"O olhar de Maria
sobre o mundo contemporâneo" convida a refletir, por assim dizer, com o
olhar da Virgem Santa sobre as vicissitudes felizes e tristes do nosso tempo. O
olhar de Maria fixa antes de tudo a Santíssima Trindade no mistério de amor
inefável que une indissoluvelmente as três Pessoas divinas. Contemplando o Pai,
o Verbo e o Espírito Santo, a Virgem sente-se como que projetada para a
humanidade, para exercer, em relação a cada ser humano, a missão materna que
lhe foi confiada pelo Filho crucificado (cf. Jo 19, 25-27). Maria vela sobre o
mundo, onde os seus filhos, tendentes para a pátria bem-aventurada, percorrem o
caminho da fé entre muitos perigos e afãs (cf. Lumen gentium, 62).
A Virgem Santa torna-se
presente, como mãe solícita, "ao longo desta caminhada-peregrinação
eclesial, através do espaço e do tempo e, mais ainda, através da história das
almas" (Redemptoris Mater, 25). Ao seu olhar materno não passa
despercebida qualquer situação da Igreja, de cada fiel individualmente e de
toda a família humana.
Comemorando a coroação
da imagem de Nossa Senhora das Dores, reparamos especial e naturalmente no
"olhar" que a Virgem, presente no Calvário, dirige para Cristo
Crucificado, o qual, do alto da Cruz, a convida a abrir o seu coração materno
ao discípulo amado: "Mulher, eis aí o teu filho" (Jo 19, 26). Naquele
momento, depois de ter partilhado a paixão do Unigénito, a Mãe de Deus torna-se
Mãe de João, Mãe de toda a humanidade (cf. Jo 19, 26-27).
Maria, com o coração
trespassado pela lança do sofrimento, encoraja-nos a reanimar a fé n'Aquele que
nos salvou, derramando o seu sangue precioso por todos os homens; indica-nos
Jesus como o único Salvador predito e anunciado desde o nascimento como
"luz para se revelar às nações e glória de Israel" (Lc 2, 32).
Então, podemos dizer
que a Virgem das Dores é, num certo sentido, "causa de salvação para si e
para todo o género humano" (S. Ireneu, Contra as heresias, III, 22, 4). O
seu amor materno serve-nos de estímulo para abrirmos o coração aos sofrimentos
do próximo e sobretudo dos que procuram respostas válidas para as questões
profundas da existência.
Que a Virgem Santa nos
ajude a compreender a maneira de testemunhar na vida quotidiana a própria fé em
Cristo e os meios adequados para trabalhar eficazmente na difusão do Evangelho,
permanecendo sempre fiel às inspirações do Espírito Santo e disponível para
cumprir a vontade do Senhor.
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