segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Teologia da Graça

A Graça quer dizer que Deus desceu, condescendeu com o homem; que o homem se transcendeu para Deus; que, portanto, a fronteira entre o divino e o humano não é lá tão impenetrável, mas permeável; e que, enfim, tudo isso acontece gratuitamente: Deus não tem a m enos obrigação de tratar assim o homem, nem o homem tem direito algum de ser tratado assim por Deus. Todo esse processo começa pelo dom de Deus; o dom que Deus cria para o homem e não é outro senão ele mesmo. A graça é antes de tudo, graça (dom) incriada (de Deus). E como e onde se nos deu Deus? A resposta do Novo Testamento diz o seguinte: "Deus, com efeito, amou tanto o mundo que deu o seu Filho, o seu único (Jo 3,16). Ou ainda: "[Deus] não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (Rm 8,32). Por conseguinte, o Pai se nos deu dando-nos o Filho. Este, por sua vez, se nos entrega ("o Filho do homem veio... para dar sua vida em resgate pela multidão": Mt 20,28) e nos torna partícipes de sua existência gloriosa, de modo que vivemos, simplesmente de sua própria vida: "vivo, mas não sou mais eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Esta entrega se realiza mediante a efusão do Espírito, pelo qual podemos dirigir-nos a Deus como o fazia Jesus, quer dizer, chamando-o "Abbá" (Rm 8,15). Portanto, a graça de Deus é a graça de Cristo; a graça de Cristo é Cristo mesmo dando-nos sua vida, conformando-nos com ele tornando-nos "filhos no Filho" (Gaudium et Spes, 22,6; Lumen Gentium, 40,1), expressão esta inteiramente paulina (Ef 5,2; Fl 2,5; 1Cor 2,16) e joanina (Jo 13,34; 15,12; 1Jo 3,16).

Fonte: p. RUIZ DE LA PEÑA, J.L.; Criação, Graça, Salvação,. São Paulo: Loyola, 1998, p. 60-61.

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