quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Theotókos: Mãe de Deus

A palavra é grega. Só é usada em referência à Maria e está presente no vocabulário cristão de todas as línguas. Significa: àquela que deu à luz, a parturiente, a genitora de Deus. Theotókos – mãe de Deus- sintetiza a reflexão teológica enraizada na Bíblia e na vivência da fé cristã.  Está implícita na frase  de João, 1,14: O Verbo se fez carne e veio morar no meio de nós. O mistério de nossa comunhão com Cristo inclui a maternidade divina de Maria. Vê-la como a mãe de Deus não é só um título devocional ou uma invocação mariana muito antiga. É a primeira e a maior verdade da fé cristã sobre a mariologia. É conceito bíblico-teológico fundamental quanto à função de Maria no mistério de Cristo, ou seja, uma só pessoa em duas naturezas, a divina e a humana.

Coberta pela sombra do Espírito Santo Maria tornou-se “mãe de Deus” em sentido próprio e verdadeiro: a mãe humana. O Filho que nascer de ti será chamado Filho do Altíssimo. (Lc.1,35).  Mãe de Jesus nos Evangelhos. Isabel acolheu e saudou-a como “a mãe do meu Senhor”! Senhor na Bíblia é só Deus! Desde os primeiros séculos houve consenso na Tradição, nos escritores cristãos e na vivência dos fiéis sobre o papel de Maria na Encarnação de Jesus. Quanto mais evoluía a compreensão teológica sobre o mistério do Verbo, o Filho de Deus, tanto mais se esclarecia a participação de Maria nele. E vice-versa: quanto mais se percebia o significado dela no desígnio de Deus, tanto melhor se compreendia a mensagem de Jesus. O fato áureo dessa mútua complementação na evolução teológico-doutrinal foi o 3º Concílio da Igreja em Éfeso no ano 431.

O Concílio rejeitou a heresia que via em Cristo não só duas naturezas, mas também duas pessoas: a humana e a divina. E proclamou a unidade da pessoa de Jesus. Ela é distinta nas duas naturezas, a divina e a humana, mas não é divisível nelas. Em Cristo a divindade e humanidade são inseparáveis. O Concílio ensinou: “um só e mesmo é aquele que é gerado pelo Pai desde a eternidade e aquele que nasceu de Maria como homem”. O Verbo eterno é o único sujeito pessoal da divindade unida à humanidade em Jesus de Nazaré. Por isso, Maria pode e deve ser chamada Theotókos (mãe de Deus). Ela não gerou a natureza divina, mas o seu Filho não é um, e outro é o Filho eterno do Pai. Ela concebeu na carne o mesmo Filho Unigênito do Pai. A paternidade de Deus e a maternidade de Maria unidas num fim único.


A geração eterna uniu-se à gravidez no tempo. O seio puríssimo da mãe foi o lugar histórico onde aconteceu a plenitude do tempo (Gl.4,4). Aí Deus se fez carne: “Deus conosco”. As características biológicas e psicológicas de Jesus de Nazaré foram formadas no útero de Maria. Depois ela o alimentou, cuidou e educou como faz toda mãe com um filho. Maria não é uma deusa. Tudo o que ela é, deve-se ao Filho que é verdadeiro Deus e é verdadeiro homem. Mas, ela precisou dizer SIM. Vemos nela o rosto materno de Deus. Com razão a invocamos: Santa Maria Mãe de Deus rogai por nós!

Fonte:

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Kalenda de Natal

A solene proclamação da Kalenda ou Calendas do Natal é um rito que foi incorporado à Santa Missa da Noite do Natal celebrada no Vaticano pelo Santo Padre, o Papa. O texto em latim é encontrado no Martyrologium Romanum e a sua leitura é prevista para o dia 24 de dezembro.

No Vaticano durante o pontificado do Papa João Paulo II, o canto da Kalenda era cantado em substituição ao Ato Penitencial. Atualmente, durante o pontificado do Papa Bento XVI o canto é cantado no final do Ofício das Leituras que é rezado como preparação para a Santa Missa da Noite do Natal; após o canto da Kalenda inicia-se a procissão de entrada.

O Diretório Litúrgico da CNBB 2012 (página 39) traz a seguinte recomendação: “Anúncio natalino: a ser proclamado na primeira missa (da noite de Natal) após o sinal da cruz e a saudação presidencial, antes da entoação do Glória”.

Uma das particularidades do canto da Kalenda e também de todo o Martirológico é fazer uso (ainda que facultativo – segundo Instrução Geral do Martyrologium Romanum) do Calendário Lunar para anunciar os dias. A importância do cálculo do dia lunar resulta evidentemente de se considerar que a suprema solenidade da Páscoa, junto com o tempo da Quaresma, que a precede, e do tempo Pascal, que a segue, depende da primeira lua cheia da primavera (no hemisfério norte). Desse modo, a “lua” para o dia de Natal muda a cada ano, segundo a “letra” correspondente ao “número” com o qual se indica cada um dos “ciclos” lunares de uma tabela pré-estabelecida segundo o Martyrologium. Mesmo que o anúncio da lua seja facultativo, segue uma tabela até 2020:

Ano Lua
2012 Décima primeira
2013 Vigésima segunda
2014 Quarta
2015 Décima quinta
2016 Vigésima sexta
2017 Sétima
2018 Décima oitava
2019 Vigésima nona
2020 Décima

Kalenda ou Anúncio Natalino

Oitavo dia antes das Kalendas de Janeiro. Lua Quarta
Ou Lua... (conforme o ciclo lunar)


Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o homem à sua imagem; - séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz; - vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai; - treze séculos depois da saída de Israel do Egito sob a guia de Moisés; - cerca de mil anos depois da unção de Davi como rei de Israel; - na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel; - na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; - no ano 752 da fundação de Roma; - no ano 538 do edito de Ciro autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; - no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo. JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI, querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses nasceu da Virgem Mariaem Belém de Judá. Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. Venham, adoremos o Salvador. Ele é Emanuel, Deus Conosco.

Fonte:

Origem do "PRESÉPIO"

Foi na cidade italiana de Gréccio, na noite de Natal de Jesus no ano 1223 que São Francisco criou o primeiro presépio, com uma representação cênica do nascimento de Jesus numa manjedoura de palhas, acompanhado pelos animais. Era um lugar simples mais enriquecido com muita ternura e amor. Depois São Francisco chamou os moradores próximos para que estivessem no local, para que assim relembrassem a noite do nascimento em Belém do Menino-Deus.

