Durante muito tempo o Antigo
Testamento deu muito pouca informação sobre a vida dos falecidos. Segundo ele,
o mundo inferior é o lugar aonde vão os bons e os maus. Todos devem descer àquele
lugar, os reis e os mendigos, os senhores e os escravos, os anciãos e os
jovens, os justos e os injustos. O mundo inferior é o lugar de congregação de
todos os falecidos. Seus habitantes levam uma consciência sombria. Os homens
vivem ali em paz, pois não sofrem, mas tampouco gozam de alguma delicia. Esta
representação dominou a fé do Antigo Testamento até o período helenista. Já nos
livros véteros-testamentários do tempo helenista e entre os contemporâneos de
Jesus encontramos a convicção de que os falecidos bons são recebidos no seio de
Deus, ao passo que os ímpios são castigados no mundo inferior (Dn 12,2; 2Mc
6,26s; Sb 4,19; 5, 3-13).
A ameaça do juízo no vale de
Hinom (Jr 7,32; 9,6; Is 66,24) fez com que, desde o século II, este vale fosse
considerado como o lugar que haveria de abrir-se no juízo final e envolver no
castigo de seu fogo os israelitas rebeldes. As expressões ‘o verme que não
morre’ e o ‘fogo que não se apaga’ (Is 66,24) se transformaram na base para a
concepção da pena. Isso aparece, por exemplo, em Jt 16,21; Dn 12,2, também em
Mc 9,47s. Ainda no período pré-cristão, a palavra geena foi aplicada ao inferno
de fogo do final dos tempos.
Desta forma, no Novo Testamento
sob a palavra geena se entende o lugar do castigo eterno a partir do juízo
final, lugar que está reservado ao demônio (Mt 25, 41) e a todos os que se
negam a crer e a converter-se (Mt 5,29; 13,42; 22,13). João Batista e depois
Jesus atestam que aos que não se converterem os espera o fogo que não se
extingue (Mt 5,22; 18,9; 13, 42.51; Lc 3, 7.9; Mt 3, 10-12; Mc 3, 28). O
inferno também é descrito com as palavras ‘trevas’, ‘gemidos’ e ‘ranger de
dentes’ (Mc 9, 42-48; Mt 5, 29s; 18,8s; Mt 7, 13s; 8, 12; 22, 13; 25,3; 25, 30;
24, 51; 13, 41s; 22, 31). O inferno é uma desgraça tão terrível para os homens
que todo esforço para se libertar dele deve ser considerado pequeno (Mt 5, 29s;
10, 28; Lc 16, 19-31). Em sua descrição antecipada do juízo final, Jesus diz:
‘quando o Filho do homem vier em glória
com todos os seus anjos, então se assentará no seu trono glorioso e todas as
nações se reunirão em sua presença e ele vai separar uns dos outros, como o
pastor separa as ovelhas dos cabritos. Às ovelhas colocará À direita e os
cabritos à esquerda... Depois dirá aos da esquerda: ‘afastai-vos de mim,
amaldiçoados, para o fogo eterno, preparado para o diabo e sus anjos..’ e estes
irão para o sofrimento eterno (Mt 25,31-33.41.46).
Segundo Paulo, o juízo trará para
os condenados a perdição eterna (2Ts 1,9; 1 Ts 5,3; 1Tm 6,9). O ocaso (Rm 9,22;
Fl 3,19). Os condenados são os perdidos (2Ts 2,10; 1Cor 1,18; 2Cor 9,15; 4,3).
Paulo não dá muita informação sobre a maneira da perdição.
De qualquer forma, o apóstolo diz
acerca dos condenados que estão sob a ira de Deus (2Ts 1,7-10; 2,3-10; Rm 2,5; 3,5;
2,8; 5,9; 9,22; 1Cor 3,17; Ef 5,6; Gl ¨,7; Cl 3,6). Os réprobos vivem
atormentados e angustiados (2Ts 1,6-9; Rm 2, 6-9). Sua existência, longe de ser
vida, é morte (2Cor 2,16; 7,10; Rm 1, 32; 6, 16.21.23; 8,6.13). Eles estão
excluídos do reino de Deus (Gl 5,21; 1Cor 6,9; Ef 5,5). Estão longe da face do
Senhor e da glória de seu poder (2Ts 1,9; Rm 3,23; 2Pd 2,3s; 3,7; 2,13; 3,6; Jd
17). Alguns trechos do Apocalipse de João (Ap 14,10; 19,20; 20,10-15; 21,8),
apoiando-se seguramente na narração vétero-testamentária se Sodoma e Gomorra,
descrevem o inferno como um lago de fogo e enxofre. João fala do pecado que
leva à morte eterna (1Jo 5,14-17). Assim como se deve entender ‘vida’ como
comunidade com Cristo, assim também por ‘morte’ se deve entender a supressão da
comunidade com Ele.
Fonte: SCHMAUS, M. A fé da Igreja, Petrópolis: Vozes, p.
224-225, v. VI.
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