quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Jesus e a concepção de Sumo Sacerdote

É possível falar, num sentido cristológico, da atitude de Jesus para com a noção de sumo sacerdote? Alguém poderia sentir-se tentado a descartar, de inicio, esta questão como carente de objeto e passar imediatamente à idéia de Ihsous arciereuV no cristianismo primitivo.

Com efeito, parece à primeira vista impossível que Jesus tenha atribuído a si mesmo funções sacerdotais quando se pensa, por exemplo, em sua atitude para com o templo. Mesmo se a purificação do templo teve por objetivo não sua supressão, mas a restauração de sua autêntica missão, não é menos certo que Jesus pronunciou palavras que põem diretamente em questão o culto do Templo. Por exemplo, quando disse: "Há aqui alguém maior que o Templo" (Mt 12,6). Atrás destas palavras há, certamente, uma declaração de Jesus que anunciava o desaparecimento do Templo.

Tenha ou não compreendido sua missão desta maneira, em todo caso Jesus estava persuadido de que, com a sua vinda, inaugura o fim dos tempos, o culto do templo não podia permanecer como antes.


A atitude crítica de Jesus para com o sacerdócio não deve, no entanto, fazer-nos recusar a ideia de que ele tenha podido integrar a noção de sumo sacerdote à concepção de sua missão. Temos visto que já no judaísmo, a crítica ao sacerdócio empírico seguia paralela à esperança de um sacerdócio ideal. No Salmo 110, em que o rei é chamado "sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque", ele não é só colocado acima do sumo sacerdote judaico, como também é posto, de certo modo, como seu concorrente. Não se descarta que Jesus tenha aplicado a si mesmo, se não o título ao menos a ideia de um sumo sacerdote "segundo a ordem de Melquisedeque".

Fonte: CULLMANN, O., Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São Paulo, 2001, p. 113-125.

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