terça-feira, 8 de agosto de 2017

Festa do Senhor Bom Jesus

“Meu povo, o que de mal eu te fiz ou em que te contristei? Responde-me!”
(Do tradicional canto dos “Lamentos do Senhor” da Sexta-feira da Paixão)

Deus é bom! E aplicar o adjetivo “bom” a Cristo nada mais é do que reconhecê-lo como imagem do Deus invisível, isto é, atestar nossa fé na divindade de Jesus, Filho Unigênito do Pai. O próprio Jesus nos desafia, como aquele homem rico do Evangelho, a perceber que Ele é Deus; e, se Deus é bom, o Cristo é a bondade do Pai entre nós, o BOM Jesus: “Só Deus é bom, e ninguém mais” (Lc 18,19). A bondade divina revelada em Jesus, o Senhor, enviado pelo Pai para dar a vida em benefício de nossa humanidade pecadora, levou o povo de Deus, em sua sábia piedade, a chamá-lo de SENHOR BOM JESUS.

Surge, então, a devoção popular ao Cristo da Paixão, Servo Sofredor, com grande ressonância em Portugal, na Espanha, na Itália e, mais tarde, a partir do período colonial, na América Latina. Daí decorrem inúmeros “títulos” acrescidos à invocação “Senhor Bom Jesus”, recordando os momentos de seu martírio: a agonia (Senhor Bom Jesus do horto, das oliveiras); a flagelação (da coluna, da pedra fria, da paciência); a sua apresentação por Pilatos ao povo com a expressão latina “Ecce homo” – “Eis o homem!” – (da cana verde, do livramento, dos aflitos, da boa sentença, da prisão, Santo Cristo dos milagres); o caminho para o Calvário (dos Passos); a crucificação (do bonfim, da lapa, de matosinhos, da boa morte, do descimento, da pobreza, da agonia, dos remédios, dos montes) e, finalmente, o sepultamento (Senhor Morto). Evidentemente, todas as representações iconográficas (imagens) desses “títulos” do Senhor Bom Jesus apresentam suas particularidades e aludem ao episódio bíblico que retratam ou aos atributos e adornos que o Cristo traz ou com os quais é revestido (o manto de cor púrpura, a cana e a coroa de espinhos, por exemplo). A invocação, ainda, pode conter o nome dos lugares onde a devoção se desenvolveu: Cangaíba, Brás, Jd. das Oliveiras, Guarulhos, Pirapora, Iguape, Tremembé, Perdões, Itu, Arujá, Mairiporã, Paranapiacaba, Lapa, Bonfim, Matosinhos, Açores, Braga, Buga etc. Fogem a essas características que evocam o drama da Sexta-feira Santa o “Senhor Bom Jesus de Nazaré” e algumas imagens do “Senhor Bom Jesus dos Navegantes”.

As devoções e as imagens do Cristo sofredor, tão evidentes no período quaresmal e nas solenidades da Semana Santa, ganham visibilidade também fora desse tempo, quando se dão as Festas em honra do Senhor Bom Jesus, que, embora cultuem a Paixão do Salvador, estão desprovidas daquele espírito de recolhimento e luto próprio desde as Cinzas até a Sexta-feira Santa. Pelo contrário, tais Festas revestem-se de um efusivo sentimento de alegria popular (por vezes até se distanciando do religioso e “esbarrando” naquilo que é profano durante as comemorações de rua).

Com raras exceções, as Festas do Senhor Bom Jesus, tão tradicionais e cheias de lendas, “causos” e pagamento de promessas, se dão aos 06 de agosto ou aos 14 de setembro. E há razões teológicas para isso, além, é claro, de uma série de motivações históricas. 06 de agosto é a Festa Litúrgica da “Transfiguração do Senhor”. Ora, a Transfiguração de Cristo já prefigurava a sua Ressurreição, mas era necessário que Ele, primeiramente, passasse pela paixão e morte que teriam lugar em Jerusalém, tal como conversavam Elias e Moisés com o Mestre no Monte Tabor. Isso nos permite estabelecer uma correlação entre o Cristo glorioso (transfigurado) e o Cristo padecente (desfigurado) – o “Senhor Bom Jesus”. Já em 14 de setembro, é celebrada a Festa Litúrgica da Exaltação da Santa Cruz. Por razões óbvias, a essência dessa comemoração da Liturgia vai ao encontro do culto popular ao Cristo crucificado, o “Senhor Bom Jesus”. Ademais, o Senhor Bom Jesus dos Passos e o Senhor Morto são reverenciados, mormente, durante as procissões quaresmais ou da Semana Santa.

