Na Igreja Ortodoxa, a Natividade
de Cristo é uma festa muito importante. Liturgicamente a Igreja vê nela o ícone
da festa da Páscoa. É a razão pela qual,
na parte consagrada as efemérides da ‘salmodia comentada’, a festa da
natividade é chamada ‘Páscoa dos três dias’. A noção dos três dias deve ser
compreendida não sobre o plano do tempo (duração), mas no sentido qualitativo:
liturgicamente os ofícios da natividade contêm elementos da Sexta-Santa, do
Sábado Santo e da Páscoa. Estes elementos se encontram nos ofícios de 24 e 25
de Dezembro, a saber: 1) o 24-XII ‘as horas reais’ (Sexta-Santa), 2) o 25-XII
as vésperas com a liturgia de véspera de são Basílio (Sábado Santo) e por fim
3) a liturgia eucarística matinal de São João Crisóstomo o dia da Natividade
(Páscoa).
Na medida em que o 24 de Dezembro
corresponde aos dois últimos dias da Semana Santa, a Igreja prescreve uma
similar quaresma nesta semana.
É muito importante compreender
que há uma relação muito estreita entre os acontecimentos relacionados a festa
da Páscoa, festa móvel, e os acontecimentos da Natividade, festa fixa; a
expressão litúrgica da Natividade se manifesta simultaneamente através destes
dois ciclos: fixo e móvel (Pascal). No que diz respeito ao ciclo móvel (Pascal),
a semana é um tipo de unidade em que o sétimo e o último dia, sábado, estão
estreitamente relacionados com o primeiro (ou oitavo dia), domingo, e é
precisamente o Sábado Santo com a Páscoa que tornam o conjunto de dias da
semana muito particular, como a visão do ‘primeiro dia’ no início da criação:
‘E Deus chamou a luz: dia e as
trevas: noite. Teve uma noite e teve uma manhã, o primeiro dia’ (Gn 1,5).
O Sábado Santo corresponde ao
domínio ocupado pelas trevas (noite) e a Páscoa a luz (dia).
Assim, o sábado, pelo preço da
morte de Cristo (sua descida aos infernos), é libertado das trevas, e a Luz da
Ressurreição invade seu domínio; e o primeiro dia toma o aspecto do oitavo em
que não há mais trevas.
‘Já não haverá noite, nem se
precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão
de reinar pelos séculos dos séculos’ (Ap 22,5).
Liturgicamente esta
particularidade do sábado e do domingo se manifestam na festa da Natividade de
Cristo cada vez que há ocorrência de 24 de Dezembro (Sexta e Sábado Santos da
Natividade) com o sábado e o domingo da semana.
No que diz respeito a 25 de
Dezembro, se este dia (a festa) é um domingo, o aspecto litúrgico não sofre
nenhuma mudança. O ofício dominical é suprimido, e toda a atenção é concentrada
no acontecimento da Natividade do Senhor no qual a Igreja vê também sua
Ressurreição.
Quanto a 24 de Dezembro, sendo no
sábado ou no domingo, de princípio não há quaresma (no plano litúrgico), em
seguida a estrutura litúrgica sofre modificações notáveis.
De uma forma geral, a celebração
da liturgia de São Basílio é um sinal da preparação a um acontecimento
importante, sobretudo quanto esta liturgia é celebrada em ligação com as
vésperas – é um tipo de entrada (eucarística) nas trevas (descida aos infernos)
para levar o golpe mortal e definitivo à morte.
Notemos, a propósito do sábado,
que no ano litúrgico a liturgia eucarística de véspera é celebrada unicamente
no Sábado Santo: uma vez que Cristo desceu aos infernos a morte foi vencida e o
sábado (do ano litúrgico) se torna a expressão desta vitória, sua liturgia eucarística
é obrigatoriamente matinal e de são João Crisóstomo, como o dia de Páscoa.
Este ano (1989), o 24 de Dezembro
no antigo calendário coincide com o sábado e o novo com o domingo. Sendo dado
que sábado (e principalmente o domingo) exige sua liturgia eucarística matinal
(de são João Crisóstomo), este ano ela será celebrada no lugar das ‘Horas
Reais’ que serão transferidas para sexta precedendo o 24-XII (o 23-XII ou o
22-XII), e no caso desta liturgia eucarística desta sexta será suprimida, como
a Sexta-Santa. Quanto a 24 de Dezembro, é preciso de princípio celebrar a
liturgia eucarística de são João Crisóstomo, após da qual se celebrará o início
das vésperas de 25 de Dezembro que normalmente precedem a liturgia de véspera
de São Basílio, e estas vésperas terminarão no momento em que normalmente (nas
vigílias) começa a liturgia. Nesta última já está incluída as Vigílias da Festa
da Natividade (entre as grandes Completas e Matinas). Quanto à liturgia
eucarística de São Basílio ela será celebrada excepcionalmente no próprio dia
da festa, 25 de Dezembro no lugar da liturgia de São João Crisóstomo. Assim, a
festa da Natividade do Senhor que prefigura normalmente a Ressurreição, neste
caso preciso, pela presença da liturgia de São Basílio, evoca particularmente o
Sábado Santo. A vinda do Filho de Deus neste mundo decaído, e aceitando a
morte, torna o ícone da descida aos infernos (Sábado Santo).
No caso em que o 24 de Dezembro
coincide como domingo, um detalhe litúrgico suplementar justifica esta
afirmação: as Matinas deste dia, oficio dominical (octoèques - Ὀκτώηχος) é
praticamente suprimido e substituído por hinos compostos em vista deste caso e
colocados no ofício dos Santos Padres. Através destes elementos a Igreja põe o
acento sobre a Paixão do Cristo que precede sua Ressurreição, e os hinos do
cânon dominical são substituídos por aqueles das Matinas do Sábado Santo.
Por conclusão, lembremo-nos do
verso (stichère) dominical das matinas nas Laudes do 5º tom (tom pascal):
‘Tu passaste através do túmulo
como tu nasceste da Mãe de Deus’.
- L'Enfant-Dieu naît mystiquement au cœur
de l'Hadès: "Flambeau porteur de Lumière, la chair de Dieu sous
terre dissipe les ténèbres de l'Hadès" clame la liturgie de la Nativité.
O menino Deus nasce misticamente
no coração do Hades: ‘Portador da tocha de luz, a carne de Deus sobre a terra
dissipa as trevas do Hades’ clama a liturgia da Natividade.
Fonte: Nouvelles de Saint Serge N°15, Noël 1989
http://www.egliserusse.eu/blogdiscussion/La-Nativite-du-Christ-Icone-de-Sa-descente-aux-enfers_a2857.html
Tradução : Roberto Marcelo da Silva
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