sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A perfeição da alma de Cristo e a plenitude da verdade em Santo Tomás



Santo Tomás afirma a perfeição da alma em Cristo: Cristo esteve também pleno da verdade porque sua preciosa e beata alma conheceu toda a verdade divina e humana desde o momento de sua concepção.

É evidente que Santo Tomas está aqui aludindo à ciência da visão beatífica. A perfeição da alma de Cristo constitui o pano de fundo das respostas da primeira e da segunda objeções da questão 9 da Tertia pars da suma, dos capítulos 213 e 216 do Compêndio de teologia, etc. Que a possuiu desde o primeiro instante de sua concepção, é o tema da S. Th., III q. 34, a. 4. É também fácil observar que de trás de todas as explicações que o Aquinate oferece sobre esta matéria, está o tema de fundo da perfeição da natureza humana de Cristo. Assim, o expressa em numerosas ocasiões: ‘Christo attribuere debemus secundum animam omnem perfectionem spiritualem quae sibi potest attribuit’. No entanto, não só é este o princípio o único a considerar. As razões de conveniência se baseiam também na plenitude da santidade de Cristo.

Na época atual, em que se debate não só a possibilidade de uma ‘cristologia a partir de baixo’ senão também uma ‘cristologia daqueles abaixo’, em alguns ambientes pode tornar difícil aceitar a postura de Santo Tomás de que no mistério da Encarnação ‘magis consideratur descensos divinae plenitudinis in naturam humanam, quam profectus humanae, quasi praexistentis, in Deum’. Mas também explica as dificuldades que alguns teólogos encontram em torno do problema que a negação da visão beatífica de Cristo suscita e se começa a falar da fé de Cristo. Durante anos os teólogos têm utilizado precisamente este argumento da plenitude da verdade de Cristo como uma razão de conveniência para a existência da ciência beata em Cristo, testemunha ocular das verdades reveladas.

O poder revelador de Cristo tem sua origem não em uma revelação que tenha recebido senão no conhecimento direto que tem do Pai. Dá testemunho no sentido estrito: testifica aquilo que vê. A afirmação da ciência da visão em Cristo tem sido posição quase unânime dos teólogos pelo menos desde a Idade Média até a época do Concílio Vaticano II, baseada não em um texto determinado, senão no conjunto dos dados bíblicos e patrísticos. E o magistério continua afirmando sua existência. Assim, por exemplo, João Paulo II ensinou que Cristo ‘em sua condição de peregrino pelos caminhos de nossa terra (viator), estava já em possessão da meta a qual devia conduzir os demais’.

Esta plenitude da verdade que caracteriza a Cristo enquanto homem está também integrada pela ciência adquirida e pela ciência infusa. Centramo-nos brevissimamente nesta última afirmando que a maior parte dos teólogos a partir da Idade Média ensinava que Cristo gozou da ciência infusa, em base a perfeição do seu entendimento criado e de sua missão de revelador supremo e definitivo, que exigia que possuísse em sua inteligência as verdades que devia ensinar, os conceitos que devia transmitir, que pudesse profetizar. A visão beata, com efeito, deixa intacta a capacidade de receber as espécies infusas em seu intelecto passivo, fazendo assim possível que pudesse comunicar com palavras e conceitos humanos as realidades inefáveis que contempla com sua ciência de visão.

Tradução: Roberto Marcelo da Silva

Fonte:
Título : 
Cristo, lleno de gracia y de verdad, según Santo Tomás de Aquino.
Autor(es) : 
Entidad editora : 
Servicio de Publicaciones de la Universidad de Navarra.
Materia / Palabras clave : 
Materias Investigacion::Teología y Ciencias religiosas
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