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Tentou-se explicar a
raridade do título Sotér invocando-se o fato de ser o mesmo muito difundido nos
meios pagãos do mundo helenístico, o que fez com que seu uso se tornasse
suspeito para os cristãos.t" Porém, a mesma coisa poderia ser afirmada, e
com maior razão, a respeito do título Kyrios; no entanto, isso não foi
obstáculo para que bem cedo chegasse a ser, para o cristianismo primitivo, a
principal expressão de sua fé em Cristo. A aparição tardia do título
"Salvador", nos parece devida justamente ao papel eminente que
desempenhou o de Kyrios: por um lado, a fé no Senhor glorificado permitiu
conferir a Jesus o título "Salvador", que o Antigo Testamento
atribuiu a Deus, por outro, o nome de Kyrios. Por conseguinte,
não é surpreendente que Sotér seja empregado, amiúde, no Novo Testamento como
mero complemento de Kyrios (Fl 3,20; 2 P 1,1.11; 2,20; 3,2.18).
Por outro lado,
um outro fato deve nos chocar: as Epístolas Pastorais, onde Jesus é mais
freqüentemente chamado Sotér dão geralmente, e frequentemente na mesma
passagem, o título de Salvador, Sotér, a Deus. Isto nos faz supor que tal
intitulação cristológica seja um título divino do Antigo Testamento transferido
a Jesus, e isto confirmaria que o título "Salvador", como todos os títulos
divinos, foi atribuído a Jesus por Ele já haver sido confessado como Kyrios.
Fonte: CULLMANN, O., Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São
Paulo, 2001, p. 311-319
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