O nascimento de Jesus num estábulo junto com os animais, Deus nos quis dar um recado claro e sem duvidas sobre a humildade e a beleza da pobreza quando é uma alternativa de vida. Abandonando o materialismo que nos subverte da condição humana em seres predadores da natureza e da vida. 

O presépio nos mostra a luz e a beleza na representação do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo. Com isso São Francisco iluminou e reacendeu a fé que estava adormecida entre o povo naquela época, um costume que perpetuou na Igreja até os nossos dias.

O Natal do Nosso Senhor aconteceu numa conjunção entre a vida, representada pelos animais: boi, burro e o universo representado pela estrela guia. Foi um momento extraordinário da revelação do Verbo que se fez carne, Cristo tornou-se condição de homem para estar entre os homens. E como filho de Deus nos ensinou a verdade sobre a essência humana nos diferenciando dos animais em muitos aspectos: centralizado na consciência o nosso comportamento como seres racionais.

Na ternura do presépio notamos a força divina daquele momento do nascimento do Senhor, São Francisco levou isso ao povo para estimular o renascimento no coração de muitos que o já havia esquecido. Uma encenação que se perpetuou até os dias de hoje e corre pelo mundo ainda com o mesmo objetivo: relembrar o singelo momento do nascimento do Salvador...

Confira o texto histórico que narra como São Francisco preparou o Natal

"Sua maior intenção, seu desejo principal e plano supremo era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os "passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina".
Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas.
 Precisamos recordar com todo respeito e admiração o que fez no dia de Natal, no povoado de Greccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor, a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado em sua terra, desprezava a nobreza humana para seguir a nobreza de espírito. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costumava, e disse: "Se você quiser que nós celebremos o Natal de Greccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro". Ouvindo isso, o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou o que o santo tinha dito, no lugar indicado.

 Aproximou-se o dia da alegria e chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os irmãos: homens e mulheres do lugar, de acordo com suas posses, prepararam cheios de alegria tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou o santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade.

A noite ficou iluminada como o dia e estava deliciosa para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em sua alegria toda nova.

O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros.

Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O santo parou diante do presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria. A missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então. O santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o santo Evangelho. De fato, era "uma voz forte, doce, clara e sonora", convidando a todos às alegrias eternas. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas maravilhosas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. Muitas vezes,-quando queria chamar o Cristo* de Jesus, chamava-o também com muito amor de "menino de Belém", e pronunciava a palavra "Belém" como o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com a doce afeição. Também estalava a língua quando falava "menino de Belém" ou "Jesus", saboreando a doçura dessas palavras.

 Multiplicaram-se nesse lugar os favores do Todo-Poderoso, e um homem de virtude teve uma visão admirável. Pareceu-lhe ver deitado no presépio um bebê dormindo, que acordou quando o santo chegou perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o menino Jesus estava de fato dormindo no esquecimento de muitos corações, nos quais, por sua graça e por intermédio de São Francisco, ele ressuscitou e deixou a marca de sua lembrança. Quando terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa.

 Guardaram a palha usada no presépio para que o Senhor curasse os animais, da mesma maneira que tinha multiplicado sua santa misericórdia. De fato, muitos animais que padeciam das mais diversas doenças naquela região comeram daquela palha e tiveram um resultado feliz. Da mesma sorte, homens e mulheres conseguiram a cura das mais variadas doenças.

 O lugar do presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai Francisco e dedicaram uma igreja, para que, onde os animais já tinham comido o feno, passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da alma, com a carne do cordeiro imaculado e não contaminado, Jesus Cristo Nosso Senhor, que se ofereceu por nós com todo o seu inefável amor e vive com o Pai e o Espírito Santo eternamente glorioso por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia, Aleluia.


 Tomás de Celano - Primeiro Livro (Fontes Franciscanas).

Fonte:

sábado, 6 de dezembro de 2014

Espiritualidade do tempo do Advento

Advento, tempo da Igreja missionária e peregrina
A liturgia com seu realismo e seus conteúdos põe a Igreja em um tempo de características e expressões espirituais: a espera, a esperança, a oração pela salvação universal.

Preparando-nos para a festa de Natal, nós pensamos nos justos do AT que esperaram a primeira vinda do Messias. Lemos os oráculos de seus profetas, cantamos seus salmos e recitamos suas orações. Mas nós não fazemos isto pondo-nos em seu lugar como se o Messias ainda não tivesse vindo, mas para apreciar melhor o dom da salvação que nos trouxe. O Advento para nós é um tempo real. Podemos recitar com toda verdade a oração dos justos do AT e esperar o cumprimento das profecias porque estas ainda não se realizaram plenamente; se cumprirão com a segunda vinda do Senhor. Devemos esperar e preparar esta última vinda.

No realismo do Advento podemos recolher algumas atualizações que oferecem realismo à oração litúrgica e à participação da comunidade:

- a Igreja ora por um Advento pleno e definitivo, por uma vinda de Cristo para todos os povos da terra que ainda não conheceram o Messias ou não reconhecem ainda ao único Salvador.
- a Igreja recupera no Advento sua missão de anúncio do Messias a todas as gentes e a consciência de ser "reserva de esperança" para toda a humanidade, com a afirmação de que a salvação definitiva do mundo deve vir de Cristo com sua definitiva presença escatológica.
- Em um mundo marcado por guerras e contrastes, as experiências do povo de Israel e as esperas messiânicas, as imagens utópicas da paz e da concórdia, se tornam reais na história da Igreja de hoje que possui a atual "profecia" do Messias Libertador.
- na renovada consciência de que Deus não desdiz suas promessas -confirma-o o Natal!- a Igreja através do Advento renova sua missão escatológica para o mundo, exercita sua esperança, projeta a todos os homens um futuro messiânico do qual o Natal é primícia e confirmação preciosa.

À luz do mistério de Maria, a Virgem do Advento, a Igreja vive neste tempo litúrgico a experiência de ser agora "como uma Maria histórica" que possui e dá aos homens a presença e a graça do Salvador.

A espiritualidade do Advento resulta assim uma espiritualidade comprometida, um esforço feito pela comunidade para recuperar a consciência de ser Igreja para o mundo, reserva de esperança e de gozo. Mais ainda, de ser Igreja para Cristo, Esposa vigilante na oração e exultante no louvor do Senhor que vem.

Fonte:

Teologia do tempo do Advento

À luz da liturgia da Igreja e de seus conteúdos podemos resumir algumas linhas do pensamento teológico e da vivência existencial deste tempo de graça.

