O autor na introdução de seu ensaio apresenta
uma proposta em que a investigação cristológica se utiliza de um método
denominado de método histórico-filológico. Este método seria uma tentativa de
síntese entre a dogmática e a crítica histórica. Cullmann analisa
filologicamente o texto, interpretando-o e utilizando-o como fundamento para a
compreensão do Cristo, sem a utilização de esquemas filosófico-teológicos.
Ao relatar sobre a humanidade de
Cristo, Cullmann alega que Jesus seria como um judeu, que por intermédio de sua
vida, inaugurou uma religião diferente do judaísmo, iniciando uma cosmologia
diferente da encontrada no helenismo. Cullmann também afirma que a dogmática,
predominantemente metafísica, deveria ceder espaço a perspectiva do evento
Cristo como parte integrante da história da salvação. Outra afirmação do autor
acerca da humanidade de Jesus é que na crucificação e ressurreição de Jesus, o
Cristo da fé e o Jesus histórico provam ser um único e mesmo Senhor Jesus
Cristo. Ao partir dos contextos judaicos e helênicos, Cullmann percebeu que as
titulações que antes eram empregadas em seus respectivos contextos, em Jesus as
titulações teriam sido empregadas de uma forma distinta e até mesmo de uma
forma original. Assim podemos elencar
alguns exemplos.
Ao argumentar sobre as titulações em
Jesus Cristo temos, entre os vários títulos em que acentua o ministério público
de Jesus, o Servo Sofredor de Deus, já empregado no Antigo Testamento,
principalmente em Is 42. Pois por intermédio deste título é que é possível
trabalhar o conceito de substituição (sacrifício). Muito se especulou quem
teria sido o sujeito deste Servo, como este título já fora utilizado no Antigo
Israel, afirmam que a titulação poderia ter se referido tanto ao povo de Israel
como para o próprio Rei. Outro aspecto abordado por Cullmann seria a questão de
que o sacrifico de Cristo fora realizado uma vez por todas, acentuando seu
alcance universal de salvação.
Ao título Messias, Cullmann destaca como
uma promessa de Deus a Davi, tendo em vista que Messias é traduzido no grego
pelo particípio “ungido” que se referia a homens escolhidos por Deus para
determinada missão. Neste caso a promessa davídica foi à perpetuidade de seu
reinado, cumprida na esperança escatológica de Cristo. Aliás, esta esperança
escatológica é traduzida por outro título cristológico que é o de “Filho do
Homem” que faz referência, de acordo com a crença judaica, a um homem celestial
presente em descrições da parusia; quando este homem do céu será o
executor do juízo divino sobre a terra.
Entretanto, a fé cristã não pode ser
resumida a atuação de Jesus no passado, ou a nutrição de uma expectativa da
vinda de um reino escatológico, por isso, Cullmann vê na denominação
cristológica de Kyrios, que significa “Senhor”, uma atuação atual
de Cristo sobre a comunidade cristã, como cabeça e Senhor desta comunidade.
Destarte, a adoção do termo Kyrios pelas comunidades cristãs
primitivas seria uma reação aos “senhores”, ou seja, as divindades pagãs às
quais era dispensado este mesmo tratamento. Pois os cristãos reconheciam
somente um só “Senhor”, denominando a Cristo como Kyrios, cuja
revelação desmistificava todos os outros supostos kyrioi.
Outro título cristólogico argumentado
é o de Salvador, que segundo conceito helênico de “Sóter” se aplicava
aos deuses que intervinham na história sobre as autoridades humanas quando da
libertação de determinado povo da opressão e dos males sofridos. Contudo,
Cullmann atribui o termo “Sóter” como um mero complemento de Kyrios, sendo
Cristo o nosso Sóter, por ter Ele nos salvado do pecado.
Por fim, o autor finaliza o seu
ensaio abordando o título de “Filho de Deus” que é atribuído a Jesus. Cullmann
afirma que a influência helênica acerca do conceito de “Filho de Deus” é limitada.
Pois o uso deste termo era vasto, aplicando-se a monarcas, taumaturgos, pessoas
que de alguma forma manifestavam poderes sobrenaturais, e por estar presente
como expressão comum em obras antigas. Assim sendo, Cullmann conclui é que
Jesus designou-se como “Filho de Deus”, para demonstrar sua consciência de
intimidade ímpar com o Deus Pai, zelando para que esta intimidade fosse
separada de qualquer associação a uma realeza messiânica. Isto é, para Cullmann
Jesus é “Deus enquanto se revela”, pois somente há sentido em se falar da
divindade de Jesus quando associada à história da salvação, porque foi desta
forma que Deus se revelara nas Escrituras, cuja concepção de Deus não é
esgotada.
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