terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MARIA NAS CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS LATINO-AMERICANAS (PUEBLA)


Um dos aspectos mais importantes da mariologia latino-americana é apresentar Maria como modelo de mulher libertadora. O documento de Puebla usa a metáfora "espelho da alma", ao se referir à oração do Magnificat, para falar da Mãe de Deus como aquela que tem consciência da necessária comunhão com o projeto libertador de seu Filho. 

O Magnificat reflete a alma de Maria (cf. Puebla, 297). Neste Canto, a Virgem se apresenta pela ótica do Servo de Javé. Como Mãe do Cristo libertador, ela se coloca a serviço dos pobres pelo anúncio de que Deus se volta para os excluídos. No Magnificat, ela assume a postura de profetiza da causa dos pobres. Fala da justiça divina e da misericórdia de Pai, disposto a matar a sede dos ávidos por justiça.
Maria, com sua Palavra, realiza o serviço de despertar os pobres para a esperança. Os que vivem oprimidos na América Latina, por situações desumanas, feridos pelo desemprego, pelos salários achatados, sem moradia e assistência médica, encontram em Maria uma aliada, a porta-voz da libertação. No seu Canto, ela define de maneira radical a opção de Deus pelos fracos e pela prática da justiça e da misericórdia. Ela soube prenunciar o Evangelho do sermão da montanha, onde Jesus recupera todo o projeto de Reino.

Maria, como profetiza dos pobres de Javé, se tornou o grande sinal do rosto materno e misericordioso do Pai. Ela nos convida a entrar em comunhão com Deus (cf. Puebla, 282). O Continente Latino Americano aprendeu a venerar Maria com a Mãe dos pobres e oprimidos. Sua espiritualidade de pobre de Javé e dos profetas, se manifesta no seu esvaziamento, na sua entrega total à obra do Senhor.
Ela não pensa em si mesma, confia em Deus, acredita e se compromete com a justiça e com os pobres e humildes (cf. Puebla,195). É importante recordar que seu esvaziamento não é teoria, mas sua própria vida, pois "conheceu a pobreza e o sofrimento, a fuga e o exílio". Por isso, ela tem condições de ser a companheira de nossos povos sofridos, com tudo que isso implica "acompanhar, com espírito evangélico, as energias libertadoras do homem e da sociedade" (Puebla, 200). 

Outro aspecto relevante na vida de Maria, como modelo de libertação, é sua postura de mulher corajosa e ativa, qualidades indispensáveis para quem luta por mudanças. Livremente ela se envolveu com a causa do Reino, colocando-se sempre disposta a acompanhar seu Filho em todas as suas incursões de pregador da mensagem que liberta. 

Maria viveu momentos de rejeição, condenação, paixão e morte. Tudo por causa do Reino. No Magnificat, manifesta-se como modelo "para os que não aceitam passivamente as circunstâncias adversas da vida pessoal e social, nem são vítimas de alienação, como se diz hoje, mas que proclamam, com ela, que Deus 'exalta os humildes' e se for o caso 'derruba os poderosos de seus tronos' (João Paulo II, Homilia em Zapopán, 4, AAS LXXI). A coragem e a fé de Maria são para os pobres da América Latina, modelo de força e luta por dias melhores.

A Virgem de Nazaré motiva a Igreja da América Latina e do Caribe, a evangelizar não em conluio com os poderosos, mas a conhecer as causas de todas injustiças sofridas pelos nossos povos. Em Maria o Evangelho se tornou carne. Este é o novo paradigma de todo processo evangelizador. "Esta é a hora de Maria, isto é, o tempo do Novo Pentecostes a que ela preside com sua oração, quando sob o influxo do Espírito Santo, a Igreja inicia um novo caminho em sua peregrinar." (Puebla, 303). 

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