quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Os principais títulos bíblicos de Jesus (Parte IV) - O Senhor



A expressão ‘Senhor’ nos reporta ao uso pós-pascal, onde a palavra assume alcance superior, designando a Jesus na soberania manifestada por sua elevação ‘à direita de Deus’ (Lc 1, 43; 2, 11.26; 7,13) Ele é o Senhor a quem se invoca (At 7, 59s), ‘o Senhor de todos’ (At 10,36). A expressão Senhor passa a ter uma equivalência equivalente a ‘Deus’ (‘Meu Senhor e meu Deus!’ – Jo 20, 28). E devemos acentuar a confissão  cristã: ‘Se teus lábios confessam que Jesus é Senhor e se teu coração crê que Deus o ressuscitou dentre os mortos serás salvo’ (Rm 10,9). O senhorio de Jesus não elimina o de Deus Pai, mas diz que a partir da ressurreição se exprime a comunhão de Jesus com a soberania do Pai.

Na origem desse uso não está à influência do helenismo, que assim intitulava as divindades ou os imperados. O termo YHWH (e Adonai) foi traduzido pela expressão grega KYRIOS na LXX[1]. Pois, ele é verificado a comunidade palestinense anteriormente a qualquer possível influência helenística (E, ouvindo o rei Davi todas estas coisas, muito se lhe acendeu a ira - 2 Samuel 13, 21; Então tinha o rei Davi saudades de Absalão; porque já se tinha consolado acerca da morte de Amnom 2 Samuel 13, 39). Do primitivo uso palestinense ficou a invocação aramaica ‘Marana thá’ (Vem, Senhor)[2].

Fonte: GOMES, C. F.; Riquezas da Mensagem Cristã. Rio de Janeiro: Edições ‘LUMEN CHRISTI’, 1989, p. 304.


[1] ‘Aqui também, na tradução grega dos LXX, encontramos ao lado do uso profano da palavra Kyrios, seu emprego em sentido absoluto, onde Kyrios torna-se o nome de Deus e serve para traduzir Adonai e JHWH (CULLMANN, O. Cristologia do Novo Testamento, São Paulo: Editora Liber p. 264).
[2] Verbete MARANATHA, Dicionário Bíblico, John Mackenzie, p. 579-580, 1983; Na língua corrente, mari é uma maneira particularmente respeitosa de dirigir-se a alguém, algo assim como rabbí, que se emprega da mesma maneira. (...) não temos o direito de negar a priori a possibilidade de uma evolução análoga para a palavra aramaica mari: este vocábulo, que ao princípio só denotava as relações entre Jesus e seus discípulos durante sua vida terrestre, pôde chegar ao Kyrios Iesous (...) Não podemos trazer a prova desta evolução senão quando examinarmos a fé pós-pascal da comunidade no Cristo glorificado. Se os discípulos que, durante a vida de Jesus, haviam simplesmente expressado com as palavras ‘meu Senhor’ sua reverência pelo mestre, depois de sua ressurreição empregaram o mesmo termo para designar o Cristo glorificado presente em seu culto, e para reconhecer diante d’Ele um direito total sobre eles, temos um fundamento para admitir uma passagem, sobre o próprio terreno do cristianismo, do aramaico mari ao grego kyrios. Em se tratando de mostrar que, por analogia ao kyrios helenístico e ao Adon hebraico, é filologicamente possível que a palavra aramaica mar, empregada primeiro em sentido profano, tenha sido por fim empregada no sentido teológico do grego kyrios, com a condição de que, todavia, esta evolução teológica valesse já para os discípulos palestinos, que falavam aramaico. Ora, veremos que se deve admiti-lo. O elo que une, do ponto de vista teológico e filológico, mari e kyrios, é a invocação cultual aramaica Maranatha (CULLMANN, O. Cristologia do Novo Testamento, São Paulo: Editora Liber p. 266-267).

Nenhum comentário:

Postar um comentário