Acorramos, pois, peregrinos e penitentes, em romarias ou solitariamente, às catedrais, às basílicas, aos santuários, às matrizes, às capelas e aos altares dedicados ao Senhor Bom Jesus, por vezes erigidos em regiões altaneiras, mais próximas do céu e convidativas à oração! E diante das suas venerandas imagens, comumente milagrosas (como em Pirapora, Iguape, Tremembé, Perdões ou Monte Alegre do Sul), encontremos, apesar de suas feições tão queixosas e agonizantes, a bondade de Deus feito homem, que, tendo passado pela cruz nesta vida, conforta-nos, acolhe ternamente e dá esperança, a nós que também padecemos neste mundo, recordando-nos que, com Ele, chegaremos à Ressurreição! Eis aí fascínio que o Senhor Bom Jesus exerce sobre seu povo mais oprimido, todavia cheio da alegria do Evangelho!



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quinta-feira, 27 de julho de 2017

História de Santa Ana e São Joaquim


Santa Ana ou Sant’Ana (latim Anna, e este do hebraico Hhannah-Graça) foi mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo. Santa Ana é aquela privilegiada criatura que Deus escolheu, para ser na terra, Mãe da Virgem Imaculada. Ana depois de São José, foi a criatura que mais perto esteve do Verbo Encarnado.
De Sant’Ana bem pouco nos dizem a história e a Sagrada Escritura, mas basta sabermos, para compreendermos quem ela é, e quão grande é o seu poder, basta-nos só isso: É a Mãe da Mãe de Jesus, a avó de Jesus Cristo.
Louvamos a Sant’Ana porque é a Mãe da Mãe de Deus. Não se pode fazer uma ideia mais elevada, mais exata do mérito e das virtudes extraordinárias de Sant’Ana, do que dizendo e meditando esta verdade: Ela deu ao mundo a mãe do Filho de Deus encarnado.
 Os dados biográficos que sabemos sobre os pais da Bem-Aventurada Virgem Maria nos foram legados pelo Protoevangelho de Tiago, obra citada em diversos estudos dos padres da Igreja Oriental, como Epifânio e Gregório de Nissa.
Sant'Ana, cujo nome em hebraico significa graça, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim pertencia à família real de Davi.

São Joaquim, homem pio fora censurado pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Sant’Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces, tendo voltado ao lar, algum tempo depois Sant’Ana ficou grávida. A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade levaram-lhes ao prêmio de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de Deus.
 Ana e Joaquim residiam em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesaida, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; e em um sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam que em hebraico significa Senhora da Luz, traduzido para o latim como Maria. A criança foi oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos.
 A devoção aos pais de Nossa Senhora é muito antiga no Oriente, onde foram cultuados desde os primeiros séculos de nossa era, atingindo sua plenitude no século VI. Já no Ocidente, o culto de Santana remonta ao século VIII, quando, no ano de 710, suas relíquias foram levadas da Terra Santa para Constantinopla, donde foram distribuídas para muitas igrejas do Ocidente, estando a maior delas na igreja de Sant’Ana, em Düren, Renânia, Alemanha.
 No ano de 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant’Ana em 26 de julho. Na década de 1960 o Papa Paulo VI juntou a esta data a comemoração de São Joaquim. Por isso, no dia 26 de julho comemora-se também o “Dia dos Avós”. Santana é a padroeira dos avós, mas também é invocada pelas mulheres que não conseguem engravidar. Santana é também a padroeira da educação, tendo educado Nossa Senhora e influenciado profundamente na educação de Jesus.
 Santa Ana, que é avó de Jesus sabe dar o carinho e atenção das avós, conhece o aconchego que só as avós podem dar aos netos. Por isso, recorramos a Sant Ana com confiança. Com a mesma confiança que nos aproximamos de nossas tão queridas avós para pedir as graças que precisamos.