Advento, tempo de Cristo: a dupla vinda
A teologia litúrgica do Advento se encaminha, nas duas linhas enunciadas pelo Calendário romano: a espera da Parusia, revivida com os textos messiânicos escatológicos do AT e a perspectiva de Natal que renova a memória de algumas destas promessas, já cumpridas, ainda que não definitivamente.

O tema da espera é vivido na Igreja com a mesma oração que ressoava na assembléia cristã primitiva: o Marana-tha (Vem Senhor) ou Maran-athá (o Senhor vem) dos textos de Paulo (1 Cor 16,22) e do Apocalipse (Ap 22,20), que se encontra também na Didaché e, hoje, em uma das aclamações da oração eucarística. Todo o Advento ressoa como um "Marana-thá" nas diferentes modulações que esta oração adquire nas preces da Igreja.

A palavra do Antigo Testamento convida a repetir na vida a espera dos justos que aguardavam o Messias; a certeza da vinda de Cristo na carne estimula a renovar a espera da última aparição gloriosa na qual as promessas messiânicas terão total cumprimento já que até hoje se cumpriram só parcialmente. O primeiro prefácio de Advento canta esplendidamente esta complexa, mas verdadeira realidade da vida cristã.

O tema da espera do Messias e a comemoração da preparação para este acontecimento salvífico atinge o auge nos dias que precedem o Natal. A Igreja se sente submersa na leitura profética dos oráculos messiânicos. Lembra-se de nossos Pais na Fé, patrísticos e profetas, escuta Isaías, recorda o pequeno núcleo dos anawim de Yahvé que está ali para esperá-lo: Zacarias, Isabel, João, José, Maria.

O Advento é, pois, como uma intensa e concreta celebração da longa espera na história da salvação, como o descobrimento do mistério de Cristo presente em cada página do AT, do Gênesis até os últimos livros Sapienciais. é viver a história passada voltada e orientada para o Cristo escondido no AT que sugere a leitura de nossa história como uma presença e uma espera de Cristo que vem.

Hoje na Igreja, Advento é como um redescobrir a centralidade de Cristo na história da salvação. Recordam-se seus títulos messiânicos através das leituras bíblicas e das antífonas: Messias, Libertador, Salvador, Esperado das nações, Anunciado pelos profetas... Em seus títulos e funções Cristo, revelado pelo Pai, se converte no personagem central, a chave do arco de uma história, da história da salvação.


Advento tempo por excelência de Maria, a Virgem da espera
É o tempo mariano por excelência do Ano litúrgico. Paulo VI expressa isso com toda autoridade na Marialis Cultus, nn. 3-4. Historicamente a memória de Maria na liturgia surgiu com a leitura do Evangelho da Anunciação antes do Natal naquele que, com razão, foi chamado o domingo mariano prenatalício.

Hoje o Advento recupera plenamente este sentido com uma serie de elementos marianos da liturgia, que podemos sintetizar da seguinte maneira:

- Desde os primeiros dias do Advento há elementos que recordam a espera e a acolhida do mistério de Cristo por parte da Virgem de Nazaré.
- a solenidade da Imaculada Conceição se celebra como "preparação radical à vinda do Salvador e feliz principio da Igreja sem mancha nem ruga ("Marialis Cultus 3).
- dos dias 17 a 24 o protagonismo litúrgico da Virgem é muito característico nas leituras bíblicas, no terceiro prefácio de Advento que recorda a espera da Mãe, em algumas orações, como a do dia 20 de dezembro que nos traz um antigo texto do Rótulo de Ravena ou na oração sobre as oferendas do IV domingo que é uma epíclesis significativa que une o mistério eucarístico com o mistério de Natal em um paralelismo entre Maria e a Igreja na obra do único Espírito.
Em uma formosa síntese de títulos. I. Calabuig apresenta nestas pinceladas a figura da Virgem do Advento:
- é a "Cheia de graça", a "bendita entre as mulheres", a "Virgem", a "Esposa de Jesus", a "serva do Senhor".
- é a mulher nova, a nova Eva que restabelece e recapitula no desígnio de Deus pela obediência da fé o mistério da salvação.
- é a Filha de Sião, a que representa o Antigo e o Novo Israel.
- é a Virgem do Fiat, a Virgem fecunda. É a Virgem da escuta e acolhe.

Em sua exemplaridade para a Igreja, Maria é plenamente a Virgem do Advento na dupla dimensão que a liturgia tem sempre em sua memória: presença e exemplaridade. Presença litúrgica na palavra e na oração, para uma memória grata dAquela que transformou a espera em presença, a promessa em dom. Memória de exemplaridade para uma Igreja que quer viver como Maria a nova presença de Cristo, com o Advento e o Natal no mundo de hoje.


Na feliz subordinação de Maria a Cristo e na necessária união com o mistério da Igreja, Advento é o tempo da Filha de Sião, Virgem da espera que no "Fiat" antecipa o Marana thá da Esposa; como Mãe do Verbo Encarnado, humanidade cúmplice de Deus, tornou possível seu ingresso definitivo, no mundo e na história do homem.

Fonte:

O significado da Coroa do Advento

Origem: A Coroa de Advento tem a sua origem em uma tradição pagã européia. No inverno, se acendiam algumas velas que representavam ao "fogo do deus sol" com a esperança de que a sua luz e o seu calor voltasse. Os primeiros missionários aproveitaram esta tradição para evangelizar as pessoas. Partiam de seus próprios costumes para ensinar-lhes a fé. Assim, a coroa está formada por uma grande quantidade de símbolos:

A forma circular: O círculo não tem princípio, nem fim. É sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio e nem fim, e também do nosso amor a Deus e ao próximo que nunca se debe terminar. Além disso, o círculo dá uma ideia de "elo", de união entre Deus e as pessoas, como uma grande "Aliança".

As ramas verdes: Verde é a cor da esperança e da vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. Bênçãos que nos foram derramadas pelo Senhor Jesus, em sua primeira vinda entre nós, e que agora, com esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na sua segunda e definitiva volta.

As quatro velas: As quatro velas da coroa simbolizam, cada uma delas, uma das quatro semanas do Advento. No inicio, vemos nossa coroa sem luz e sem brilho. Nos recorda a experiencia de escuridão do pecado. A medida em que se vai aproximando o natal, vamos ao passo das semanas do Advento, acendendo uma a uma as quatro velas representando assim a chegada, em meio de nós, do Senhor Jesus, luz do mundo, quem dissipa toda escuridão, trazendo aos nossos corações a reconciliação tão esperada.

