compreensível a iniciativa do uso do projetor multimídia com as suas justificativas, pois revelam zelo e preocupação pastoral em relação à liturgia. No entanto, do ponto de vista teológico-litúrgico, tudo isso demanda revisão, reflexão e aprofundamento, tendo em vista, sempre, a participação plena da assembleia.
6.    Na reflexão sobre esta realidade, um primeiro elemento a ser considerado é a noção de participação ativa na liturgia. O que é mesmo participar de uma ação litúrgica? É participar da salvação (cf. Sacrosanctum Concilium, SC, 2) que sempre de novo nos é dada através dos ritos e sinais sensíveis da liturgia da Igreja (cf. SC 5-7), pelos quais somos incorporados à morte e ressurreição de Cristo em seu mistério pascal (cf. SC 5-7).
7.    Os ritos têm o seu espaço próprio, cujo centro são as duas mesas: a da Palavra e da Eucaristia. A mesa da Eucaristia deve ocupar “um lugar que seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembleia dos fiéis” (Instrução Geral ao Missal Romano, IGMR, n. 299). Isso significa que nada deve nos distrair deste centro. Caso contrário, a participação ativa ficará comprometida.
8.    A ação salvadora de Deus se dá, sobretudo, quando, em torno à mesa eucarística, é proclamada a grande ação de graças da Igreja ao Pai, por Cristo e no Espírito Santo. De fato, a oração eucarística é o “centro e ápice de toda a celebração” (IGMR n. 78), quando a mente e o coração de todos devem se voltar para o alto, isto é, para Deus. Portanto, no momento da sua proclamação, é importante que o foco das atenções esteja no altar para acompanharmos e participarmos deste momento ritual. Por isso, não convém que a assembleia acompanhe o texto da oração eucarística, seja ele impresso ou projetado, mas, com os olhos voltados para o altar, ouça a voz do presidente que proclama a solene ação de graças. Neste momento, não pode a assembleia centrar-se em imagens ou filmes projetados no telão. As aclamações da assembléia poderiam ser proferidas ou cantadas pelo diácono ou outro ministro e repetidas pelo povo.
9.    O que foi dito sobre mesa eucarística, pode-se também dizer sobre a mesa da Palavra, como nos ensina a Igreja: “A dignidade da Palavra de Deus requer na Igreja um lugar condigno de onde possa ser anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da liturgia da Palavra” (IGMR n. 309). Consequentemente, a Palavra de Deus, quando proclamada e comentada pela homilia, exige de nós a atitude discipular de escuta. Na liturgia, ela está para ser proclamada e ouvida. Assim sendo, estaria muito mais de acordo com a natureza da liturgia a assembleia voltar-se para o ambão, com olhos e ouvidos atentos ao ministro que proclama a Palavra “em voz alta e distinta” (cf. IGMR 38), em vez de acompanhá-la com os olhos fixos num texto impresso ou em projeções no telão.
10.     A participação ativa na liturgia exige uma interação entre quem proclama a Palavra e a assembleia que a escuta, entre a presidência e assembleia, entre esses e o próprio Deus, entre Deus e o seu povo, por força das ações rituais. Ao mesmo tempo, exige o uso cuidadoso dos livros litúrgicos, porque eles “lembram aos fiéis a presença de Deus que fala a seu povo... e são sinais e símbolos das realidades do alto na ação litúrgica” (Introdução ao Lecionário da Missa, ILM, 35), não devendo por isso ser “substituídos por outros subsídios de ordem pastoral” (ILM 37).
