A criação tem essencialmente um papel de
revelação; a sua existência dimana da única existência anterior a ela mesma, a
de Deus e do logos; a criação está ligada à existência de Deus, que lhe
possibilitou, pelo logos, o seu chegar a ser, existiu sempre nele; a vida dos
seres não pode se entender isolada da ação do logos: ‘O que foi feito tinha
vida nele’ (1,4). E esta mesma vida dos seres converte-se em luz para os homens
(1,4b). Não é a vida do logos, e sim a das criaturas, que devia ter funcionado
como farol iluminador do homem, o qual, através delas, devia ter chegado até
Deus. É no fundo, o mesmo pensamento de Rm 1,20: ‘O invisível dele (de Deus) se
mostra aos homens a partir da criatura’.
Continuamente, desde que o mundo é
mundo, o homem tinha podido chegar ao conhecimento de Deus, porque a criação
participa, no seu ser mais íntimo, o seu ser-no-mundo, da capacidade reveladora
do logos. O homem, porém, não chegou a aceitar, a captar esta indicação,
ficando às escuras sobre o verdadeiro ser de Deus.
As relações do logos com o mundo do
criado não ficam apenas no âmbito da pura natureza. A participação vital de o
seu existir chega ao máximo com o que poderíamos chamar a segunda criação, que
começa a verificar-se na terra a partir da vinda pessoal do logos (1,11-13).
Numa segunda etapa da revelação, o logos
vem aos seus, instala-se no meio dos homens e torna participantes da sua
essência divina aqueles que o acolheram. O cristão torna-se filho de Deus.
Neste sentido, Jesus é denominado Deus unigênito (1,18): é o primeiro na série
de filhos de Deus.
A diferença, porém, entre Jesus e os
cristãos, é profunda. Jesus é o logos preexistente que chegou a ser homem; o
cristão é o homem existente que chega a ser filho de Deus. Jesus é o
capacitador desta filiação.
Esta nova criação é ao mesmo tempo
revelação. No cristão está se revelando a figura mais exata de Deus, que se fez
historicamente presente em Jesus de Nazaré. O mundo divino, que se fez pleno em
Jesus de Nazaré, continua a sua história terrestre nas pessoas dos cristãos. E
os homens poderão ver no cristão a imagem viva do Deus que por amor se fez
homem e morreu na cruz.
Fonte: DE LA CALLE, F.; A Teologia do
quarto Evangelho, Edições Paulinas : São Paulo, 1978, p. 43-45, Coleção
Teologia dos Evangelhos de Jesus – 4.
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