Nos domingos de Advento, é de costume que as famílias e as comunidades católicas se reúnam em torno à coroa para rezar. A liturgia de coroa, como é conhecida esta oração em torno a coroa, se realiza de um modo muito simples. Todos se colocam em volta da coroa; se acende a vela que corresponde a semana em questão, acompanhando, se possível, com um canto. Logo se lê uma passagem da Bíblia, própria do tempo do Advento e se fazem algumas meditações. Se recomenda também levar a coroa para ser abençoada pelo sacerdote.

Fonte:

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A Igreja fecha-se em um "microclima eclesiástico", ao invés de se abrir aos excluídos sociais

Para Papa Francisco, a Igreja vive em todas as épocas a tentação de olhar para Jesus esquecendo de ver Nele o pobre que pede ajuda, fechando-se em um “microclima eclesiástico”, ao invés de se abrir aos excluídos sociais. A homilia foi inspirada em uma das páginas mais intensas do Evangelho, cujo protagonista é o cego de Jericó.
O cego, explicou o Papa, representa “a primeira classe de pessoas” que povoa a narração do evangelista Lucas. Um homem que não contava nada, mas que “tinha sede de salvação”, “de ser curado”, e que, portanto, grita mais forte do que o muro de indiferença que o circunda, “para bater à porta do coração de Jesus”. A este homem se opõe o círculo dos discípulos, que querem calá-lo para evitar que incomode e, assim – afirmou o Papa – afastar “o Senhor da periferia”:
Esta periferia não podia chegar ao Senhor, porque este círculo – mas com muita boa vontade, hein – fechava a porta. E isso acontece com frequência entre nós, fiéis: quando encontramos o Senhor, sem que percebamos, se cria este microclima eclesiástico. Não só os padres, os bispos, mas também os fiéis: ‘Mas nós somos os que estão com o Senhor’. E de tanto olhar para Ele, não olhamos para as suas necessidades: não olhamos para o Senhor que tem fome, que tem sede, que está na prisão, que está no hospital. ‘Aquele Senhor não, pois é um marginalizado’. E este clima nos faz tão mal”.
A seguir, o Papa descreveu o grupo dos que se sentem eleitos pelo Senhor e que, por isso mesmo, querem afastar qualquer pessoa que posa incomodá-Lo – inclusive as crianças. Essas pessoas, observou, esqueceram e abandonaram o primeiro amor:
Quando na Igreja os fiéis, os ministros se tornam assim... não eclesial, mas ‘eclesiástico’, de privilégio de proximidade ao Senhor, têm a tentação de esquecer o primeiro amor, aquele amor tão bonito que todos nós recebemos quando Ele nos chamou, nos salvou. Esta é uma tentação dos discípulos: esquecer o primeiro amor, ou seja, esquecer inclusive as periferias, onde eu me encontrava, e também me envergonhar disso”.
Há ainda o terceiro grupo nesta narração: o povo simples, que louva a Deus pela cura do cego. “Quantas vezes, afirmou o Papa, encontramos pessoas simples, quantas idosas que caminham, com sacrifício, para rezar em um santuário de Nossa Senhora”. “Não pedem privilégios, mas somente graça”. É o “povo fiel”, que “sabe seguir o Senhor sem pedir qualquer privilégio”, capaz de “perder tempo com Ele” e, sobretudo, de não esquecer a “Igreja marginalizada” das crianças, dos doentes, dos prisioneiros. O Papa então conclui:
Peçamos ao Senhor a graça de que todos nós, que temos a graça de sermos chamados, de jamais nos afastar desta Igreja; de jamais entrar neste microclima dos discípulos eclesiásticos, privilegiados, que se afastam da Igreja de Deus, que sofre, que pede salvação, que pede fé, que pede a Palavra de Deus. Peçamos a graça de ser povo fiel de Deus, sem pedir ao Senhor qualquer privilégio que nos afaste de Seu povo”.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Papa Francisco acentua a atitude daqueles que exercem um ministério dentro da Igreja

Diante da Basílica, o Papa prosseguiu sua série de catequeses sobre a Igreja, falando desta vez sobre as qualidades e as virtudes necessárias para ser bispo, presbítero e diácono.
O apóstolo Paulo, nas chamadas Cartas Pastorais, não se limita a enumerar dons e graças sobrenaturais, mas fala de dotes como ser hospitaleiro, sóbrio, paciente, de coração bondoso, ou seja, qualidades tipicamente humanas que predispõem os ministros da Igreja para se relacionar com os outros de forma respeitosa e sincera. “Este é o alfabeto, a gramática de base de todo ministério!”, disse o Papa.
Entretanto uma pessoa não é escolhida para bispo, presbítero ou diácono por ser mais inteligente, mais capaz ou melhor do que os outros, mas porque recebeu de Deus um dom particular. De fato, a recomendação fundamental que Paulo faz a Timóteo é que reavive continuamente o dom recebido pela imposição das mãos.
Esta consciência de que tudo é dom, tudo é graça ajuda o pastor da Igreja a não cair na tentação de se colocar no cento da atenção ou de confiar unicamente em si mesmo. São as tentações da vaidade, do orgulho, da suficiência e da soberba. Ai de um ministro se pensar que sabe tudo, que tem sempre a resposta justa para cada coisa e que não precisa de ninguém”. Jamais poderá assumir uma atitude autoritária, como se todos estivessem a seus pés e a comunidade fosse sua propriedade, o seu reino pessoal.
Pelo contrário, explicou Francisco, sentindo-se objeto da misericórdia e compaixão de Deus, o ministro da Igreja procurará ser sempre humilde e compreensivo com os outros. Mesmo chamado a custodiar com coragem o depósito da fé, ele se colocará à escuta das pessoas. De fato, ele é consciente de ter sempre algo a aprender, também daqueles que ainda estão distantes da fé e da Igreja. E, com seus irmãos no ministério, tudo isto o leva a assumir uma atitude nova, marcada pela partilha, a corresponsabilidade e a comunhão.
Devemos continuar sempre a rezar, para que os pastores das nossas comunidades possam ser imagem viva da comunhão e do amor de Deus”, exortou por fim o Papa.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Algumas considerações sobre a Teologia da Prosperidade

O dízimo: dar para receber

Deus não precisa de nosso dinheiro, porque dele é a prata e o ouro. Mas Ele precisa que nós o obedeçamos, para que possa nos abençoar. Há uma íntima relação entre dar e receber. Quanto mais damos, mais recebemos (Rodovalho, Robson. O milagre aconteceu. Goiás, Koinonia, s. d., p. 59.)