11.     O Concílio Vaticano II resgatou a ampla compreensão de presença real de Jesus Cristo na liturgia (no ministro, na Palavra, na assembleia orante, nos sacramentos, sobretudo nas espécies eucarísticas), proclamando que Cristo mesmo age nas ações litúrgicas (cf. SC 7). A Igreja nos convoca, pois, a valorizar estas diversas presenças. Imagens projetadas durante a celebração desviam a nossa atenção da ação de Jesus Cristo, aqui e agora, na própria ação ritual. Além disso, sendo o filme, ou vídeo, um acontecimento em si mesmo, não se destina a ilustrar outro acontecimento que é o mistério de Cristo e da Igreja na própria ação ritual em ato.
12.     O ministro, tanto no momento de proclamar a Palavra como na ação ritual de presidir a Eucaristia, age in persona Christi. O Cristo assume a voz, o olhar, o rosto, os braços, o corpo todo do ministro para, por ele, se comunicar com o povo cristão reunido em assembleia e, na unidade do Espírito Santo, glorificar ao Pai. Então, como fica quando a assembléia se vê obrigada a ter que desviar sua atenção para o telão, exatamente quando teria de contemplar a ação do Cristo vivo na pessoa do ministro? E como fica aí a “participação ativa”, no verdadeiro sentido teológico-litúrgico, pedida com insistência pelo Vaticano II?
13.     O uso do projetor multimídia na liturgia, como estamos vendo, além de interferir na ação ritual, entra em competição com a liturgia, gerando distração.
14.     O uso didático do projetor multimídia, utilizando aparelhos (computador, fiação, projetor, mesa, telão), sem dúvida interfere na composição e na estética do próprio espaço celebrativo enquanto “sinal e símbolo das coisas divinas” (cf. IGMR 288). Dependendo da localização, não seria o projetor multimídia um elemento estranho ao espaço celebrativo, dificultando a execução das ações sagradas e a ativa participação dos fiéis? Na verdade, com o uso desses aparatos corre-se inclusive o risco de tornar o espaço celebrativo em quase “sala de aula”, de “conferência”, ou uma extensão da minha “sala de TV”.
15.     Além do mais, com o uso de projetor multimídia na liturgia, não se corre o risco da acomodação, no sentido de não se precisar mais investir na formação litúrgica e nem mesmo buscar uma melhor qualidade do espaço celebrativo e, sobretudo, dos ministérios?
16.     O problema maior, talvez, está na falta de iniciação litúrgico-ritual. Qual o lugar que a liturgia ocupa na catequese? O que normalmente se ensina aos agentes de pastoral e comunidades? Quem o faz e que metodologia utiliza? Como estão sendo formados os futuros presbíteros e diáconos? A formação litúrgica muitas vezes fica reduzida a teoria, sem a devida formação para a ritualidade conjugada com a espiritualidade. Resultado: Recorre-se a folhetos, ao uso do projetor multimídia etc., desfocando assim a atenção da assembleia daquilo que é central na celebração. Liturgia é eminentemente ação, celebração: ação de Cristo e da Igreja, ação da assembleia em Cristo e no Espírito. Assim sendo, não tem como ser ela acompanhada por outra ação paralela assistida no telão. Não somos expectadores mas participantes.
17.      Enfim, podem as novas tecnologias colaborar em favor de uma liturgia participativa, pascal, simbólica e orante? É possível? Com certeza, e muito! Onde? Na catequese como preparação para o bem celebrar, nos cursos em preparação ao batismo e ao matrimônio, bem como nos cursos de formação litúrgica em geral. Aí, nestes espaços, o projetor multimídia presta, sem dúvida, um notável serviço à sagrada liturgia.
18.      Que o Espírito Santo nos ilumine, para que, a partir de uma séria reflexão sobre o uso do projetor multimídia em nossas liturgias, possamos qualificar sempre mais nossas celebrações e todos os seus ministérios. Tudo para que nossas assembléias litúrgicas, corpo eclesial de Cristo, possam sentir-se plenamente sujeito das ações rituais e, ao mesmo tempo, todas as pessoas que as compõem sintam-se envolvidas pelo mistério da salvação e glorifiquem ao Pai por uma vida santa.