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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Pantocrator

O tipo iconográfico de Cristo Pantocrator é um dos mais significativos da iconografia oriental, e também o mais difundido, a ponto de se tornar quase o único tipo de Cristo que se encontra não só nas cúpulas e nas absides das igrejas, mas também sobre selos, moedas, marfins, evangeliários e outros objetos litúrgicos; é encontrado nas cenas históricas que representam Cristo nos diversos momentos da sua vida de adulto, nos diversos milagres que constelam a sua missão na Palestina da época; é encontrado sobretudo em inúmeros ícones oferecidos à veneração dos fiéis nas iconostases das igrejas e nas casas particulares. Quer esteja presente em mosaico, em afresco ou em ícones grandes ou pequenos, o tipo transmite, ao menos do século VI em diante, a mesma e idêntica figura de Cristo, reconhecível mesmo quando faltam as inscrições que normalmente devem acompanhá-la; e isso até os nossos dias.

O Cristo representado em todos os ícones é o Cristo adulto, com trinta anos de idade mais ou menos. Distingue-se pela mesma estatura do corpo, os mesmos traços somáticos - em especial os do rosto -, as mesmas roupas: todos esses traços que convergem num retrato ressaltam a sua figura histórica real; outros traços, como os símbolos e as inscrições, têm valor de retrato espiritual que põem em destaque a sua realidade de pessoa atualmente viva, transfigurada, divina e salvífica.

O ícone transmite, assim, o dogma cristológico das duas naturezas humana e divina - unidas na única Pessoa do Verbo: Filho de Deus e Deus ele próprio, consubstancial ao Pai.

No Novo Testamento, o termo se encontra referido preponderantemente ao Pai, mas já no Apocalipse refere-se indiretamente também ao Verbo encarnado, Redentor e Juiz universal (cf. Ap 11, 17; 21, 22). Nas suas Cartas, os apóstolos Pedro e Paulo propõem o tema do domínio absoluto de Cristo sobre toda a criação. «Jesus Cristo» - escreve Pedro -, «tendo subido ao céu, está à direita de Deus, estando-lhe sujeitos os anjos, as Dominações e as Potestades» 1Pd 3, 22). São Paulo, por sua vez, fala da «submissão de todas as coisas» (1Cor 15, 28) ao Cristo ressuscitado, afirmando que «para isto Cristo morreu e reviveu: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos» (Rm 14, 9).
A esse tipo de imagem de Cristo é dado o nome genérico de «Pantocrator» tão rico de significados. O termo grego, traduzido geralmente por «Onipotente», mas que é melhor traduzir pela expressão «Oniregente», ou «Aquele que tudo rege», é um termo que se encontra já na literatura pagã. É encontrado na versão grega dos Setenta que o retoma para traduzir a expressão «Sabaoth», conferindo-lhe o significado de Deus «Dominador de todas as potências terrestres e celestes».

o Pantocrator é representado quase sempre em busto, mas pode ser também em meio busto ou de corpo inteiro; neste último caso ele está, as mais das vezes, sentado no trono e rodeado, às vezes, pelas hierarquias celestes, que sublinham sua majestade divina. Caracteriza-se pela auréola crucífera; pela mão direita que abençoa «à maneira grega»; e pela esquerda que segura um livro aberto ou fechado, ou mesmo um rolo. Quando o livro está aberto, o versículo evangélico que nele aparece é, as mais das vezes: «Eu sou a luz do mundo». Mas podem também aparecer outros versículos previstos nos manuais de pintura e deixados à escolha do hagiógrafo ou do comitente, como vamos ver. Os traços somáticos que distinguem a imagem do Pantocrator são aqueles típicos que encontramos nas descrições literárias, embora com algumas variantes menores.

