MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A XXIX JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
PARA A XXIX JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(Domingo de Ramos, 13 de Abril de
2014)
«Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)
Felizes os pobres em espírito…
A primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude,
declara felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo
em que muitas pessoas penam por causa da crise económica, pode parecer
inoportuno acostar pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a
pobreza como uma bênção?
Em primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em
espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza,
de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós
os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina,
não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si
mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2,
5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza
feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza
(cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de
Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu
ápice.
O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas
material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de
anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos
próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim
confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.
Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua
Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O
Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus»
(n. 2559) e diz-nos que a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa (n.
2560).
São Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos
pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no
Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade.
Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor:
«Quem és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para
desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à
letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo
indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.
Posto isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer
com que esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida
concretamente na nossa existência? Respondo-vos em três pontos.
Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor
chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade,
chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade,
aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam.
Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois
esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das
idolatrias que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele
conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do campo
(cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para superar
a crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de vida, a evitar
tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da felicidade, também é precisa
a coragem da sobriedade.
Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de
conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas
carências espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a
tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e
novas formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos
mais variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e conscientes,
vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também naqueles que não se sentem
amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida
porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar
com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres!
Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres
são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a sua
carne sofredora.
Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos
apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar.
Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do
século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas
da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo
nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para nós.
Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante que tem
na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva sempre a
sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a
confiança em Deus. Na parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18,
9-14), Jesus propõe este último como modelo, porque é humilde e se reconhece
pecador. E a própria viúva, que lança duas moedinhas no tesouro do templo, é
exemplo da generosidade de quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo (Lc
21, 1-4).