terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A opção pelos pobres no Documento de Aparecida

A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza” (cf. 2Cor 8,9). Tal afirmação de Bento XVI, no discurso inaugural da 5ª Conferência, retomando a opção pelos pobres presente em Medellín e Puebla e enraizando-a na fé cristológica, indica nova etapa no aprofundamento dessa opção, no contexto de uma Igreja latino-americana e caribenha marcada por tensões, conflitos e desafios por causa dos diferentes modelos de Igreja que convivem em seu seio.

Bento XVI afirma que o Deus revelado em Jesus de Nazaré é “o Deus de rosto humano; é o Deus-Conosco, o Deus do amor até a cruz”. É interessante observar que essa afirmação do papa se aproxima do canto das comunidades eclesiais de base: “Tu és o Deus dos pequenos, o Deus humano e sofrido, o Deus de mãos calejadas, o Deus de rosto curtido. Por isso te falo eu, como te fala meu povo, porque és o Deus roceiro, o Cristo trabalhador!” Aproxima-se também da afirmação de Puebla, retomada pela Conferência de Aparecida: “Se esta opção está implícita na fé cristológica, os cristãos, como discípulos e missionários, estamos chamados a contemplar nos rostos sofredores de nossos irmãos e irmãs o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo neles: ‘Os rostos sofredores dos pobres são os rostos sofredores de Cristo’. Eles interpelam o núcleo do agir da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs. Tudo o que tem a ver com Cristo tem a ver com os pobres e tudo o que estiver relacionado com os pobres está relacionado com Jesus Cristo: ‘Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram’ (Mt 25,40)”.

Estamos tomando consciência de que a opção pelos pobres, como já afirmou Gustavo Gutiérrez, é uma opção teocêntrica. Isso quer dizer que sai do coração de Deus, de sua gratuidade. Cremos ser importante pensá-la como opção trinitária: a opção pelos pobres é uma opção de Deus Pai (cf. Ex 3,7-10; 20,2; Mt 11,25-26), Filho, Jesus de Nazaré (Lc 4,16-21), e Espírito Santo, que envia Jesus para o meio dos pobres (Lc 4,18-19). Convém notarmos que, na sequência da missa de Pentecostes, o Espírito Santo é proclamado Pai dos pobres (Pater pauperum)! Essa opção é assumida também por Maria, a mãe de Jesus (Lc 1,46-56). Somos todos e todas convidados(as) a fazer essa opção pelos pobres e com os pobres contra a pobreza! Na verdade, trata-se de opção bíblica e evangélica belamente descrita por dona Luzia de Itumbiara (GO), ao dizer: “A Bíblia é o livro dos pobres, escrito para os pobres, dizendo para os pobres: chega de pobreza!”.

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