Antonio Piñero descreve e interpreta que
o descensus nos foi transmitido em duas versões, a grega e duas latinas, que
diferem entre si. Desde então, os protagonistas são distintos, mas o relato
mantém bastante uniforme (ao menos em sua estrutura fundamental). A autoria do
escrito, assim como a data e o lugar de sua composição são bastante incertos,
ainda que pareça ter sido escrito entre o século V e VI. Segundo Piñero, não se
podem descartar inter-textos do inverno grego e latino (Odiseu e Eneas) se bem
que sua teologia é bastante ortodoxa e interessante. Igualmente, ‘o quadro
pintado pelos artistas antigos em relação com o episódio da solene entrada de
Jesus no inferno é dos mais simples e sugestivo. O inferno vem figurado como
uma caverna tenebrosa, sepultada sob as montanhas’[1].
Por sua vez, Daniel Rops considera
misteriosíssimo o episódio da descida de Cristo mas, afirma que os apócrifos
leva além daquilo que é dito pela epístolo da de Pedro. Também compara o texto
do Evangelho de Nicodemos com a obra de Dante pela forma dramática em narrar o
acontecimento. Segundo, Rops os detalhes relatados são ‘evidentemente
lendários, mas é incontestável que correspondam ao clima preciso em que um
crente poderia situar tão surpreendente processo’[2].
Por outra parte, H.J. Klauck assinala
que o descensus de Cristo aos infernos se menciona no Evangelho de Nicodemos
como um dos vários temas do texto. Além de narrar a paixão e a crucificação de
Jesus, os capítulos que vão desde o 17 até o 27 estão dedicados a visita de
Cristo ao lugar dos mortos, no entanto, este evangelho mostra uma problemática
notável com relação ao seu título, composição, história de sua transmissão, sua
linguagem, origem e a antiguidade de cada uma de suas partes. Desta forma é
impossível datar sua composição original, pois existem duas versões dentro do
texto (uma latina e outra grega) e além do mais, sua descoberta como escrito,
tampouco se pode confirmar em um momento histórico preciso. Segundo este
teólogo, o tema da descida de Cristo ao Hades mostrava uma viva representação
daquilo que a redenção significa realmente: a salvação é levada inclusive aos
mortos, ou ao menos a uma parte importante deles: as grandes figuras da Antiga
Aliança[3].
Em outro estudo, Antonio Piñero, fala
sobre a recriação fantástica derivada do texto de 1 Pd e que segundo ele, deu
origem aos relatos mais elaborados sobre o descensus. O teólogo comprar ambos
os textos e assevera que o texto de Pedro não oferece detalhes uma vez que o
Evangelho de Nicodemos não só mostra a graça e a pregação de Jesus senão que
ali mesmo se fala sobre a ressurreição. Neste sentido, é importante destacar
que além de Jesus, também ressuscitam outros com o objetivo de dar testemunho
desse milagre, no entanto, como afirma Piñero ‘o autor não suscita o problema
do que é para ser feito com os defuntos injustos ou com os pagãos justos já
falecidos e só pensa somente como um judeu.
A menção deste breve relato evidencia
posturas mais ou menos similares por parte dos teólogos com relação à
universalidade da salvação que se deduz da visita de Cristo aos infernos.
O texto de Pedro e o Evangelho de
Nicodemos compartilham da visão de um Jesus glorioso cuja morte serviu para
acrescentar seu poder ao coloca-lo em um espaço a partir do qual pode salvar,
pregar e convencer a uma multidão de mortos cuja esperança está implícita nos
textos. Não obstante, o texto apócrifo descreve mais e melhor um episódio de
tal envergadura.
Fonte: ZÚÑIGA R. M.; El descenso de
Cristo a los infiernos: reflexiones, contrastes, símbolos e interrogantes, IN:
SIWÔ, REVISTA DE TEOLOGÍA, Volumen 5, Número 4, 2011, p. p. 225 – 252.
Tradução: Roberto Marcelo da Silva
[1] Piñero,
Antonio.(1993). Fuentes del cristianismo. Tradiciones primitivas sobre Jesús.
Córdoba: Ediciones El Almendro y Universidad Complutense.
______________.(1989). Los apócrifos del Nuevo
Testamento. Madrid: Fundación Santa María
[2] Anónimo.
(2006). Evangelios apócrifos. (Introducción de Daniel Rops). México: Porrúa
[3] Klauck,
Hans Joseph. (2006). Los evangelios apócrifos. Una introducción. Santander: Sal
Terrae
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