Na interpretação de certos pregadores brasileiros da Teologia da Prosperidade, o pecado cometido por Adão e Eva desfez a comunhão, a aliança ou a "sociedade" existente entre Deus e as criaturas humanas, tornando-as escravas do Diabo. Como Deus desejava voltar a ser "sócio" dos homens, mandou seu filho unigênito à cruz para expiar o pecado original. Entretanto, segundo Kenneth Hagin, o pai da matéria (e vários pastores brasileiros), Jesus não expiou os pecados da humanidade ao ter seu sangue derramado na cruz, mas sim quando, após sua morte, desceu ao inferno, recebeu a natureza satânica, experimentou a morte espiritual, sofreu durante três dias, renasceu e, por fim, conseguiu derrotar o Diabo em seu próprio território. Deste modo, foram necessários o sacrifício de Jesus na cruz e a sua vitória sobre o Diabo no inferno para o restabelecimento desta sociedade, na qual os homens, se cumprirem sua parte no contrato firmado na Bíblia por Deus, isto é, se pagarem fielmente o dízimo e exigirem o que a Palavra declara pertencer-lhes, tornam a adquirir o direito à "vida abundante". O pagamento do dízimo, que "existe desde a criação do homem", constitui o meio pelo qual os indivíduos podem refazer a "sociedade com Deus", habilitando-se a desfrutar das promessas bíblicas.

Ele [Jesus] desfez as barreiras que havia entre você e Deus e agora diz — volte para casa, para o jardim da Abundância para o qual você foi criado e viva a Vida Abundante que Deus amorosamente deseja para você [...] Deus deseja ser nosso sócio [...] As bases da nossa sociedade com Deus são as seguintes: o que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d'Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, e tudo de bom) passa a nos pertencer (Macedo, Edir. Vida com abundância. Rio de Janeiro: Universal Produções, 1990, pp. 25, 85, 86).

Deus não pode deixar de cumprir as promessas feitas aos homens contidas na Bíblia. O Criador não tem escolha senão cumprir o prometido. Presa às promessas que fez, a onipotência divina fica seriamente comprometida. Nesta sociedade, a parte que cabe aos homens consiste em pagar o dízimo, ter fé em Deus e na sua Palavra e profetizar as bênçãos divinas em sua vida. Enquanto a parte de Deus reside no pronto cumprimento de suas promessas (repreender o "devorador" e conceder bênçãos em abundância), das quais Ele, desde que satisfeitas as condições contratuais, em hipótese alguma pode se furtar. Nesta relação contratual em que Deus tem obrigações a cumprir, os homens, se têm deveres para com Ele, igualmente têm direitos. Na medida em que tem consciência de seus direitos, o fiel pode exigir de Deus o cumprimento deles. E é exatamente isto que ocorre. Com isso, além de ter sua soberania drasticamente diminuída, Deus torna-se vítima de frequentes manipulações por parte de seus sócios, até porque não pode se ver livre delas, a menos que "quebre sua Palavra", algo inimaginável na ótica desses crentes. Naturalmente, os pregadores da TP se defendem alegando que não determinam as ações de Deus, mas sim que ordenam ou exercem autoridade sobre o Diabo, em nome de Jesus, para que as promessas divinas se cumpram. Mesmo neste caso a soberania divina ainda permaneceria duplamente limitada: primeiro, pela ação do "grande adversário", segundo, pela necessidade de auxílio da determinação dos crentes para que suas promessas se cumprissem. Em suas práticas e mesmo em seus escritos, porém, transparecem afirmações que desabonam tal defesa.

Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d'Ele tudo aquilo que Ele tem prometido [...] O ditado popular de que "promessa é dívida" se aplica também para Deus. Tudo aquilo que Ele promete na Sua Palavra é uma dívida que tem para com você [...] Dar dízimos é candidatar-se a receber bênçãos sem medida, de acordo com o que diz a Bíblia [...]
Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores [...] Quem é que tem o direito de provar a Deus, de cobrar d’Ele aquilo que prometeu? O dizimista! [...] Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se transformaram em grandes milionários, como o sr. Colgate, o sr. Ford e o sr. Caterpilar (Macedo, Edir, op. cit., pp. 36, 54, 79, 84).

Fonte:

Ricardo Mariano, in: OS NEOPENTECOSTAIS E A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE,  NOVOS ESTUDOS N.° 44,  MARÇO DE 1996, Pg. 33-35.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Desejo mimético - René Girard - Antropologia Teológica

Segundo René “Girard, os comportamentos sociais são mimeticamente transmitidos. Aprendemos a desejar os mesmos objetos desejados por alguém que tomamos como modelo”. A rivalidade mimética é produto do desejo mimético e se converte em círculo vicioso quando o imitador “se transforma em modelo de seu modelo e assim sucessivamente, numa simetria cada vez mais abrangente”.

O que é o desejo mimético ao qual se refere René Girard?

No seu primeiro livro, Mensonge romantique, verité romanesque, Girard chamava a atenção para a “mentira romântica”, questionava a crença absoluta no individualismo, sobretudo em relação ao objeto do desejo. Segundo Girard, não desejamos algo ou alguém porque somos seduzidos diretamente pelo objeto. Ao contrário, desejamos esse objeto porque ele é desejado ou possuído por alguém que temos como modelo. Tal relação é, na maioria das vezes, inconsciente. O desejo faz parte da natureza humana. O desejo é mimético, ou seja, não é único ou original, é socialmente determinado, desejo aquilo que o outro deseja. As relações humanas são mediadas pela presença constitutiva de um “outro”. A verdade romanesca representa o reconhecimento de que o amor à primeira vista é sempre de segunda mão.

Desejos em conflito

Segundo Girard, os comportamentos sociais são mimeticamente transmitidos. Aprendemos a desejar os mesmos objetos desejados por alguém que tomamos como modelo. Assim, criamos uma área potencial de conflito, já que estaremos envolvidos na disputa do mesmo objeto e, desse modo, o modelo se transformará em rival. As crises miméticas são destrutivas porque envolvem toda a comunidade e não apenas indivíduos isolados. No auge da crise, não haverá mais diferença entre sujeito e modelo, entre imitador e imitado, pois, disputando o mesmo objeto, transformaram-se todos em adversários. O desejo mimético desencadeia a rivalidade mimética, num círculo vicioso em que o imitador se transforma em modelo de seu modelo e assim sucessivamente, numa simetria cada vez mais abrangente.

