O sumo-sacerdote
verdadeiro encontrou sua realização em Cristo, que é para sempre o verdadeiro
Sumo Sacerdote, o verdadeiro mediador entre Deus e os homens. Porém, em sua
base se encontra um pensamento teológico profundo: Jesus Cristo, o Sumo
Sacerdote verdadeiro, não só pôs fim ao antigo sacerdócio judaico, ele o
consumou em sua pessoa. A noção de sumo sacerdote não está muito distanciada da
de Ebed lahweh. Para este último o caráter voluntário de seu sacrifício é um
ponto essencial. Encontra-se de novo uma afirmação análoga na Epístola aos
Hebreus, que transforma a antiga concepção judaica de sacrifício para por em
primeiro plano o caráter voluntário do sacrifício oferecido pelo sumo
sacerdote: "Ele se ofereceu a si mesmo" (Hb 7.27). Aqui o autor se
liberta das especulações judaicas relativas ao sacerdócio, pois sendo Jesus
designado como sumo sacedote, a idéia sacerdotal se associa automaticamente à
de Ebed. A função do sumo sacerdote é oferecer sacrifícios. Porém, Jesus mesmo
é a vítima. É ao mesmo tempo o sacrificador e o sacrificado, quer dizer, ele só
pode sacrificar a si mesmo.
O elemento novo
e valioso que entra, no entanto, na cristologia, graças à concepção judaica de
sumo sacerdote, é a idéia de que Cristo, ao sacrificar-se, manifesta sua
soberania sacerdotal; isto é, que a espécie de passividade do cordeiro pascal é
descartada ainda mais cabalmente do que na noção de Ebed lahweh. Éprecisamente
sacrificando- se, indo, portanto, ao mais fundo da humilhação, que Jesus exerce
a função mais divina que se conhece em Israel: a de mediador sacerdotal. Daí o
elo estreito que aparece na Epístola aos Hebreus entre a idéia de Soberano
Sacerdote e a de Filho de Deus. A dialética própria ao Novo Testamento, que
descobre a majestade mais alta na humilhação mais profunda, se manifesta,
graças à noção de sumo sacerdote, na morte expiatória de Jesus. Aí reside a
grande importância desta concepção cristológica. Jesus realiza de uma vez o
antigo sacerdócio judaico e, cumprindo-o, o torna supérfluo.
A cristologia da
Epístola aos Hebreus tem ainda um outro aspecto: Jesus, o sumo sacerdote, leva
a humanidade à sua "perfeição" tornando-se ele mesmo
"perfeito". Ele restabelece assim o pacto com Deus. O termo teleioV e as expressões
que lhe são aparentadas têm um papel importante e permitem uma aproximação à
noção de Filho do Homem. Como o sumo sacerdote é mediador entre Deus e o homem,
a realização do homem perfeito representa a coroação de sua obra. O termo teleioV evoca a idéia
de perfeição e plenitude.
Fonte: CULLMANN, O.,
Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São Paulo, 2001, p. 113-125.
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