domingo, 17 de novembro de 2013

Considerações acerca da obra Cristologia do Novo Testamento do autor Oscar Cullmann

O autor na introdução de seu ensaio apresenta uma proposta em que a investigação cristológica se utiliza de um método denominado de método histórico-filológico. Este método seria uma tentativa de síntese entre a dogmática e a crítica histórica. Cullmann analisa filologicamente o texto, interpretando-o e utilizando-o como fundamento para a compreensão do Cristo, sem a utilização de esquemas filosófico-teológicos.

Ao relatar sobre a humanidade de Cristo, Cullmann alega que Jesus seria como um judeu, que por intermédio de sua vida, inaugurou uma religião diferente do judaísmo, iniciando uma cosmologia diferente da encontrada no helenismo. Cullmann também afirma que a dogmática, predominantemente metafísica, deveria ceder espaço a perspectiva do evento Cristo como parte integrante da história da salvação. Outra afirmação do autor acerca da humanidade de Jesus é que na crucificação e ressurreição de Jesus, o Cristo da fé e o Jesus histórico provam ser um único e mesmo Senhor Jesus Cristo. Ao partir dos contextos judaicos e helênicos, Cullmann percebeu que as titulações que antes eram empregadas em seus respectivos contextos, em Jesus as titulações teriam sido empregadas de uma forma distinta e até mesmo de uma forma original.  Assim podemos elencar alguns exemplos.

Ao argumentar sobre as titulações em Jesus Cristo temos, entre os vários títulos em que acentua o ministério público de Jesus, o Servo Sofredor de Deus, já empregado no Antigo Testamento, principalmente em Is 42. Pois por intermédio deste título é que é possível trabalhar o conceito de substituição (sacrifício). Muito se especulou quem teria sido o sujeito deste Servo, como este título já fora utilizado no Antigo Israel, afirmam que a titulação poderia ter se referido tanto ao povo de Israel como para o próprio Rei. Outro aspecto abordado por Cullmann seria a questão de que o sacrifico de Cristo fora realizado uma vez por todas, acentuando seu alcance universal de salvação.

Ao título Messias, Cullmann destaca como uma promessa de Deus a Davi, tendo em vista que Messias é traduzido no grego pelo particípio “ungido” que se referia a homens escolhidos por Deus para determinada missão. Neste caso a promessa davídica foi à perpetuidade de seu reinado, cumprida na esperança escatológica de Cristo. Aliás, esta esperança escatológica é traduzida por outro título cristológico que é o de “Filho do Homem” que faz referência, de acordo com a crença judaica, a um homem celestial presente em descrições da parusia; quando este homem do céu será o executor do juízo divino sobre a terra.

Entretanto, a fé cristã não pode ser resumida a atuação de Jesus no passado, ou a nutrição de uma expectativa da vinda de um reino escatológico, por isso, Cullmann vê na denominação cristológica de Kyrios, que significa “Senhor”, uma atuação atual de Cristo sobre a comunidade cristã, como cabeça e Senhor desta comunidade. Destarte, a adoção do termo Kyrios pelas comunidades cristãs primitivas seria uma reação aos “senhores”, ou seja, as divindades pagãs às quais era dispensado este mesmo tratamento. Pois os cristãos reconheciam somente um só “Senhor”, denominando a Cristo como Kyrios, cuja revelação desmistificava todos os outros supostos kyrioi.


Outro título cristólogico argumentado é o de Salvador, que segundo conceito helênico de “Sóter” se aplicava aos deuses que intervinham na história sobre as autoridades humanas quando da libertação de determinado povo da opressão e dos males sofridos. Contudo, Cullmann atribui o termo “Sóter” como um mero complemento de Kyrios, sendo Cristo o nosso Sóter, por ter Ele nos salvado do pecado.


Por fim, o autor finaliza o seu ensaio abordando o título de “Filho de Deus” que é atribuído a Jesus. Cullmann afirma que a influência helênica acerca do conceito de “Filho de Deus” é limitada. Pois o uso deste termo era vasto, aplicando-se a monarcas, taumaturgos, pessoas que de alguma forma manifestavam poderes sobrenaturais, e por estar presente como expressão comum em obras antigas. Assim sendo, Cullmann conclui é que Jesus designou-se como “Filho de Deus”, para demonstrar sua consciência de intimidade ímpar com o Deus Pai, zelando para que esta intimidade fosse separada de qualquer associação a uma realeza messiânica. Isto é, para Cullmann Jesus é “Deus enquanto se revela”, pois somente há sentido em se falar da divindade de Jesus quando associada à história da salvação, porque foi desta forma que Deus se revelara nas Escrituras, cuja concepção de Deus não é esgotada.

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