Segundo Girard, o conflito, que gera a violência, é constitutivo do ser humano. Ele enfatiza a inevitabilidade da violência mimeticamente engendrada. Trata-se de reconhecê-la, aprender a lidar com ela, dominá-la, circunscrever sua atuação, dirigi-la para um alvo aceitável para o grupo social, papel fundamental exercido pelo sacrifício que reveste diferentes roupagens nas diferentes culturas e, na maioria das vezes, pertence à esfera da religião, ao domínio do sagrado. O sistema baseado no mecanismo do bode expiatório, que assumirá todas as culpas, canalizando para si a violência dispersa na sociedade, possui uma dimensão religiosa. Seu sacrifício provocará uma catarse coletiva, restaurando a serenidade e a estabilidade anteriores à crise. Girard se refere a esse mecanismo como mecanismo do bode expiatório, mecanismo vitimador ou mecanismo mimético.

Eis a expressão de René Girard fale por nós:

“Minhas ideias estão bem mais próximas às de Kierkegaard do que foi visto nas entrevistas que dei e nos artigos escritos sobre minha obra. Para mim, o desejo do impossível e o não-desejo ainda estariam de acordo com mecanismos miméticos. Kierkegaard constatou, em sua análise dos três estágios do ser, a presença de um homem que se escora no outro. Possuindo um vazio existencial aterrador, ele procura na observação do outro, do que o outro possui, do que o outro aparenta, uma forma de saber quem é e como sentir-se pleno. Portanto, para ser ele mesmo, este homem necessita tomar conhecimento do outro, como no mecanismo do desejo mimético, onde este desejo somente se faz possível pela intermediação do que é e deseja um outro”.

Haveria a possibilidade de se interromper o ciclo de violência?


Tanto para Girard quanto para Kierkegaard, no cristianismo, quebra-se o ciclo da violência. No cristianismo trata-se do verdadeiro Deus, uma divindade não violenta que precisa tornar-se vítima, e não o Deus violento da religião arcaica. Cristo oferece a outra face e redime seus algozes. Não busca vingança, não derrama mais sangue. É pela cruz, pelo amor, que se dá a interrupção do ciclo de violência. O cristianismo mostrou que a sociedade humana produzia vítimas únicas. A crucificação desobstruiu o caminho para o entendimento do processo da vítima expiatória. “Jesus salva porque o solapamento do mecanismo do bode expiatório por ele provocado é, em primeiro lugar, a oferta do Reino de Deus, ou seja, de uma existência inteiramente livre da violência”.

Fonte:

sábado, 13 de setembro de 2014

Reflexão para a Festividade de Nossa Senhora das Dores

"O olhar de Maria sobre o mundo contemporâneo" convida a refletir, por assim dizer, com o olhar da Virgem Santa sobre as vicissitudes felizes e tristes do nosso tempo. O olhar de Maria fixa antes de tudo a Santíssima Trindade no mistério de amor inefável que une indissoluvelmente as três Pessoas divinas. Contemplando o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, a Virgem sente-se como que projetada para a humanidade, para exercer, em relação a cada ser humano, a missão materna que lhe foi confiada pelo Filho crucificado (cf. Jo 19, 25-27). Maria vela sobre o mundo, onde os seus filhos, tendentes para a pátria bem-aventurada, percorrem o caminho da fé entre muitos perigos e afãs (cf. Lumen gentium, 62).

A Virgem Santa torna-se presente, como mãe solícita, "ao longo desta caminhada-peregrinação eclesial, através do espaço e do tempo e, mais ainda, através da história das almas" (Redemptoris Mater, 25). Ao seu olhar materno não passa despercebida qualquer situação da Igreja, de cada fiel individualmente e de toda a família humana.

Comemorando a coroação da imagem de Nossa Senhora das Dores, reparamos especial e naturalmente no "olhar" que a Virgem, presente no Calvário, dirige para Cristo Crucificado, o qual, do alto da Cruz, a convida a abrir o seu coração materno ao discípulo amado: "Mulher, eis aí o teu filho" (Jo 19, 26). Naquele momento, depois de ter partilhado a paixão do Unigénito, a Mãe de Deus torna-se Mãe de João, Mãe de toda a humanidade (cf. Jo 19, 26-27).

Maria, com o coração trespassado pela lança do sofrimento, encoraja-nos a reanimar a fé n'Aquele que nos salvou, derramando o seu sangue precioso por todos os homens; indica-nos Jesus como o único Salvador predito e anunciado desde o nascimento como "luz para se revelar às nações e glória de Israel" (Lc 2, 32).

Então, podemos dizer que a Virgem das Dores é, num certo sentido, "causa de salvação para si e para todo o género humano" (S. Ireneu, Contra as heresias, III, 22, 4). O seu amor materno serve-nos de estímulo para abrirmos o coração aos sofrimentos do próximo e sobretudo dos que procuram respostas válidas para as questões profundas da existência.


Que a Virgem Santa nos ajude a compreender a maneira de testemunhar na vida quotidiana a própria fé em Cristo e os meios adequados para trabalhar eficazmente na difusão do Evangelho, permanecendo sempre fiel às inspirações do Espírito Santo e disponível para cumprir a vontade do Senhor.

IGREJA CELEBRA NOSSA SENHORA DAS DORES

Aproveitamos a ocasião para repercorrer algumas reflexões de Bento XVI sobre Nossa Senhora das Dores.

Aos pés da Cruz, diante de Jesus, Maria une a sua dor à de seu Filho e nos mostra que o amor de Deus é mais forte do que a morte. A sua dor é uma "dor cheia de fé e de amor" – ressalta Bento XVI:

"A Virgem no Calvário participa da potência salvífica da dor de Cristo, unindo o seu "fiat", o seu "sim", ao do Filho." (Angelus de 17 de setembro de 2006)

Diante do sofrimento do Filho, Maria confia em Deus. Sabe que na Cruz Jesus derramou todo o seu sangue para libertar a humanidade da escravidão do pecado:

"A Virgem Maria, que acreditou na Palavra do Senhor, não perdeu a sua fé em Deus quando viu o seu Filho rejeitado, ultrajado e colocado na Cruz. Permaneceu diante d'Ele, sofrendo e rezando, até o fim. E viu o alvorecer radioso da sua Ressurreição." (Angelus de 13 de setembro de 2009)

Maria nos ensina que "quanto mais o homem se aproxima de Deus, mais se aproxima dos homens" – observa o pontífice. O fato de Maria, na hora da Cruz, ter permanecido "totalmente junto a Deus, é a razão pela qual se faz também tão próxima dos homens":