Fonte:

terça-feira, 21 de julho de 2015

Complexo paterno - Carl Gustav Jung

Conferência de Quinta-Feira, 26 de outubro de 1995, em Annecy - FRANÇA

Para lhes falar do pai esta tarde, começarei contando um resumo da história do filme de Vittorio de Sica :"Ladrão de bicicleta":
Durante a primeira parte do filme a criança projeta sobre seu pai uma imagem de grande homem. Ela o admira e procura imitá-lo. Depois, quando seu pai rouba a bicicleta esta imagem fica prejudicada.
Ela tem diante de si um pai fraco e culpado que merece ir para a prisão e não é solto senão por piedade. O desprezo neste momento poderá deslocar a antiga "super estima infantil". O pai volta para ele de cabeça baixa e seu filho o observa de longe, hostil.
Depois de uma longa caminhada silenciosa acabam por se encontrar, apertam as mãos e retornam juntos para casa. Tudo se passa como se neste instante a criança tivesse conseguido recompor uma nova imagem de seu pai na qual se encontra agora incluido um elemento frágil que até o presente não aparecia: a imagem de uma criança próxima dele mesmo, até aqui mascarada pela imagem do grande homem.
Contudo, nem todas as crianças conseguem transformar tão felizmente esta grande imagem unívoca do pai em um conjunto mais complexo que não exclui os contrários. Na maioria das vezes a imagem do pai permanece idealizada resistindo às provas da vida.
A criança próxima de seu pai, cúmplice apesar dele, descobre um pai humano, acessível. A imagem do pai não é mais idealizada, distanciada dele. Seu pai está próximo.
O que lhes acabo de contar não é uma incitação para os pais que aqui estão roubarem bicicletas...para se tornarem mais próximos de seus filhos...mas uma ilustração da necessidade que o filho tem de encontrar seu pai além de um plano idealizado.
Guy CORNEAU: "A questão do pai e da identidade masculina surge atualmente no espirito do tempo a partir dos baixos fundos do inconsciente coletivo."
A geração precedente se esmerou por nos dar acesso à segurança material e à instrução. Este empreendimento foi acompanhado de um silêncio sobre as necessidades mais interiores que são as nossas no dia de hoje. Nossa tarefa hoje é quebrar este silêncio.

Quebrar o silêncio que envolve os pais e os filhos.
A prática terapêutica permite perceber como os homens são prisioneiros de um silêncio hereditário que priva os filhos de um reconhecimento e de uma confirmação de sua identidade através do olhar de seu pai.
Este mesmo silêncio faz os pais se refugiarem nos bares, em seu trabalho ou na televisão. Este hábito dos meios de comunicação social torna-se como uma droga sem a qual não se pode ficar e que evita ter que falar, se encarnar e entrar em relação.
Os homens contemporâneos têm poucas ocasiões de viver e atualizar o seu potencial masculino na presença de seu pai. O desenvolvimento da era industrial diminui ainda mais os momentos de contato entre os pais e os filhos.
 
A fragilidade da identidade masculina
Silêncio dos pais = fragilidade da identidade sexual dos filhos. A personalidade se constitui e se diferencia por uma seqüência de identificações.
"A identificação é um processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo de outro e se transforma totalmente ou parcialmente a partir deste modelo." ( Vocabulário de psicologia).
Para poder ser idêntico a si mesmo é preciso poder em primeiro lugar ser idêntico a alguém. É preciso ser estruturado incorporando, "colocando em seu corpo", imitando alguém outro. Mas para que este movimento se produza, é necessário ter reconhecido de forma obscura um elemento comum no outro. Esta tendência inata que impulsiona o filho para o pai E o pai para o filho é o que JUNG chamou "o arquétipo".
Acontece o mesmo com a primeira identificação exercida sobre a mãe. Tornarse homem é uma tentativa de desligamento desta identificação para passar à identificação com o pai.

