Um dos aspectos mais
importantes da mariologia latino-americana é apresentar Maria como
modelo de mulher libertadora. O documento de Puebla usa a metáfora
"espelho da alma", ao se referir à oração do Magnificat, para falar da
Mãe de Deus como aquela que tem consciência da necessária comunhão com o
projeto libertador de seu Filho.
O Magnificat reflete a alma
de Maria (cf. Puebla, 297). Neste Canto, a Virgem se apresenta pela
ótica do Servo de Javé. Como Mãe do Cristo libertador, ela se coloca a
serviço dos pobres pelo anúncio de que Deus se volta para os excluídos.
No Magnificat, ela assume a postura de profetiza da causa dos pobres.
Fala da justiça divina e da misericórdia de Pai, disposto a matar a sede
dos ávidos por justiça.
Maria, com sua Palavra,
realiza o serviço de despertar os pobres para a esperança. Os que vivem
oprimidos na América Latina, por situações desumanas, feridos pelo
desemprego, pelos salários achatados, sem moradia e assistência médica,
encontram em Maria uma aliada, a porta-voz da libertação. No seu Canto,
ela define de maneira radical a opção de Deus pelos fracos e pela
prática da justiça e da misericórdia. Ela soube prenunciar o Evangelho
do sermão da montanha, onde Jesus recupera todo o projeto de Reino.
Maria, como profetiza dos
pobres de Javé, se tornou o grande sinal do rosto materno e
misericordioso do Pai. Ela nos convida a entrar em comunhão com Deus
(cf. Puebla, 282). O Continente Latino Americano aprendeu a venerar
Maria com a Mãe dos pobres e oprimidos. Sua espiritualidade de pobre de
Javé e dos profetas, se manifesta no seu esvaziamento, na sua entrega
total à obra do Senhor.
Ela não pensa em si mesma,
confia em Deus, acredita e se compromete com a justiça e com os pobres e
humildes (cf. Puebla,195). É importante recordar que seu esvaziamento
não é teoria, mas sua própria vida, pois "conheceu a pobreza e o
sofrimento, a fuga e o exílio". Por isso, ela tem condições de ser a
companheira de nossos povos sofridos, com tudo que isso implica
"acompanhar, com espírito evangélico, as energias libertadoras do homem e
da sociedade" (Puebla, 200).
Outro aspecto relevante na
vida de Maria, como modelo de libertação, é sua postura de mulher
corajosa e ativa, qualidades indispensáveis para quem luta por mudanças.
Livremente ela se envolveu com a causa do Reino, colocando-se sempre
disposta a acompanhar seu Filho em todas as suas incursões de pregador
da mensagem que liberta.
Maria viveu momentos de
rejeição, condenação, paixão e morte. Tudo por causa do Reino. No
Magnificat, manifesta-se como modelo "para os que não aceitam
passivamente as circunstâncias adversas da vida pessoal e social, nem
são vítimas de alienação, como se diz hoje, mas que proclamam, com ela,
que Deus 'exalta os humildes' e se for o caso 'derruba os poderosos de
seus tronos' (João Paulo II, Homilia em Zapopán, 4, AAS LXXI). A coragem
e a fé de Maria são para os pobres da América Latina, modelo de força e
luta por dias melhores.
A Virgem de Nazaré motiva a
Igreja da América Latina e do Caribe, a evangelizar não em conluio com
os poderosos, mas a conhecer as causas de todas injustiças sofridas
pelos nossos povos. Em Maria o Evangelho se tornou carne. Este é o novo
paradigma de todo processo evangelizador. "Esta é a hora de Maria, isto
é, o tempo do Novo Pentecostes a que ela preside com sua oração, quando
sob o influxo do Espírito Santo, a Igreja inicia um novo caminho em sua
peregrinar." (Puebla, 303).
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário