terça-feira, 5 de novembro de 2013

Logos e a criação





A criação tem essencialmente um papel de revelação; a sua existência dimana da única existência anterior a ela mesma, a de Deus e do logos; a criação está ligada à existência de Deus, que lhe possibilitou, pelo logos, o seu chegar a ser, existiu sempre nele; a vida dos seres não pode se entender isolada da ação do logos: ‘O que foi feito tinha vida nele’ (1,4). E esta mesma vida dos seres converte-se em luz para os homens (1,4b). Não é a vida do logos, e sim a das criaturas, que devia ter funcionado como farol iluminador do homem, o qual, através delas, devia ter chegado até Deus. É no fundo, o mesmo pensamento de Rm 1,20: ‘O invisível dele (de Deus) se mostra aos homens a partir da criatura’.

Continuamente, desde que o mundo é mundo, o homem tinha podido chegar ao conhecimento de Deus, porque a criação participa, no seu ser mais íntimo, o seu ser-no-mundo, da capacidade reveladora do logos. O homem, porém, não chegou a aceitar, a captar esta indicação, ficando às escuras sobre o verdadeiro ser de Deus.

As relações do logos com o mundo do criado não ficam apenas no âmbito da pura natureza. A participação vital de o seu existir chega ao máximo com o que poderíamos chamar a segunda criação, que começa a verificar-se na terra a partir da vinda pessoal do logos (1,11-13).

Numa segunda etapa da revelação, o logos vem aos seus, instala-se no meio dos homens e torna participantes da sua essência divina aqueles que o acolheram. O cristão torna-se filho de Deus. Neste sentido, Jesus é denominado Deus unigênito (1,18): é o primeiro na série de filhos de Deus.

A diferença, porém, entre Jesus e os cristãos, é profunda. Jesus é o logos preexistente que chegou a ser homem; o cristão é o homem existente que chega a ser filho de Deus. Jesus é o capacitador desta filiação.

Esta nova criação é ao mesmo tempo revelação. No cristão está se revelando a figura mais exata de Deus, que se fez historicamente presente em Jesus de Nazaré. O mundo divino, que se fez pleno em Jesus de Nazaré, continua a sua história terrestre nas pessoas dos cristãos. E os homens poderão ver no cristão a imagem viva do Deus que por amor se fez homem e morreu na cruz.


Fonte: DE LA CALLE, F.; A Teologia do quarto Evangelho, Edições Paulinas : São Paulo, 1978, p. 43-45, Coleção Teologia dos Evangelhos de Jesus – 4.
 

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