O chamado prólogo de João (1,1-18) é uma
das passagens neotestamentárias mais discutidas. Salvo na afirmação de que se
trata duma espécie de introdução a todo o evangelho, em nada se está de acordo;
discute-se sobre o texto, a sua pontuação, suas fontes e interpretação; quer
dizer, sobre tudo o que é matéria de discussão num texto bíblico. Dentro de um
emaranhado de opiniões, é sumamente verossímil que se trate de uma composição
anterior à construção do evangelho; é por isso que o seu personagem principal, o
Logo, enquanto tal palavra, não torne a aparecer no contexto de todo o
evangelho. Naquilo que era primitivamente um hino de procedência gnóstica e que
celebrava a figura de um revelador, introduziu-se a figura do Batista e se
cristianizou, identificando este Logos com Jesus de Nazaré.
O prólogo vem a ser uma espécie de
introdução ao evangelho. Não é propriamente uma introdução à maneira de Lucas,
que nos descreveu no início do seu evangelho (Lc 1,1-4) a finalidade da sua
obra e a metodologia e as fontes
utilizadas. O prólogo de João é uma espécie de abertura que apresenta em
síntese o tema que vai desenvolver posteriormente. É um concentrado teológico
para apresentar o núcleo do pensamento joanino, a irrupção no mundo dos homens
da figura ímpar do único revelado, Jesus de Nazaré. Há partes que se movem no
mundo do divino; há partes que dão em resumo a história de deus no mundo dos
homens.
O personagem principal é o Logos, a
Palavra. E para char o seu sentido recorrem os autores a quatro hipóteses,
muito em consonância com as diversas explicações dadas no âmbito vital do
evangelista: dizem que é uma criação de João (1), a mesma palavra criado do
Gênesis (2), o logos de Heráclito e, posteriormente, dos estóicos (3) e,
finalmente, um conceito tomado da sabedoria veterotestamentária ou da gnose
(4). Uma determinação não é de maneira alguma possível. Temos de contentar-nos
em expor o próprio texto, sem nos apoiarmos demais em suas possíveis origens.
O certo e indiscutível é que este Logos
aparece essencialmente como mediador exclusivo entre Deus e o mundo. O Deus
inatingível e oculto, do qual ninguém pode chegar, a saber, coisa alguma,
faz-se presente exclusivamente através deste Logos. Primeiro na criação; depois
na encarnação, porque este Logos – é o caráter inaudito do pensamento joanino –
chega a converter-se em homem. E é então que sabemos que Jesus de Nazaré e o
logos se identificam.
Fonte: DE LA CALLE, F.; A Teologia do
quarto Evangelho, Edições Paulinas : São Paulo, 1978, p. 38-40, Coleção
Teologia dos Evangelhos de Jesus – 4.
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