Por isso pode ser a Mãe de toda consolação e de toda ajuda, uma Mãe à qual em qualquer necessidade qualquer um pode dirigir-se em sua fraqueza e em seu pecado, porque ela acolhe todos e para todos é força aberta da bondade criativa." (Santa Missa de 8 de dezembro de 2005)

O Santo Padre convida-nos a contemplarmos Maria, aos pés da Cruz, "associada intimamente à missão de Cristo e co-participante da obra de salvação com a sua dor de Mãe":

"No Calvário Jesus a doou a nós como mãe e confiou-nos a ela como filhos. Que Nossa Senhora das Dores nos conceda o dom de seguir o seu Filho divino crucificado, e abraçar com serenidade as dificuldades e as provações da existência humana." (Discurso às monjas clarissas, 15 de setembro de 2007) (RL)


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Diálogo judeu-católico e judeu-cristão

Nos últimos anos a Igreja tentou fazer uma revisão da história e de seu relacionamento com o judaísmo. Encíclicas e tratados foram apresentando uma visão diferente dos judeus para a própria Igreja. Ver Nostra Aetate, ver Concílio Vaticano II.

Os preconceitos anti-semitas derrubam o diálogo inter-religioso, por isso destaco a importância dos chamados 10 Pontos de Seelisberg, fruto de um colóquio judeu-cristão, elaborados na França em 1947, que serviram como base para muitos outros documentos:

l. Deve-se relembrar que um só e mesmo Deus nos fala no Antigo e no Novo Testamento.
2. Não se pode esquecer que Jesus nasceu de mãe judia, pertencia à família de Davi e ao povo de Israel, e que seu amor eterno abrange o seu povo e o mundo inteiro.
3. Recorde-se ainda que os primeiros discípulos, os apóstolos e os primeiros mártires eram judeus.
4. Tenha-se presente que o principal mandamento do cristianismo, o amor de Deus e do próximo, anunciado no Antigo Testamento e confirmado por Jesus, obriga igualmente cristãos e judeus, em todas as relações humanas.
5. Deve-se evitar diminuir o judaísmo bíblico e pós-bíblico para exaltar o cristianismo.
6. Não se deve empregar a palavra “judeu” para designar exclusivamente os inimigos de Jesus, e as palavras “inimigos de Jesus” para designar o povo judeu em seu conjunto.
7. Não se deve apresentar a Paixão de Jesus como se todos os judeus, ou somente os judeus, tivessem incorrido na odiosidade da crucificação. Não foram todos os judeus que pediram a morte de Jesus, nem foram somente judeus que se responsabilizaram por ela. A Cruz, que salva a humanidade, revela que Cristo morreu pelos pecados de todos. Pais e mestres cristãos deveriam ser alertados a respeito de sua grande responsabilidade na maneira de narrar os padecimentos de Jesus. Se o fazem de uma forma superficial, correm o risco de fomentar aversões no coração das crianças ou dos ouvintes. Numa mente simples, movida por um ardente amor compassivo pelo Salvador crucificado, o horror natural dos perseguidores de Jesus pode facilmente tornar-se, por motivos psicológicos, ódio indiscriminado pelo judeu de todos os tempos, inclusive de nossos dias.
8. Não se devem evocar as condenações bíblicas e o grito da multidão enraivecida: “Que seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,25) sem relembrar que esse grito não anulou as palavras de nosso Senhor, de conseqüências incomparavelmente maiores: “Pai, perdoa-lhes; eles não sabem o que fazem” (Lc 23,24).
9. É preciso evitar qualquer tentativa de mostrar os judeus como um povo reprovado, amaldiçoado e votado a um sofrimento perpétuo.
10. Deve-se mencionar que os primeiros membros da Igreja eram judeus.

Uma viagem no tempo

Se voltamos ainda mais na história, encontraremos a total intolerância na época das Cruzadas (1099-1291 da Era Comum) e na época dos Grandes Impérios. Quando o catolicismo tornou-se religião oficial do Império Romano, os judeus foram mais perseguidos que outros povos por motivos religiosos.
A destruição do Segundo Grande Templo de Jerusalém, no ano 70 da Era Comum, desestimulou qualquer forma de diálogo, gerando, pelo contrário, reações de revolta religiosa. Ver a história dos Macabeus. Ao longo da história, os inimigos do povo de Israel tinham como primeiro objetivo destruir o Grande Templo de Jerusalém. Achavam que com a destruição do centro espiritual judaico conseguiriam a dispersão e assimilação dos judeus. É interessante que o judeu conseguiu reconstruir seu micro-universo e, acima de tudo, produzir novas fontes de expressão cultural seja onde for.

Nessas circunstâncias não existia muita margem para um diálogo inter-religioso. O judeu estava preocupado com a sua sobrevivência. Se chegamos à origem do cristianismo, o afastamento entre judeus e Jesus se deu mais na época dos apóstolos. Jesus e seus discípulos apareciam como um partido religioso dentro da comunidade judaica. Quando ouve discordância de critérios e princípios, o diálogo passou a segundo plano. Poderíamos dizer que em todos os tempos existiu intenção de diálogo entre judeus e cristãos, muitas vezes frustrado por fatos históricos e pelo egoísmo dos líderes que tentaram privar as suas comunidades de um relacionamento normal e civilizado.

Diálogo inter-religioso no Brasil

Desde 1962, desenvolveu-se um trabalho de relacionamento fraterno entre judeus e cristãos, através do Conselho de Fraternidade Cristã-Judaica, que continua a realizar diversas atividades culturais e religiosas, com o objetivo de um conhecimento mútuo e difusão dos laços comuns entre as religiões judaica e cristã.

Em 1981, foi criada, por iniciativa da CNBB, a Comissão Nacional do Diálogo com os Judeus, contando com a participação de cinco membros nomeados pela CNBB e cinco judeus convidados pela mesma entidade. Sua finalidade é articular em nível nacional o diálogo oficial da Igreja Católica no Brasil com a comunidade judaica no país. O expoente máximo da comunidade judaica que participa da Comissão é o rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Comunidade Israelita Paulista (CIP). Em Porto Alegre, a instituição que lidero, SIBRA, faz parte do Grupo de Diálogo Inter-Religioso que funciona na Associação Cristã de Moços (ACM). Há seis anos que participo do grupo, ministrando palestras, participando em cultos, inaugurações, atos oficiais, visitando presídios e fazendo campanhas de agasalhos. O nosso objetivo é educar as nossas comunidades para vencer os preconceitos e a ignorância, que criam barreiras e impedem uma aproximação sincera entre as religiões. Só na hora que conhecermos os nossos irmãos na sua forma de ser e pensar, poderemos respeitá-los.

