Não se sabe. Pelo menos nenhum texto dos Atos ou
das Cartas o refere. Mas se nos fizessem a pergunta, e sem pensar muito, quase
todos diríamos que sim. Simplesmente porque a tradição iconográfica representou
o Apóstolo dessa maneira, e numa intensidade tão impressiva, que estávamos
prontos a jurar ter lido em qualquer passo acerca dele. Há, de facto, um
inesquecível cavalo, mas nas imagens de Dürer, Miguel Ângelo, Tintoretto,
Rubens, Parmigianino… - uma lista interminável! Frequentemente referido é o da pintura
de Caravaggio, intitulada "Conversão de São Paulo": Paulo surge caído
por terra, com os braços abertos e levantados, como quem acolhe o invisível; os
olhos completamente cerrados, ligados agora a outro entendimento. E, no centro,
um cavalo imenso, a deslocar-se suavemente para fora de cena, como se não fosse
já necessário, ou adivinhasse que começava, precisamente aqui, outro tipo de
viagens para o seu cavaleiro derrubado. Se o texto bíblico não alude à presença
de um cavalo, como se chegou a essa representação? Há um motivo que joga com
aquilo que o relato não diz, mas que é previsível (de facto, o cavalo seria um
meio de transporte utilizado). E há uma importante razão simbólica. O texto de Atos
9 conta que Paulo "respirava ameaças e mortes contra os discípulos do
Jesus" e foi pedir ao Sumo Sacerdote "cartas para as sinagogas de
Damasco, a fim de que, se encontrasse homens e mulheres que fossem desta Via,
os trouxesse algemados para Jerusalém". O seu retrato é, portanto, o de um
homem investido de força, acorrentado a uma convicção implacável. Ora o que a
narrativa vai, em seguida, mostrar é a prostração e a fragilidade de uma
personalidade assim perante a revelação de Jesus ("Saulo, Saulo, porque me
persegues?"). Os textos bíblicos não dizem que Paulo tombou de um cavalo,
apenas que "caiu por terra". Mas interpretando a reviravolta que este
encontro provocou, artistas e comentadores espirituais não hesitaram em
enfatizar esta queda. A globalidade da história de Paulo mostra que estão
certos.
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