segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Inferno – Fundamentos bíblicos



Durante muito tempo o Antigo Testamento deu muito pouca informação sobre a vida dos falecidos. Segundo ele, o mundo inferior é o lugar aonde vão os bons e os maus. Todos devem descer àquele lugar, os reis e os mendigos, os senhores e os escravos, os anciãos e os jovens, os justos e os injustos. O mundo inferior é o lugar de congregação de todos os falecidos. Seus habitantes levam uma consciência sombria. Os homens vivem ali em paz, pois não sofrem, mas tampouco gozam de alguma delicia. Esta representação dominou a fé do Antigo Testamento até o período helenista. Já nos livros véteros-testamentários do tempo helenista e entre os contemporâneos de Jesus encontramos a convicção de que os falecidos bons são recebidos no seio de Deus, ao passo que os ímpios são castigados no mundo inferior (Dn 12,2; 2Mc 6,26s; Sb 4,19; 5, 3-13).

A ameaça do juízo no vale de Hinom (Jr 7,32; 9,6; Is 66,24) fez com que, desde o século II, este vale fosse considerado como o lugar que haveria de abrir-se no juízo final e envolver no castigo de seu fogo os israelitas rebeldes. As expressões ‘o verme que não morre’ e o ‘fogo que não se apaga’ (Is 66,24) se transformaram na base para a concepção da pena. Isso aparece, por exemplo, em Jt 16,21; Dn 12,2, também em Mc 9,47s. Ainda no período pré-cristão, a palavra geena foi aplicada ao inferno de fogo do final dos tempos.

Desta forma, no Novo Testamento sob a palavra geena se entende o lugar do castigo eterno a partir do juízo final, lugar que está reservado ao demônio (Mt 25, 41) e a todos os que se negam a crer e a converter-se (Mt 5,29; 13,42; 22,13). João Batista e depois Jesus atestam que aos que não se converterem os espera o fogo que não se extingue (Mt 5,22; 18,9; 13, 42.51; Lc 3, 7.9; Mt 3, 10-12; Mc 3, 28). O inferno também é descrito com as palavras ‘trevas’, ‘gemidos’ e ‘ranger de dentes’ (Mc 9, 42-48; Mt 5, 29s; 18,8s; Mt 7, 13s; 8, 12; 22, 13; 25,3; 25, 30; 24, 51; 13, 41s; 22, 31). O inferno é uma desgraça tão terrível para os homens que todo esforço para se libertar dele deve ser considerado pequeno (Mt 5, 29s; 10, 28; Lc 16, 19-31). Em sua descrição antecipada do juízo final, Jesus diz: ‘quando o Filho do  homem vier em glória com todos os seus anjos, então se assentará no seu trono glorioso e todas as nações se reunirão em sua presença e ele vai separar uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Às ovelhas colocará À direita e os cabritos à esquerda... Depois dirá aos da esquerda: ‘afastai-vos de mim, amaldiçoados, para o fogo eterno, preparado para o diabo e sus anjos..’ e estes irão para o sofrimento eterno (Mt 25,31-33.41.46).

Segundo Paulo, o juízo trará para os condenados a perdição eterna (2Ts 1,9; 1 Ts 5,3; 1Tm 6,9). O ocaso (Rm 9,22; Fl 3,19). Os condenados são os perdidos (2Ts 2,10; 1Cor 1,18; 2Cor 9,15; 4,3). Paulo não dá muita informação sobre a maneira da perdição.

De qualquer forma, o apóstolo diz acerca dos condenados que estão sob a ira de Deus (2Ts 1,7-10; 2,3-10; Rm 2,5; 3,5; 2,8; 5,9; 9,22; 1Cor 3,17; Ef 5,6; Gl ¨,7; Cl 3,6). Os réprobos vivem atormentados e angustiados (2Ts 1,6-9; Rm 2, 6-9). Sua existência, longe de ser vida, é morte (2Cor 2,16; 7,10; Rm 1, 32; 6, 16.21.23; 8,6.13). Eles estão excluídos do reino de Deus (Gl 5,21; 1Cor 6,9; Ef 5,5). Estão longe da face do Senhor e da glória de seu poder (2Ts 1,9; Rm 3,23; 2Pd 2,3s; 3,7; 2,13; 3,6; Jd 17). Alguns trechos do Apocalipse de João (Ap 14,10; 19,20; 20,10-15; 21,8), apoiando-se seguramente na narração vétero-testamentária se Sodoma e Gomorra, descrevem o inferno como um lago de fogo e enxofre. João fala do pecado que leva à morte eterna (1Jo 5,14-17). Assim como se deve entender ‘vida’ como comunidade com Cristo, assim também por ‘morte’ se deve entender a supressão da comunidade com Ele.

Fonte: SCHMAUS, M. A fé da Igreja, Petrópolis: Vozes, p. 224-225, v. VI.

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