sexta-feira, 8 de novembro de 2013

JESUS E O TÍTULO "FILHO DE DEUS"



Jesus se considerou a si mesmo como "Filho de Deus"? A resposta a esta pergunta é negativa para quando fazem remontar este título no Novo Testamento em aplicação a Jesus terreno, ao seu uso helenístico. Mesmo quando esta tese se revela, diante do exame, em ser insustentável, haveremos de perguntar se, todavia, não foi à comunidade primitiva quem considerou a Jesus como o Filho de Deus, por influência do Antigo Testamento, sem que o próprio Jesus houvesse atribuído a si mesmo este nome.

Tudo que se pode dizer no momento é que, segundo o testemunho unânime da tradição evangélica, o título "Filho de Deus", aplicado a Jesus, deve expressar o que há de único, de incomparável, em sua relação com o Pai.

As principais passagens sinóticas, nas quais Jesus aparece como o Filho de Deus não o mostra, precisamente, com o aspecto de um taumaturgo ou de um salvador semelhante a muitos outros: muito pelo contrário, eles o distinguem radicalmente de todos os demais homens para os quais atribuindo-lhe a convicção de ter de cumprir sua obra terrena em concordância perfeita e total com a vontade do Pai. Esta separação, este afastamento, não significa em primeiro lugar para Jesus a posse de um poder sobrenatural, mas a obediência absoluta no cumprimento de sua missão divina. E isto que os Sinópticos enfatizam. No relato do batismo, onde se ouve a voz celestial (Mc 1,11 par.), o título de “Filho”.

O testemunho dos Sinóticos é claro: Jesus é o Filho de Deus não como taumaturgo, mas como aquele que realiza sua missão em obediência e, mais particularmente, como aquele que aceita o sofrimento. A dignidade do Filho de Deus está associada a seu sofrimento; e que no relato da transfiguração (Mc 9,7, par.), ela é proclamada como a confirmação de sua missão divina e da unidade perfeita com o Pai na execução de sua missão.


CULLMANN, O., Cristologia do Novo Testamento, Editora Liber: São Paulo, 2001, p. 359-363.
 

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