É possível
falar, num sentido cristológico, da atitude de Jesus para com a noção de sumo
sacerdote? Alguém poderia sentir-se tentado a descartar, de inicio, esta
questão como carente de objeto e passar imediatamente à idéia de Ihsous
arciereuV no
cristianismo primitivo.
Com efeito,
parece à primeira vista impossível que Jesus tenha atribuído a si mesmo funções
sacerdotais quando se pensa, por exemplo, em sua atitude para com o templo.
Mesmo se a purificação do templo teve por objetivo não sua supressão, mas a
restauração de sua autêntica missão, não é menos certo que Jesus pronunciou
palavras que põem diretamente em questão o culto do Templo. Por exemplo, quando
disse: "Há aqui alguém maior que o Templo" (Mt 12,6). Atrás destas
palavras há, certamente, uma declaração de Jesus que anunciava o desaparecimento
do Templo.
Tenha ou não
compreendido sua missão desta maneira, em todo caso Jesus estava persuadido de
que, com a sua vinda, inaugura o fim dos tempos, o culto do templo não podia
permanecer como antes.
A atitude
crítica de Jesus para com o sacerdócio não deve, no entanto, fazer-nos recusar
a ideia de que ele tenha podido integrar a noção de sumo sacerdote à concepção
de sua missão. Temos visto que já no judaísmo, a crítica ao sacerdócio empírico
seguia paralela à esperança de um sacerdócio ideal. No Salmo 110, em que o rei
é chamado "sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque", ele não é só
colocado acima do sumo sacerdote judaico, como também é posto, de certo modo,
como seu concorrente. Não se descarta que Jesus tenha aplicado a si mesmo, se
não o título ao menos a ideia de um sumo sacerdote "segundo a ordem de
Melquisedeque".
Fonte: CULLMANN, O.,
Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São Paulo, 2001, p. 113-125.
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