A estatura do corpo é a tradicional, já fixada no séc. VI, no tempo de Justiniano. O rosto, para a tradição oriental, é o do Mandilion, considerado impresso pelo próprio Cristo na toalha enquanto ainda vivia. Os traços podem ser resumidos assim: rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos voltados para o espectador, nariz longo e delicado, a barba bastante longa terminando em ponta arredondada, bigode caído, cabelos ondulados que formam como uma cúpula sobre o alto da cabeça e são depois recolhidos à altura das orelhas e descem sobre os ombros (essa cabeleira é chamada, segundo Capizzi, «tipo capacete»). No alto da fronte -larga e alta - destacam-se muitas vezes, da cabeleira, dois, três ou mais cachos, cuja presença, atestada só para a imagem de Cristo, tem sido diversamente interpretada. As roupas que cobrem o corpo de Cristo são constituídas de três peças, as mesmas usadas na Palestina no tempo de Cristo: a túnica vestida diretamente sobre o corpo, o manto, e as sandálias, presas ao tornozelo por tiras de couro.

A mão direita, que desponta sob o manto, geralmente está erguida fazendo o gesto de bênção «à maneira grega». A mão esquerda segura um rolo, mas com maior freqüência um livro: o dos Evangelhos que contêm a Palavra do Verbo. O livro pode estar fechado ou aberto. Neste último caso nele estão escritas citações escolhidas pelo iconógrafo ou pelo comitente.

O corpo de Cristo se destaca no fundo dourado, chamado na iconografia grega «céu», para indicar que a pessoa representada se encontra agora na glória do céu. A auréola, chamada «coroa» e também «glória», desenhada com traço fino sobre o mesmo fundo dourado, é sinal da santidade do personagem. Em todas as imagens de Cristo, na auréola estão desenhados três braços de uma cruz; esta, que se tornou comum no decurso do séc. VI desde o tempo de Justiniano, é uma clara alusão à dimensão salvífica da personagem representada.

Por fim, sobre o ícone estão presentes inscrições, cuja finalidade é chamar a atenção para a identidade divina e ao mesmo tempo humana da personagem representada. Algumas inscrições, obrigatórias, são constituídas dos dois digramas do nome de Cristo IC XC, para Jesus Cristo, e do sagrado trigrama do nome de Deus revelado a Moisés no Sinai: Ο ΩΝ («Eu sou o Existente», Ex 3, 14), e inserido nos três braços visíveis da cruz introduzida na auréola. Essas inscrições são sempre em grego. As outras inscrições, facultativas, são: o nome acrescentado e as frases no livro quando este está aberto.

Fonte: Pantocrator


segunda-feira, 27 de março de 2017

Domingo Laetare e a Rosa de Ouro

Durante a liturgia do domingo Laetare, o Papa segurava com a mão esquerda, depois de a ter benzido, uma rosa de ouro que em seguida depositava sobre o altar. Segundo a tradição, o Papa benzia a rosa de ouro no quarto domingo da Quaresma, durante o qual se canta Laetare Hierusalem . Destinada depois a ser oferecida pelo próprio Pontífice, imediatamente após a celebração da missão, a um príncipe, se estivesse presente no rito sagrado, ou a ser enviada a alguma personalidade ou instituição depois da consulta dos cardeais.
Originariamente, a rosa de ouro indicava principalmente alegria e júbilo pela Páscoa já iminente, e tinha um profundo significado cristológico, enquanto — como recitava a oração de bênção — ela representava o lírio dos vales, a flor dos campos: ou seja, Cristo. Era ao único Senhor que se pedia que a Igreja, por meio das boas obras, pudesse associar-se à fragrância daquela flor e difundir o bom perfume de Cristo no mundo.
Assim, àqueles que a recebiam como dom era reconhecida a tarefa de transmitir o bom perfume de Cristo, mediante a própria vida e as obras ao serviço da Igreja. Também a oferta da mesma a uma igreja ou a um santuário mariano reconduzia ao mesmo significado: levar Cristo ao mundo.
Genuflexo aos pés do Sumo Pontífice, o destinatário recebia o dom com as seguintes palavras: Accipe rosam de manibus nostris, qui licet immeriti locum Dei in terris tenemus, per quam designatur gaudium utriusque Hierusalem, triumphantis scilicet et militantis Ecclesiae, per quam omnibus Christi fidelibus manifestatur flos ipse speciosissimus, qui est gaudium, et coronam sanctorum omnium suscipe hanc tu dilectissime fili, qui secundum saeculum nobilis, potens ac multa virtute praeditus es, ut amplius omni virtute in Christo Domino nobiliteris tamquam rosa plantata super rivos aquarum multarum, quam gratiam ex sua ubertati clementia tibi concedere dignetur, qui es trinus et unus in saecula saeculorum. Amen. In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti
(«Recebe das nossas mãos, como indigno vigário de Cristo sobre a terra, a rosa, com a qual se torna manifesto o júbilo das duas cidades de Jerusalém, tanto da Igreja triunfante como daquela militante, e pela qual a todos os fiéis de Cristo significou Ele mesmo, a flor mais esplendorosa, que constitui a alegria e coroa de todos os santos: aceita-a Tu, ó dilectíssimo filho, que na terra és nobre, poderoso e rico de virtudes, a fim de que, como a rosa plantada ao longo de abundantes cursos de água, assim todas as tuas virtudes sejam enobrecidas em Cristo Senhor. A ti, a partir da sua clemência infinita, se digne conceder tal graça, Aquele que é Uno e Trino nos séculos dos séculos. Amém. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»).


