sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A descida de Cristo aos infernos: reflexões, contrastes, símbolos e interrogações - Sobre o Evangelho de Nicodemos



Antonio Piñero descreve e interpreta que o descensus nos foi transmitido em duas versões, a grega e duas latinas, que diferem entre si. Desde então, os protagonistas são distintos, mas o relato mantém bastante uniforme (ao menos em sua estrutura fundamental). A autoria do escrito, assim como a data e o lugar de sua composição são bastante incertos, ainda que pareça ter sido escrito entre o século V e VI. Segundo Piñero, não se podem descartar inter-textos do inverno grego e latino (Odiseu e Eneas) se bem que sua teologia é bastante ortodoxa e interessante. Igualmente, ‘o quadro pintado pelos artistas antigos em relação com o episódio da solene entrada de Jesus no inferno é dos mais simples e sugestivo. O inferno vem figurado como uma caverna tenebrosa, sepultada sob as montanhas’[1].

Por sua vez, Daniel Rops considera misteriosíssimo o episódio da descida de Cristo mas, afirma que os apócrifos leva além daquilo que é dito pela epístolo da de Pedro. Também compara o texto do Evangelho de Nicodemos com a obra de Dante pela forma dramática em narrar o acontecimento. Segundo, Rops os detalhes relatados são ‘evidentemente lendários, mas é incontestável que correspondam ao clima preciso em que um crente poderia situar tão surpreendente processo’[2].

Por outra parte, H.J. Klauck assinala que o descensus de Cristo aos infernos se menciona no Evangelho de Nicodemos como um dos vários temas do texto. Além de narrar a paixão e a crucificação de Jesus, os capítulos que vão desde o 17 até o 27 estão dedicados a visita de Cristo ao lugar dos mortos, no entanto, este evangelho mostra uma problemática notável com relação ao seu título, composição, história de sua transmissão, sua linguagem, origem e a antiguidade de cada uma de suas partes. Desta forma é impossível datar sua composição original, pois existem duas versões dentro do texto (uma latina e outra grega) e além do mais, sua descoberta como escrito, tampouco se pode confirmar em um momento histórico preciso. Segundo este teólogo, o tema da descida de Cristo ao Hades mostrava uma viva representação daquilo que a redenção significa realmente: a salvação é levada inclusive aos mortos, ou ao menos a uma parte importante deles: as grandes figuras da Antiga Aliança[3].

Em outro estudo, Antonio Piñero, fala sobre a recriação fantástica derivada do texto de 1 Pd e que segundo ele, deu origem aos relatos mais elaborados sobre o descensus. O teólogo comprar ambos os textos e assevera que o texto de Pedro não oferece detalhes uma vez que o Evangelho de Nicodemos não só mostra a graça e a pregação de Jesus senão que ali mesmo se fala sobre a ressurreição. Neste sentido, é importante destacar que além de Jesus, também ressuscitam outros com o objetivo de dar testemunho desse milagre, no entanto, como afirma Piñero ‘o autor não suscita o problema do que é para ser feito com os defuntos injustos ou com os pagãos justos já falecidos e só pensa somente como um judeu.
A menção deste breve relato evidencia posturas mais ou menos similares por parte dos teólogos com relação à universalidade da salvação que se deduz da visita de Cristo aos infernos.

O texto de Pedro e o Evangelho de Nicodemos compartilham da visão de um Jesus glorioso cuja morte serviu para acrescentar seu poder ao coloca-lo em um espaço a partir do qual pode salvar, pregar e convencer a uma multidão de mortos cuja esperança está implícita nos textos. Não obstante, o texto apócrifo descreve mais e melhor um episódio de tal envergadura.

Fonte: ZÚÑIGA R. M.; El descenso de Cristo a los infiernos: reflexiones, contrastes, símbolos e interrogantes, IN: SIWÔ, REVISTA DE TEOLOGÍA, Volumen 5, Número 4, 2011, p. p. 225 – 252.

Tradução: Roberto Marcelo da Silva


[1] Piñero, Antonio.(1993). Fuentes del cristianismo. Tradiciones primitivas sobre Jesús. Córdoba: Ediciones El Almendro y Universidad Complutense.
______________.(1989). Los apócrifos del Nuevo Testamento. Madrid: Fundación Santa María
[2] Anónimo. (2006). Evangelios apócrifos. (Introducción de Daniel Rops). México: Porrúa
[3] Klauck, Hans Joseph. (2006). Los evangelios apócrifos. Una introducción. Santander: Sal Terrae

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