Os Arquétipos
Como acontece com os animais existe nos humanos certos comportamentos que são predeterminados e esperam o momento propício para se colocar em ação. Eles são comuns a toda a espécie humana e representam os programas de base de uma vida e são estimulados pelos contatos com o meio ambiente. Estes comportamentos são chamados instintos.
Da mesma forma que estes instintos comandam nossos comportamentos existem fenômenos que governam nosso modo de sentir e de pensar. JUNG lhes deu o nome de ARQUÉTIPOS.
Estas tendências do psiquismo para pré-modelar seus conteúdos se manifestam em nós sob a forma de imagens ou idéias.
Por exemplo, o pensamento humano procede geralmente comparando os opostos tais como o calor e o frio, o alto e o baixo, o yin e o yang, ou ainda os humanos se comportam da mesma maneira diante da necessidade de segurança ou diante do perigo sem que ninguém tenha lhes ensinado estas formas de reação. Os arquétipos, como tudo aquilo que é coletivo, são impessoais e têm necessidade de serem personalizados, isto é, experimentados por meio de uma relação. A relação de amor com seu cortejo de fantasmas de emoções e idealizações que a acompanha é um exemplo.
O recém-nascido está portanto precondicionado a encontrar um pai e uma mãe ao seu redor: ele traz em si estes arquétipos.
Para atualizar este potencial, ele deve encontrar alguém, ao seu redor cujo comportamento assemelhasse suficientemente ao de uma mãe e de um pai para começar a ativar sua personalidade.
O resultado deste encontro entre a estrutura inata e cada um dos pais constitui o que JUNG chamou um "complexo materno" ou um "complexo paterno". Este termo foi entendido por ele como uma soma de representações imaginadas necessárias à estruturação psíquica.
O complexo tem sempre por centro uma experiência afetiva suficientemente forte para constituir um núcleo que se tornará como um imã diante das experiências com as mesmas cores afetivas. As experiências da mãe e do pai são suficientemente fortes para acionar a criação destes complexos.
O complexo é pois uma interiorização da relação que tivemos com uma pessoa.
Por exemplo a mãe exterior que foi muito exigente em relação a seu filho se torna uma imagem interior que continua a exigir muito da pessoa. Para que isto aconteça não é necessário estar perto da mãe.
A imagem da mãe se torna um componente psíquico em parte inteira. Este componente não se nutre unicamente da imagem da mãe real mas igualmente das pessoas que sugerem a mesma atitude.
A expressão de um eu sadio está então associada a uma certa flexibilidade que admite uma coisa e seu contrário. Ser a mesmo tempo forte e vulnerável. Pode se deixar levar por aquilo que emerge do inconsciente ou opor-se a ele ou ainda negociar uma posição intermediária.
Trata-se, portanto, de um trabalho de confrontação.
Este trabalho, porém, não impõe o favorecimento de um ponto de vista tirado unicamente do inconsciente pois isto poderia esconder o individuo na profecia e na magia, nem impor um ponto de vista muito desfavorável que terá como resultado a exacerbação da racionalidade até o ponto de dessecar a pessoa.
Em geral a história do pai é a história de um ausente. Trata-se daquele que gostaria de estar lá mas que não pode por causa das obrigações profissionais. Ou ausente porque mesmo estando la fisicamente, ele pensa que somente a mãe deve estar presente junto aos filhos. Ele se deixa devorar pela televisão que funciona como uma droga e que o convida a uma passividade que não lhe permite falar nem escutar...a não ser na gritaria televisiva.
Para evoluir um homem deve ser capaz de se identificar à sua mãe e ao seu pai.

O triângulo "pai-mãe-filho" deve substituir à dupla "mãe-filho".
Se o pai está ausente, não há transferência da identificação da mãe para o pai. O filho se torna prisioneiro da identificação com a mãe. A ausência do pai impõe obrigatoriamente a influência muito maior da mãe, então carregada de uma responsabilidade muito pesada para ela sozinha.
Nestas circunstâncias a triangulação não tem chance de acontecer ou acontece mal. O efeito imediato concerne às duvidas que o rapaz terá a respeito de sua identidade sexual. A respeito disso é preciso fazer justiça às mães censuradas muitas vezes por causa de sua onipresença omitindo mencionar que ela é devida à ausência dos pais.
Não se trata de jogar a culpa sobre os pais. O desenvolvimento industrial impôs um afastamento crescente entre o pai e o filho. Como se alguma coisa na psique impusesse sempre um mais esta fratura.
A história de nossa civilização parece marcada pela ausência do pai. O mito cristão já anuncia este afastamento. José verá sua paternidade diminuir e participará muito pouco da vida de seu filho Jesus. Ele não está junto à cruz com Maria e os apóstolos. E as últimas palavras de Cristo são explicitas: "Pai, porque me abandonaste?"
Isto é que o se pode hoje constatar: mais e mais existem familias monoparentais. Mais e mais os pais são ausentes, seja no sentido fisico e mais ainda, na maioria das vezes, em sentido psicológico: ausência emocional, ou pais autoritários, opressores e invejosos dos talentos de seu filho ao qual impede toda tentativa de afirmação.