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Festa litúrgica - Apresentação do Senhor

Embora esta festa de 2 de fevereiro caia fora do tempo de natal, é parte integrante do relato de natal. É uma faísca do natal, é uma epifania do quadragésimo dia. Natal, epifania, apresentação do Senhor são três painéis de um tríptico litúrgico.
É uma festa antiqüíssima de origem oriental. A Igreja de Jerusalém já a celebrava no século IV. Era celebrada aos quarenta dias da festa da epifania, em 14 de fevereiro. A peregrina Eteria, que conta isto em seu famoso diário, acrescenta o interessante comentário de que se "celebrava com a maior alegria, como se fosse páscoa"'. De Jerusalém, a festa se propagou para outas igrejas do Oriente e do Ocidente. No século VII, se não antes, havia sido introduzida em Roma. A procissão com velas se associou a esta festa. A Igreja romana celebrava a festa quarenta dias depois do natal.
Entre as igrejas orientais esta festa era conhecida como "A festa do Encontro" (em grego, Hypapante), nome muito significativo e expressivo, que destaca um aspecto fundamental da festa: o encontro do Ungido de Deus com seu povo. São Lucas narra o fato no capítulo 2 de seu evangelho. Obedecendo à lei mosaica, os pais de Jesus o levaram ao templo quarenta dias depois de seu nascimento para apresentá-lo ao Senhor e fazer uma oferenda por ele 1.
Esta festa começou a ser conhecida no Ocidente, a partir do século X, com o nome de Purificação da bem-aventurada virgem Maria. Foi incluída entre as festas de Nossa Senhora. Mas isto não totalmente correto, já que a Igreja celebra neste dia, essencialmente, um mistério de nosso Senhor. No calendário romano, revisado em 1969, o nome foi mudado para "A Apresentação do Senhor". Esta é uma indicação mais verdadeira da natureza e do objeto da festa. Entretanto, isso não quer dizer que subestimemos o papel importantíssimo de Maria nos acontecimentos que celebramos. Os mistérios de Cristo e de sua mãe estão estreitamente ligados, de maneira que nos encontramos aqui com uma espécie de celebração dupla, uma festa de Cristo e de Maria.
A bênção das velas antes da missa e a procissão com as velas acesas são características chocantes da celebração atual. O missal romano manteve estes costumes, oferecendo duas formas alternativas de procissão. é adequado que, neste dia, ao escutar o cântico de Simeão no evangelho (Lc 2,22-40), aclamemos a Cristo como "luz para iluminar às nações e para dar glória a teu povo, Israel".


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Conversão de São Paulo - Há ou não um cavalo na história de Paulo?

