As perseguições
que Jesus sofreu até a morte revelam a força do mal, do pecado, do egoísmo e
todas as suas sequelas, bem como sua oposição ao Reino de Deus. Durante toda a
sua missão, desde o início, Jesus experimentou a reação e a oposição dos
pecados e egoísmos concretos de sua época. Jesus experimentou o mal como uma
realidade (o que ele chamava "a hora das trevas") e como uma
realidade poderosa. Não se deve subestimar a força do mal na vida de Jesus, mal
que se expressou em pecados e injustiças próprios dos homens e da sociedade da
época, como agora continua se concretizando em nossa época. O mal levou Jesus não
só à morte (fracasso aparente de sua vida), mas também frustrou seus objetivos
imediatos em relação à propagação do Reino, à conversão de Israel e à aceitação
de sua obra (fracasso aparente de sua missão).
Jesus
crucificado é a prova da força e da persistência do mal no mundo e em cada um
de nós.
Pelo aspecto
negativo, a cruz nos ensina que o mal é invencível enquanto durar a história.
Que sempre reaparece de novas maneiras. Que sua persistência é uma trágica
realidade. Que sua oposição aos valores do Reino de Deus é constante. Que, hoje
como sempre, ele é capaz de levar ao fracasso a obra da Igreja aqui ou ali, bem
como o esforço de cada um de nós para nos convertermos a seguir a Jesus.
A cruz nos
ensina que a conversão do mundo contém a profunda dimensão de uma luta contra o
mal (o pecado), que hoje se expressa em formas concretas: a corrida
armamentista, as ameaças contra a vida, a corrupção do amor, a exploração do
homem pelo homem, a fome, a miséria, o materialismo e todas as formas de
injustiça. O mal é forte, persistente, coletivo e reaparece continuamente. Esse
mal pode sufocar e levar a causa do Reino ao fracasso aparente. Em outras
palavras, a crucifixão de Jesus, encarnação da inocência e do bem, nos recorda
hoje, através do símbolo do crucifixo, que os inocentes, bons, fracos, pobres e
desamparados da terra continuam sendo crucificados. Pela cruz, a paixão de
Cristo é a paixão do mundo e esta é a paixão de Cristo.
Fonte: GALILEA,
S.; O Caminho da Espiritualidade, Edições Paulinas: São Paulo, 1985, p.
226-227.
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