O pai presente
O pai é primeiro estranho que a criança encontra ao sair do ventre de sua mãe. Ele se torna o terceiro elemento nesta história de amor. Pela sua simples presença o pai impõe um primeiro elemento de diferenciação. Ele introduz um fator de separação entre a mãe e a criança. O segundo elemento de diferenciação está ligado à sexualidade. Ao desejar sua mulher o pai se torna homem e coloca um limite à simbiose mãe-criança. E a mãe da criança é também a mulher de um homem. Portanto, olhando mais de perto, pode se perceber que o elemento diferenciados não é tanto o pai quanto o DESEJO.
O desejo do homem pela mulher e da mulher pelo homem.
E é por isto que a presença do pai é essencial já que pela sua presença é que o desejo pode se exprimir.
Esta intervenção do desejo é determinante na estruturação da criança. O pai e a mãe quando se tornam homem e mulher juntos provocam o fim da fusão entre a mãe e a criança e quebram assim a identificação entre o desejo e o objeto do desejo.
Isto que significa que a criança poderá tomar consciência da existência do desejo como um fato em si, uma existência independente do fato que este desejo encontre ou não satisfação na realidade exterior.
Este fim da fusão gera uma frustração para a criança e libera um espaço interior. Tal espaço fará nascer a interioridade do filho. A fusão entre o eu e o inconsciente se encontra desfeita e isto é capital para a estruturação da psique.
O pai vai ajudar a criança na constituição de uma estrutura interna. Ele vai permitir à criança ter acesso à sua agressividade: afirmação de si e capacidade para se defender, acesso à sexualidade, ao sentido de exploração assim como aptidão para a abstração e para a objetivização.
Ele facilitará igualmente sua passagem do mundo da família ao mundo da sociedade. Os homens permanecem muitas vezes presas a um modelo, cujas exigências eles não chegam a satisfazer. Este modelo consiste em uma representação ideal do pai que nos tiraniza desde o interior. Trata-se de fato de uma imagem inconsciente à qual nós tentamos responder sem nos dar conta.

