segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O prólogo de João






O chamado prólogo de João (1,1-18) é uma das passagens neotestamentárias mais discutidas. Salvo na afirmação de que se trata duma espécie de introdução a todo o evangelho, em nada se está de acordo; discute-se sobre o texto, a sua pontuação, suas fontes e interpretação; quer dizer, sobre tudo o que é matéria de discussão num texto bíblico. Dentro de um emaranhado de opiniões, é sumamente verossímil que se trate de uma composição anterior à construção do evangelho; é por isso que o seu personagem principal, o Logo, enquanto tal palavra, não torne a aparecer no contexto de todo o evangelho. Naquilo que era primitivamente um hino de procedência gnóstica e que celebrava a figura de um revelador, introduziu-se a figura do Batista e se cristianizou, identificando este Logos com Jesus de Nazaré.

 
O prólogo vem a ser uma espécie de introdução ao evangelho. Não é propriamente uma introdução à maneira de Lucas, que nos descreveu no início do seu evangelho (Lc 1,1-4) a finalidade da sua obra e a  metodologia e as fontes utilizadas. O prólogo de João é uma espécie de abertura que apresenta em síntese o tema que vai desenvolver posteriormente. É um concentrado teológico para apresentar o núcleo do pensamento joanino, a irrupção no mundo dos homens da figura ímpar do único revelado, Jesus de Nazaré. Há partes que se movem no mundo do divino; há partes que dão em resumo a história de deus no mundo dos homens.

O personagem principal é o Logos, a Palavra. E para char o seu sentido recorrem os autores a quatro hipóteses, muito em consonância com as diversas explicações dadas no âmbito vital do evangelista: dizem que é uma criação de João (1), a mesma palavra criado do Gênesis (2), o logos de Heráclito e, posteriormente, dos estóicos (3) e, finalmente, um conceito tomado da sabedoria veterotestamentária ou da gnose (4). Uma determinação não é de maneira alguma possível. Temos de contentar-nos em expor o próprio texto, sem nos apoiarmos demais em suas possíveis origens.

O certo e indiscutível é que este Logos aparece essencialmente como mediador exclusivo entre Deus e o mundo. O Deus inatingível e oculto, do qual ninguém pode chegar, a saber, coisa alguma, faz-se presente exclusivamente através deste Logos. Primeiro na criação; depois na encarnação, porque este Logos – é o caráter inaudito do pensamento joanino – chega a converter-se em homem. E é então que sabemos que Jesus de Nazaré e o logos se identificam.


Fonte: DE LA CALLE, F.; A Teologia do quarto Evangelho, Edições Paulinas : São Paulo, 1978, p. 38-40, Coleção Teologia dos Evangelhos de Jesus – 4.
 

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