É necessário examinar
o emprego do título Filho de Deus no helenismo em que voltar a tomar, como no caso do título Kyrios,a aplicação do título "Filho de Deus" ao Jesus terreno. O título é
impossível não só na boca
do mesmo, como também por parte da comunidade palestina. Este título não poderia ter sido conferido a ele senão no cristianismo helenístico e com o sentido que já possuía no
mundo helenístico.
A comunidade palestinense teria conferido o título de "Filho de Deus" ao
Ressuscitado referindo-se ao Sl 2. Encontra prova para isso particularmente em Mc 9.7, pois que o relato da transfiguração, com a voz de Deus que se faz ouvir, seria na realidade uma transposição retrospectiva
da história da Páscoa.
Estudos, sobre o
título "Filho de Deus", apontam uma rica documentação sobre os
"filhos de Deus" no helenismo. A origem desta noção tem que ser buscada nas antigas religiões orientais
onde principalmente os reis eram considerados como
gerados pelos
deuses. Esta crença estava particularmente espalhada no Egito, onde os faraós
passavam por ser filhos do deus
sol Rá. Ela é atestada
também, porém, com menor clareza, na Babilônia e na Assíria. A escola de Upsala de acordo
com sua tendência geral, pensa que a idéia da filiação divina do rei se relaciona
com as festas de entronização que o Oriente antigo conhecia. Para a época do
Novo Testamento, pode-se pensar também nos imperadores romanos e no título de dei filius que lhes era conferido.
Porém, no
helenismo, este título não é monopólio exclusivo de monarcas. Muito pelo
contrário, gente de toda classe, a quem se atribuíam forças divinas, era chamada "filho de
Deus"; ou reclamavam para si mesmos este título: todos os taumaturgos eram ‘filhos de Deus’.
A pretensão destes homens de serem
"filhos de Deus" baseia-se unicamente na convicção que tinham de serem dotados de
"forças divinas". Ademais, no helenismo esta noção está tão vigorosamente arraigada em
uma maneira de pensar politeísta que ela dificilmente pode ser transplantada para o terreno
monoteísta. Estes taumaturgos carecem da
consciência de cumprir o plano divino, aquela consciência de uma unidade de vontade com o Deus único, que
encontramos
em Jesus. O que o mundo helenístico nos dá por "filho de Deus" costuma ter um caráter totalmente diferente do que por ele entende o Novo Testamento. Porém, cabe perguntarmos se o monoteísmo do Antigo Testamento já não possui uma noção de Filho de Deus, que sem ser idêntica à concepção cristã, poderia, no entanto, oferecer a esta um ponto de partida mais direto.
Fonte: CULLMANN, O., Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São
Paulo, 2001, p. 354-356
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