Mas o que é que nos leva a agir assim?
A necessidade do pai é fundamental para a espécie humana. É uma necessidade arquetipica. Quando não é personalizada pela presença paterna, esta necessidade permanece arcaica, isto e, ligada à imagens culturais do pai tòrte, que vão do diabo ao bom deus.
Mais o pai está ausente, menos haverá chances de ser humanizado pela criança e mais a necessidade inconsciente se traduzirá em imagens primitivas. Estas imagens exercem uma pressão muito importante sobre o individuo a partir do inconsciente. Elas podem tomar então a faceta de imagens miticascomo Super Homem, Rambo ou ainda aquela de um "profeta".
Isto significa que enquanto um arquétipo não é humanizado ele permanece dividido em um par de opostos conflitivos que tiraniza o eu:
Uma imagem idealizada, portanto, distante e inacessível sugere o pai "forte", e o encontro com substitutos parciais nunca satisfatórios...por que não ideais... sugere um pai "frágil".
É a presença do pai que permite à criança unir os opostos que compõem sua psique. A humanização do pai permite ao filho conceber um mundo no qual as coisas não são somente em preto e branco. Quando os opostos podem se relacionar é possivel ver também todas as cores da vida. A presença efetiva do pai permite ao rapaz experimentar seu corpo. A base para uma identidade, para um individuo começa num corpo semelhante ao seu.
È por isto que as relações entre pai e filho na qual o pai se ocupa corporalmente de seu filho, e isto desde a mais tenra idade, favorecem a eclosão da identidade sexual. Ele descobrirá pelas brincadeiras, pelos odores de seu pai, pelo som de sua voz, a maneira que lhe trará uma DIFERENÇA com as atitudes de sua mãe.
Estes pais não são "pais-mães". Eles são justamente pais por inteiro e dão enfim uma realidade a um termo que até então não possuia sentido.
É absolutamente vital que os homens acariciem suas crianças e particularmente seus filhos. Assim eles trazem a descoberta de uma sensibilidade masculina que se manifesta a partir de si mesmos. A estima de si irá crescer para o menino que admira seu pai, mas à condição de que ele admire igualmente seu filho. Isto significa que a sensualidade não será mais proibida aos homens pois os homens também têm um corpo e sentem a necessidade como as mulheres de serem tocados para manter o seu equilíbrio e sentir que existem. Não tendo mais medo de sua sensualidade os homens não terão mais medo das mulheres. Os homens têm medo de se tornarem pais porque eles não desejam para seus filhos os tormentos que viveram, isto é, serem forçados ao dever e serem cortados em seus sentimentos.
Quando esta humanização de imagem paterna não tem lugar o filho é condenado a permanecer um "filho eterno" (puer aeternus). Ele duvidará de sua virilidade até que tome consciência daquilo que acontece com ele. Esta falta de humanização gera o fato que o homem permanece identificado com sua mãe. Ele fica numa fusão ao seu próprio inconsciente. Ele É seu desejo, seus impulsos, e não poderá senti-los como objetos interiores aos quais ele deveria obedecer necessariamente.
Esta separação permite também a separação entre natureza e cultura, pois um homem que vive fundido ao seu interior vive também fundido ao mundo exterior. Ele assume a cultura e se encontra identificado aos estereótipos existentes.
Se para ter um ar de homem é necessário ter um ar de macho, ele terá um ar de macho. Se pelo contrário um novo modo de "ser homem" pedir que manifeste a doçura ele o fará. Isto quer dizer que um homem que permanece principalmente identificado à sua mãe não tem acesso à sua própria individualidade; ele permanece joguete de seu inconsciente POR TANTO dos modelos sociais. Interiormente ele será dominado por um complexo materno. Como a mãe permaneceu um ponto de referência praticamente único para seu filho, na psique ela tomará também muito espaço.

Como mudar?
Quando um homem tem menos energia para enfrentar o mundo exterior ele se torna menos suscetível diante daquilo que os outros pensam dele ou então ele se abate completamente. Nestes dois casos ele está pronto para uma mudança. Num caso ele vai ousar tentar aquilo que nunca ousou:
AFIRMAR-SE enquanto homem e não mais como um papel social. E então ele descobrirá que aquilo que ele guardava dentro de si por medo de ser rejeitado lhe permitirá ser respeitado. Ao mostrar seu lado sombrio ele mesmo sairá da sombra. Ele não terá mais vergonha de sua infância pobre ou de ter tido um pai alcoólatra. Ele começará a compreender sua história, tomar consciência de suas motivações profundas.
Se ele não é responsável de seu destino objetivo, ele se torna responsável para tirar um sentido para sua vida.
Quando não existe mais a culpa dos outros um mundo novo se abre.
Esta tomada de consciência de nosso lado sombrio vem quebrar para sempre nosso ideal de perfeição. Nos damos conta de que nunca seremos perfeitos. De que nunca haverá vida suficiente para mudar aquilo que não gostamos em nós mesmo. Ao mesmo tempo percebemos que a mudança não pode ser concebida como uma progressão linear.
É tão importante estar aqui ou lá, de ter isto ou aquilo? Não é preferível cultivar uma atitude de aceitação global do que somos? Paradoxalmente, a mudança se torna possivel quando não faremos mais questão dela. O desligamento de si permite a uma pessoa saborear profundamente sua existência. O) desligamento não cria um distanciamento da vida, ele permite de se jogar nela profundamente.
No caso de desânimo ele tentará comunicar sua dor a outros homens, tentará ser aceito, poderá talvez, reencontrar a criança nele para chegar enfim a renascer como um homem individualizado.

