domingo, 2 de fevereiro de 2014

“ DESCENDIT AD INFERNA ”: UMA ANÁLISE DA EXPRESSÃO “DESCEU AO HADES” NO CRISTIANISMO HISTÓRICO

A expressão “desceu ao Hades,” com referência a Cristo, não é encontrada em nenhum lugar das Escrituras. Afirma-se que o Redentor “desceu às regiões inferiores, à terra” (Ef 4.9), mas não que ele desceu a um lugar chamado Hades depois de sua morte e sepultamento. Todavia, essa expressão apareceu em dois credos da igreja cristã antiga, ainda que com palavras diferentes. A primeira ocorrência está no Credo Apostólico, que tem a expressão latina “descendit ad inferna” (desceu aos infernos/Hades), e a outra encontra-se no Credo de Atanásio, com a expressão latina “ descendit ad inferos” (desceu às regiões inferiores).

A expressão “desceu ao Hades,” que aparece no Credo Apostólico, não faz parte das suas formas mais antigas. Ele sofreu alterações posteriores, uma das quais foi a expressão acima. Witsius afirma: É digno de nota que, antigamente, aqueles credos que possuíam o artigo sobre a descida de Cristo ao inferno, não continham o artigo relativo ao seu sepultamento, e aqueles nos quais o artigo com respeito à descida ao inferno foi omitido, de fato continham o artigo relativo ao sepultamento. Rufino, o bispo da igreja de Aquiléia, fez alguns comentários sobre o Credo Apostólico em sua Expositio Symboli Apostolici, por volta do final do século IV, dizendo que essa cláusula nunca foi encontrada nas edições romanas (ou ocidentais) do credo. Rufinus acrescenta que a intenção da alteração do Credo em Aquiléia não foi a de acrescer uma nova doutrina, mas a de explicar uma antiga e, portanto, o credo de Aquiléia omitiu a cláusula “foi crucificado, morto e sepultado” e a substituiu por uma nova cláusula, “descendit ad inferna."
 
Portanto, originalmente a expressão descendit ad inferna não fazia parte do Credo Apostólico. No tempo de Rufino, ela apareceu inserida no Credo, mas não como umacréscimo ao que já havia, sendo apenas uma expressão substitutiva de “crucificado, morto e sepultado.” O Credo de Atanásio (escrito por volta do século V ou VI) segue mais ou menos a mesma idéia do Credo de Aquiléia, onde a expressão “desceu ao Hades” substitui a expressão “sepultado,” não sendo um acréscimo a ela. Até então, não havia nenhuma modificação significativa na doutrina cristã com respeito à situação da pessoa do Redentor ao morrer, pelo menos nas traduções mais conhecidas do Credo.

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