Não se sabe. Pelo menos nenhum texto dos Atos ou das Cartas o refere. Mas se nos fizessem a pergunta, e sem pensar muito, quase todos diríamos que sim. Simplesmente porque a tradição iconográfica representou o Apóstolo dessa maneira, e numa intensidade tão impressiva, que estávamos prontos a jurar ter lido em qualquer passo acerca dele. Há, de facto, um inesquecível cavalo, mas nas imagens de Dürer, Miguel Ângelo, Tintoretto, Rubens, Parmigianino… - uma lista interminável! Frequentemente referido é o da pintura de Caravaggio, intitulada "Conversão de São Paulo": Paulo surge caído por terra, com os braços abertos e levantados, como quem acolhe o invisível; os olhos completamente cerrados, ligados agora a outro entendimento. E, no centro, um cavalo imenso, a deslocar-se suavemente para fora de cena, como se não fosse já necessário, ou adivinhasse que começava, precisamente aqui, outro tipo de viagens para o seu cavaleiro derrubado. Se o texto bíblico não alude à presença de um cavalo, como se chegou a essa representação? Há um motivo que joga com aquilo que o relato não diz, mas que é previsível (de facto, o cavalo seria um meio de transporte utilizado). E há uma importante razão simbólica. O texto de Atos 9 conta que Paulo "respirava ameaças e mortes contra os discípulos do Jesus" e foi pedir ao Sumo Sacerdote "cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, se encontrasse homens e mulheres que fossem desta Via, os trouxesse algemados para Jerusalém". O seu retrato é, portanto, o de um homem investido de força, acorrentado a uma convicção implacável. Ora o que a narrativa vai, em seguida, mostrar é a prostração e a fragilidade de uma personalidade assim perante a revelação de Jesus ("Saulo, Saulo, porque me persegues?"). Os textos bíblicos não dizem que Paulo tombou de um cavalo, apenas que "caiu por terra". Mas interpretando a reviravolta que este encontro provocou, artistas e comentadores espirituais não hesitaram em enfatizar esta queda. A globalidade da história de Paulo mostra que estão certos.


terça-feira, 17 de maio de 2016

O título Logos aplicado a Jesus

Somente no prólogo do quarto evangelho é que São João atribui a Jesus o título de logos. Isto significa que, para o Novo Testamento, tal título não ocupa um lugar central como o Filho do Homem, como Cristo, etc. A aplicação do título de Logos para Jesus, em João, tem a finalidade de preencher uma lacuna deixada pelos evangelhos sinóticos, a saber: todos eles apresentam Jesus a partir da criação, João pretende apresentar Jesus desde toda a eternidade, superando até mesmo o livro de Gênesis, pois, não inclui Jesus como obra criada por Deus, mas sim, como co-autor ao lado do Pai em toda a obra da criação. Assim, este título se torna indispensável para compreender o autor que pretende apresentar a relação de Deus com Jesus e a sua pré-existência,10 em todo o seu relato.

Por outro lado, sabemos que Logos significa Palavra, e nesse sentido, afirmar que Jesus é o Logos permite-nos afirmar que Jesus é a Palavra. Tal raciocínio é análogo àquele que nos leva a afirmar que Jesus é o Caminho, a Verdade, a Vida, Deus feito homem. Assim, não se pode afirmar com facilidade que o Logos não tenha sido tratado em outros escritos do Novo Testamento. Ao dizer que Jesus é a Palavra, de maneira indireta, estamos afirmando que Jesus é o Logos, e, neste sentido, o Novo Testamento nos apresenta Jesus como a Palavra viva de Deus em vários pontos dos seus escritos. No evangelho de João, portanto, merecem destaque os significados dos seguintes termos: “Palavra” e “Verbo”. Ora, enquanto “Palavra de Deus”, o Logos quer significar o conteúdo da revelação e da criação (Jo 1,3.18; 1Cor 8,6; Cl 1,17; Hb 1,1-2). A palavra evidencia a criação de todas as coisas. É um sinal que expressa a vontade e a força de Deus, sua sabedoria e ação (1Cor 1,30; Ef 3,8-11; Cl 2,2-3). Ela também revela os propósitos escritos no coração de Deus (Jo 1,3; Cl 1,18; 4,34; 5,30; 6,38).

O Logos é o próprio verbo divino, aquele que dá sentido a todas as coisas (Cl 1,17).11 O evangelho de São João tem uma intenção: traçar uma linha direta entre a vida humana de Jesus como o centro da revelação plena da verdade divina. Deus, que por sua vez é incansável, torna-se atingível pela Palavra: “primeiro na criação; depois na encarnação, porque este Logos chega a converter-se em homem. E é então que sabemos que Jesus de Nazaré e o Logos se identificam.”

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