sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A descida de Cristo aos infernos: reflexões, contrastes, símbolos e interrogações - Algumas interpretações sobre 1 Pd 3, 19-21


 
O catecismo da Igreja Católica interpreta que a descida de Cristo está relacionada com a vida, enquanto esta brota necessariamente da morte. Mas adverte que quando Cristo desceu, resgatou unicamente os justos que o antecedeu e não a todos que se encontravam ali. Neste sentido, a salvação não era para todos senão para aqueles que esperavam a chegada do Redentor. Também, com a descida, o Hades não se destruiu enquanto espaço, mas ficou subordinado à Cristo. O Acontecimento narrado em 1 Pd se constitui na última fase da missão messiânica que vinculava a salvação e entronização definitiva de Cristo logo após isso, ele obteve as chaves da morte do Hades. Sua descida assinala sua morte inegável e sua experiência enquanto homem que sofreu mas venceu[1].

Luis Alonso Schökel em seu comentário a 1 Pd manifesta-se numa perspectiva soteriológica em que o tema do descensos valorizou sua incorporação ao credo cristão. Mesmo assim, deixa entrever a preocupação mostrada pelos primeiros crentes em relação com a salvação de todos aqueles que viveram antes de Cristo ou do exercício do Batismo. No entanto, Schökel interpreta o texto numa mensagem universal, isto é, uma salvação que alcançará a todos os seres humanos a partir de uma imagem enigmática, mas por sua vez, evangelizadora[2].

Obemayer e outros reconhecem o descensus como uma forma na qual Cristo tomou as chaves da morte e do Hades depois que ele descera a este submundo. Não permanecendo ali, saiu graças a ressurreição. No entanto, afirmam: ‘posto que no reino dos mortos houvesse compartimentos separados para justos e pecadores supõe-se que Jesus anunciou sua vitória aos justos’. Desta forma, exerce uma posição excludente da mensagem soteriológica[3].

Moltmann adverte a admiração dos cristãos ao perguntar (ou responder) pelo significado da descida de Jesus. Moltmann, em consenso com o teólogo sírio Marco de Aretusa diz que a descida de Jesus o humaniza e por sua vez o diviniza em relação com os seres humanos: ‘é divino porque ele se fez irmão nosso através de todos os infernos[4]’.



Fonte: ZÚÑIGA R. M.; El descenso de Cristo a los infiernos: reflexiones, contrastes, símbolos e interrogantes, IN: SIWÔ, REVISTA DE TEOLOGÍA, Volumen 5, Número 4, 2011, p. p. 225 – 252.

Tradução: Roberto Marcelo da Silva




[1] http://www.vatican.va/archive/catechism_sp/p122a5p1_sp.html
[2] Biblia do Peregrino, 1P 3,19-21.
[3] Obermayer et al.(1975). Diccionario Bíblico Manual. Barcelona: Editorial Claret, p. 160
[4] Moltmann, J. (1974). Conversión al futuro. Madrid-Barcelona: Editorial Marova Fontanella.

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