Fonte:

Guershon Kwasniewski, Diálogo judeu-católico e judeu-cristão, in: Estudos Teológicos, 42(2):73-77, 2002.

A Igreja católica e a comunidade judaica

Sondando o mistério da Igreja, este sagrado Concílio recorda o vínculo com que o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão.

Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas. Professa que todos os cristãos, filhos de Abraão segundo a fé (6), estão incluídos na vocação deste patriarca e que a salvação da Igreja foi misticamente prefigurada no êxodo do povo escolhido da terra da escravidão. A Igreja não pode, por isso, esquecer que foi por meio desse povo, com o qual Deus se dignou, na sua inefável misericórdia, estabelecer a antiga Aliança, que ela recebeu a revelação do Antigo Testamento e se alimenta da raiz da oliveira mansa, na qual foram enxertados os ramos da oliveira brava, os gentios (7). Com efeito, a Igreja acredita que Cristo, nossa paz, reconciliou pela cruz os judeus e os gentios, de ambos fazendo um só, em Si mesmo (8).

Também tem sempre diante dos olhos as palavras do Apóstolo Paulo a respeito dos seus compatriotas: «deles é a adopção filial e a glória, a aliança e a legislação, o culto e as promessas; deles os patriarcas, e deles nasceu, segundo a carne, Cristo» (Rom. 9, 4-5), filho da Virgem Maria. Recorda ainda a Igreja que os Apóstolos, fundamentos e colunas da Igreja, nasceram do povo judaico, bem como muitos daqueles primeiros discípulos, que anunciaram ao mundo o Evangelho de Cristo.

Segundo o testemunho da Sagrada Escritura, Jerusalém não conheceu o tempo em que foi visitada (9); e os judeus, em grande parte, não receberam o Evangelho; antes, não poucos se opuseram à sua difusão (10). No entanto, segundo o Apóstolo, os judeus continuam ainda, por causa dos patriarcas, a ser muito amados de Deus, cujos dons e vocação não conhecem arrependimento (11). Com os profetas e o mesmo Apóstolo, a Igreja espera por aquele dia. só de Deus conhecido, em que todos os povos invocarão a Deus com uma só voz e «o servirão debaixo dum mesmo jugo» (Sof. 3,9) (12).

Sendo assim tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este sagrado Concílio quer fomentar e recomendar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos.

Ainda que as autoridades dos judeus e os seus sequazes urgiram a condenação de Cristo à morte (13) não se pode, todavia, imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem aos judeus do nosso tempo, o que na Sua paixão se perpetrou. E embora a Igreja seja o novo Povo de Deus, nem por isso os judeus devem ser apresentados como reprovados por Deus e malditos, como se tal coisa se concluísse da Sagrada Escritura. Procurem todos, por isso, evitar que, tanto na catequese como na pregação da palavra de Deus, se ensine seja o que for que não esteja conforme com a verdade evangélica e com o espírito de Cristo.

Além disso, a Igreja, que reprova quaisquer perseguições contra quaisquer homens, lembrada do seu comum património com os judeus, e levada não por razões políticas mas pela religiosa. caridade evangélica. deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de anti-semitismo, seja qual for o tempo em que isso sucedeu e seja quem for a pessoa que isso promoveu contra os judeus.

De resto, como a Igreja sempre ensinou e ensina, Cristo sofreu, voluntariamente e com imenso amor, a Sua paixão e morte, pelos pecados de todos os homens, para que todos alcancem a salvação. O dever da Igreja, ao pregar, é portanto, anunciar a cruz de Cristo como sinal do amor universal de Deus e como fonte de toda a graça.

Fonte:

COMO É A IGREJA ORTODOXA

Oficialmente, adotam o nome de Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, também chamada de grega cismática em oposição à Igreja Latina, de Roma. Para os ortodoxos foi a Igreja de Roma que rompeu com a tradição apostólica e por isso se consideram os únicos depositários da doutrina apostólica e representante da fé cristã no Oriente. Aceitam a Bíblia, e a Sagrada Tradição, como os católicos, e a sua doutrina se baseia na Sagrada Escritura, nos sete primeiros concílios ecumênicos e nas obras dos Santos Padres. Conservam os sete sacramentos deixados por Cristo e a missa sempre solene é pouco freqüente. Não usam instrumentos, inclusive o órgão, cabendo ao coral importante papel nos trabalhos litúrgicos. Não aceitam o purgatório, o primado do papa e a sua infalibilidade. Para eles o Espírito Santo procede somente do pai e não do filho. Negam o dogma da Imaculada Conceição mas têm uma excepcional veneração por Nossa Senhora e celebram a sua Assunção ao céu. É proibido o uso de imagens esculpidas mas permite-se as imagens pintadas. Veneram os santos a admitem ícones (imagens) representando Cristo, a Virgem Maria ou outro santo destacado. A liturgia é centro da vida ortodoxa, tanto para a expressão da fé como para a educação dos fiéis. Assim como na Igreja Romana, os graus da ordem são três:  diáconos, padres e bispos. A autoridade suprema regional é o Santo Sínodo Tópico formado pelos metropolitas (chefes das arquidioceses). O Patriarca Ecumênico de Constantinopla recebe o título de sua Santidade enquanto os demais patriarcas, os de sua Beatitude. Bispos, arcebispos, metropolitas e patriarcas são iguais na sucessão. Os padres podem se casar mas os bispos são escolhidos entre os solteiros.

Embora o cisma ocorresse em 858, a separação definitiva só se deu em 1054. Várias tentativas de reaproximação foram feitas posteriormente (a maior com o papa Eugênio IV, no Concílio de Florença, Século XIII) mas todas fracassaram. Mais tarde, com a queda de Constantinopla no ano de 1453, tomada pelos turcos muçulmanos, o Império Romano do Oriente (Bizâncio) deixou de existir. O Ocidente foi acusado de não socorrer seus irmãos do Oriente na luta contra os turcos e portanto a união ficou mais inviável ainda.


A igreja Ortodoxa se espalhou pelo Oriente, se fixou na Grécia, Bálcãs (Romênia, Bulgária, Iugoslávia... ) na Rússia e Finlândia entre outros países. Teve um papel importante na Rússia, durante o regime imperial, até 1917. Hoje os principais patriarcados são os de Istambul (antiga Constantinopla) na Turquia, Alexandria (Egito), Jerusalém, e Antioquia (na Síria). Os ortodoxos espalharam sua fé até lugares distantes como Austrália, Japão, Estados Unidos e no Brasil, onde se encontram mais na região sul do país.

Fonte: