Atualmente, a maioria dos cristãos ainda ignora a situação do tráfico humano ou lhe é indiferente. Hoje o tráfico de pessoas é tão perverso quanto no tempo em que as Américas estavam sendo colonizadas. Há suspeitas de que as receitas provenientes do tráfico humano superem as do comércio ilegal de armas e de que, em breve, esse crime ultrapassará o tráfico de drogas para chegar ao topo das atividades ilegais no mundo.
É tarefa dos cristãos, em nome de Jesus de Nazaré, que deu a própria vida na cruz para nos resgatar do pior tipo de escravidão que é o pecado, empenhar esforços para que os milhões de vítimas do tráfico sexual sejam libertados e as vítimas do tráfico de mão de obra voltem para junto de suas famílias.
Nos tempos bíblicos, a escravidão se instaurou por causa do pagamento de dívidas familiares. Hoje, a “necessidade” que gera a escravidão é muito mais ilusória e vil: a fabricação de produtos com baixo custo – para lucrar cada vez mais – e o sexo barato. A Bíblia se preocupa em promover práticas trabalhistas justas (1Tm 5,18) e relações sexuais saudáveis, sem exploração da pessoa humana (1Cor 7,2).
Apesar disso, há o silêncio da maioria dos cristãos que dizem praticar as Escrituras. Há conivência com a adoção ilegal, sem que se perguntem de onde a criança veio e se não teria sido raptada de seus pais. A maioria dos cristãos se cala quando se trata de multinacionais que usam mão de obra em condições de escravidão. Essa postura é uma antítese do cuidado bíblico para com os servos. Os cristãos, alicerçados na lei do amor (1Jo 3,16), são convocados a gastar suas energias em favor daqueles que estão escravizados; devem ajudar a levar vida plena, pois todos já foram libertados em Cristo.
E não podemos concluir este artigo sem uma palavra de esperança para as pessoas traficadas e para as famílias das vítimas. No fim da narrativa, José faz uma leitura positiva dos acontecimentos dolorosos pelos quais passou (Gn 50), Deus havia convertido o mal em grande bem. Esse final convida as famílias de hoje, mesmo quando há vítimas fatais, a ver a ação discreta de Deus como companhia nos sofrimentos, como presença eficaz ao lado de quem sofre, na certeza de que a vítima não foi abandonada por ele em nenhum momento.
O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores, pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel (…). Agora, o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vai, pois, e eu te enviarei ao Faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os filhos de Israel” (Ex 3,7-10).
Os verbos empregados indicam a presença constante de Deus junto ao povo: eu vi, eu ouvi, eu conheço as angústias dele, eu desci, eu te envio. Que os seguidores de Jesus não desconsiderem esse apelo do Senhor, que conta conosco para novamente tirar seu povo da escravidão e da mão do opressor.
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