A expressão “desceu ao Hades,”
com referência a Cristo, não é encontrada em nenhum lugar das Escrituras.
Afirma-se que o Redentor “desceu às regiões inferiores, à terra” (Ef 4.9), mas
não que ele desceu a um lugar chamado Hades depois de sua morte e sepultamento.
Todavia, essa expressão apareceu em dois credos da igreja cristã antiga, ainda
que com palavras diferentes. A primeira ocorrência está no Credo Apostólico,
que tem a expressão latina “descendit ad inferna” (desceu aos infernos/Hades),
e a outra encontra-se no Credo de Atanásio, com a expressão latina “ descendit
ad inferos” (desceu às regiões inferiores).
A expressão “desceu ao Hades,”
que aparece no Credo Apostólico, não faz parte das suas formas mais antigas.
Ele sofreu alterações posteriores, uma das quais foi a expressão acima. Witsius
afirma: É digno de nota que, antigamente, aqueles credos que possuíam o artigo
sobre a descida de Cristo ao inferno, não continham o artigo relativo ao seu sepultamento,
e aqueles nos quais o artigo com respeito à descida ao inferno foi omitido, de
fato continham o artigo relativo ao sepultamento. Rufino, o bispo da igreja de
Aquiléia, fez alguns comentários sobre o Credo Apostólico em sua Expositio
Symboli Apostolici, por volta do final do século IV, dizendo que essa cláusula
nunca foi encontrada nas edições romanas (ou ocidentais) do credo. Rufinus
acrescenta que a intenção da alteração do Credo em Aquiléia não foi a de
acrescer uma nova doutrina, mas a de explicar uma antiga e, portanto, o credo
de Aquiléia omitiu a cláusula “foi crucificado, morto e sepultado” e a substituiu
por uma nova cláusula, “descendit ad inferna."
Portanto, originalmente a
expressão descendit ad inferna não fazia parte do Credo Apostólico. No tempo de
Rufino, ela apareceu inserida no Credo, mas não como umacréscimo ao que já
havia, sendo apenas uma expressão substitutiva de “crucificado, morto e
sepultado.” O Credo de Atanásio (escrito por volta do século V ou VI) segue
mais ou menos a mesma idéia do Credo de Aquiléia, onde a expressão “desceu ao
Hades” substitui a expressão “sepultado,” não sendo um acréscimo a ela. Até
então, não havia nenhuma modificação significativa na doutrina cristã com
respeito à situação da pessoa do Redentor ao morrer, pelo menos nas traduções
mais conhecidas do Credo.
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