A terapia
A psicoterapia é um dos meios mais em voga para poder resolver os problemas psicológicos. Pode se tratar da psicanálise junguiana, da psicanálise propriamente dita ou ainda outro método terapêutico: não existe um método mágico. Não pode haver maturação psicológica sem um longo e lento trabalho sobre si.
Se uma terapia breve pode acalmar uma crise, não se pode esquecer que o objetivo a longo prazo de toda terapia que se respeite é o desenvolvimento junto ao indivíduo de uma capacidade de relação espontânea consigo mesmo e com os outros. É portanto ilusório pensar que pode corrigir em alguns meses aquilo que levou anos para se cristalizar. Mas qual terapeuta escolher? Um homem ou uma mulher? Em nosso caso, já que se trata da identidade masculina eu diria um homem. Mas pode ser que a relação de um homem com seu pai esteja de tal maneira danificada que ele nutre uma desconfiança tal em relação ao homem que seja preferível que ele comece com uma mulher. Por outro lado, para ser eficaz uma terapia deve tocar durante um tempo o mundo das emoções. Ela deve perturbar em sentido do agradável ou desagradável. Se ela não perturbar deve se mudar de terapeuta. Muitas vezes as pessoas me perguntam o que devem fazer. Não se trata disto. Deve se deixar trabalhar pelas diferentes figuras que habitam em nós. Deixando emergir aquilo que existe em si, abandonando-se mais e mais a isso se encontra a essência daquilo que faz com que nossa existência seja única.
A terapia visa explorar o mundo psíquico e esta exploração tem por meta o estabelecimento de uma relação viva consigo mesmo.
Ela não tem por meta a perfeição.
A maior das melhorias é aquela que permite se amar tal qual se é. Trata-se, portanto, de uma mudança de atitude interior muito mais que uma mudança de comportamento. A terapia deve permitir de atenuar a subjetividade exercida vis-a - vis de si mesmo. Esclarecer suficientemente sua vida pessoal e seus impulsos próprios para realizar a estrutura comum e universal. O desligamento de si mesmo permite ao individuo de ser livre dele mesmo.
Ele pode mergulhar em todas as realidades de sua vida e ter prazer de ser humano.

Texto tirado da internet: www.cybercable.tm.fr/~symbol/
Tradução para fins pedagógicos com licença do autor.
Vitor Pedro Calixto dos Santos
Curitiba, 18 de setembro de 1997

Fonte:

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A importância dos leigos na III Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM) - PUEBLA

