quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O "FILHO DE DEUS" NO JUDAÍSMO







No Antigo Testamento esta expressão é empregada de três maneiras diferentes: primeiro, o povo de Israel inteiro é chamado "filho de Deus"; em segundo lugar, o rei porta este título; e, finalmente, certos comissionados especiais de Deus, tais como os anjos e, talvez, também o Messias, são chamados assim.


Os textos a considerar aqui são: primeiro aqueles onde o povo é chamado "filho de Deus". Em Ex 4,22 s., Moisés recebe a ordem de dizer ao Faraó: "Israel é meu filho, meu primogênito". Em Oséias 11,1 lahweh diz: "E do Egito chamei o meu filho". Em Is 1,2 e 30,1 os israelitas em conjunto são chamados "filhos", e em Jr 3, 22 se lhes qualifica de "filhos rebeldes". Em Is 63,16 os israelitas dizem a Deus: "Tu és nosso Pai", e dão a esta palavra uma acepção que implica que Israel é "filho de Deus" em um sentido muito especial. Poderíamos, na mesma ordem de ideias, citar ainda outras passagens como Jr 31,20; Is 45,11; Sl 82,6; Ml 1,6.

Em todos estes textos o título "filho de Deus" expressa, ao mesmo tempo, a ideia de Deus eleger este povo com vistas a uma missão particular e a deste povo dever-lhe obediência absoluta. Isto corresponde exatamente à maneira como Deus chama "filho" ao rei, representante do povo escolhido: "Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho" (2 Sm 7,14); ou: "Tu és meu
filho; hoje te gerei" (Sl 2,7: passagem do Salmo real tão amiúde citado pelos cristãos); ou ainda: "Ele (o rei) me invocará: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação" (Sl 89,27). O rei é também "filho" como eleito e mandatário de Deus. Surge, em especial, a compreensão de

que ao rei se chama "filho de Deus" pela mesma razão que ao povo. Se o rei é o filho de Deus, é por sê-lo o povo. É aí onde os anjos aparecem como "filhos de Deus" - sem dúvida trata-se principalmente de iias míticas: como os "filhos dos deuses" de Gn 6.2 a iia dos autores do Antigo Testamento é sempre a de que são mandatários de Deus.


CULLMANN, O., Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São Paulo, 2001, p. 356-359
 

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