A III Conferência Episcopal latino-Americana em Puebla no México sublinha a importância da Igreja particular e sobretudo as comunidades eclesiais de base. Na ocasião, Puebla acentua o papel dos bispos em se comprometerem em promover, orientar e acompanhar segundo o espírito de Medellín e os critérios de Evangelii nuntiandi; a relação de comunhão entre os diversos membros da Igreja; valorizando decididamente os leigos e as mulheres, e situá-los nos ministérios eclesiais no horizonte da missão.
Ao compreender o povo de Deus como sacramento universal de salvação, “está inteiramente a serviço da comunhão dos homens com Deus e do gênero humano entre si. A Igreja é, portanto, um povo todo ministerial. Seu modo próprio de servir é evangelizar; é um serviço que só ela pode prestar. Determina sua identidade e a originalidade de sua contribuição[1].” A evangelização, com efeito, é o grande ministério ou serviço que a Igreja presta ao mundo[2].
O Documento de Puebla a importância da função ministerial presente na Igreja. “Desde o princípio, houve na Igreja diversidade de ministérios, cuja finalidade é a evangelização. Os escritos do Novo Testamento revelam a vitalidade da Igreja, que se manifestou em múltiplos serviços. Assim, São Paulo menciona, entre outros, os seguintes: a profecia, a diaconia, o ensino, a exortação, o dar esmolas, o presidir, o exercício da misericórdia; e, em outros contextos, fala de ministérios como as palavras da sabedoria, do discernimento de espíritos e alguns outros. Em outros escritas da Novo Testamento, descrevem-se igualmente vários ministérios[3]”.
Ao enfatizar uma Igreja que manifesta sua vida de comunhão e participação a serviço evangelizador nos diversos aspectos no cotidiano da vida do homem, constata-se o exercício dos ministérios ordenados, como o diaconato permanente, não ordenados e outros serviços, como os de proclamadores da Palavra e animadores de comunidades. Nota-se também uma melhoria na colaboração entre sacerdotes, religiosos e leigos[4]. Puebla, apoiando-se na Evangelii nuntiandi, afirma que: “É o Espírito Santo que está suscitando hoje na Igreja 'uma diversidade de ministérios, também exercidos por leigos, capazes de rejuvenescer e reforçar o dinamismo evangelizador da Igreja (EN73) [5]”.
Com efeito, todos são chamados a corresponder a uma vocação que lhe permita um amadurecimento eclesial. “Optar por uma vocação ministerial e evangelizadora na Igreja não é coisa que dependa exclusivamente da iniciativa pessoal. Primordialmente, é chamamento gratuito de Deus, vocação divina, que se deve perceber graças a um discernimento, escutando o Espírito Santo e colocando-se diante do Pai, por Cristo, e diante da comunidade concreta e histórica à qual se há de servir. Outrossim, é fruto e expressão da vitalidade e madureza de toda a comunidade eclesial[6]”.
De acordo com a vocação que lhe compete, o documento de Puebla afirma: “A Igreja, para o cumprimento de sua missão, conta com diversidade de ministérios. Ao lado dos ministérios hierárquicos, a Igreja reconhece um lugar aos ministérios não ordenados. Portanto, também os leigos podem sentir-se chamados ou ser chamados a colaborar com seus pastores no serviço à comunidade eclesial, para o crescimento e a vida da mesma, exercendo ministérios diversos, conforme a graça e os carismas que ao Senhor aprouver conceder-lhes (EN73) [7]”. A diversidade de ministérios, estendidos também aos leigos, confiava uma responsabilidade e um reconhecimento maior a eles conferido. São “serviços realmente importantes na vida eclesial (p. ex., no plano da Palavra, da liturgia ou da direção da comunidade), exercidos por leigos com estabilidade e que foram reconhecidos publicamente e a eles confiados por quem tem a responsabilidade na Igreja”.[8]
Os bispos presentes em Puebla ratificam a importância dos ministérios conferidos aos leigos, porém acentuam também a importância em identificar o papel de cada cristão inserido na Igreja de acordo com a vocação e a aptidão de cada um. “Não clericalizam aqueles que os recebem: estes continuam sendo leigos com uma missão fundamental de presença no mundo; requer-se uma vocação ou aptidão ratificada pelos pastores; orientam-se para a vida e crescimento da comunidade eclesial, sem perder de vista o serviço que esta deve prestar no mundo; são variados e diversos, de acordo com os carismas dos chamados e as necessidades da comunidade; esta diversidade, porém, deve coordenar-se de acordo com sua relação com o ministério hierárquico[9].”
Por isso, em relação, ao exercício desses ministérios, Puebla alerta para os perigos que devem ser evitados: “(a) a tendência à clericalização dos leigos ou a de reduzir o compromisso leigo àqueles que recebem ministérios, deixando de lado a missão fundamental do leigo, que é a sua inserção nas realidades temporais e em suas responsabilidades familiares; (b) não se devem promover tais ministérios como estímulo puramente individual, fora dum contexto comunitário; (c) O exercício de ministérios por parte de alguns leigos não pode diminuir a participação ativa dos demais[10]”.
Por fim, a III Conferência Episcopal Latino-Americana enfatiza o papel da mulher presente na Igreja. As mulheres teriam assumido (e ainda assumem) a maior parte dos ministérios nas Igrejas locais. Puebla lembra a participação da mulher na historia da salvação e a participação dela na missão da Igreja. A aptidão da mulher é visível desde em organismos de planejamento, coordenação pastoral, catequese e etc[11]. É o leigo, representado pela força feminina, que aumenta a atividade eclesial.



[1] Puebla, 270
[2] Ibid, 679
[3] Ibid, 680
[4] Ibid, 625
[5] Ibid, 858
[6] Ibid, 860
[7] Ibid, 804
[8] Ibid, 805
[9] Ibid, 811-814
[10] Ibid, 815-817
[11] Ibid, 841-845