terça-feira, 8 de outubro de 2013

Descida de Cristo aos infernos na liturgia bizantina



A liturgia bizantina do domingo de Páscoa é muito peculiar. Ela apresenta em seu desenvolvimento o tema da descida de Cristo aos infernos: a Igreja é fechada, mergulhada na obscuridade, o padre bate a porta, do lado de fora, com a cruz, por três vezes, dizendo: ‘Abra as portas ao Senhor dos poderes, ao rei da glória!’


No interior, o sacristão faz um barulho de correntes e de ferros, como para exprimir certa resistência, logo após a porta é aberta.

Ilumina-se, então, a Igreja e a perfuma com incenso.

No centro, no púlpito, diante do iconóstase, é exposto o ícone da Descida aos infernos ornado de flores.
Para os fiéis reunidos na noite pascal, este ícone mostra Jesus, com a cruz na mão, que quebra e pisa nas portas dos infernos (pregos, parafusos e dobradiças provenientes da porta, juntam-se ao buraco negro do inferno). Ele tira Adão das trevas da morte segurando-o pela mão; este face-a-face do primeiro e do Novo Adão toma uma significação particular: o ícone acrescenta na liturgia bizantina pondo fortemente o acento sobre o fato de que a Ressurreição de Cristo anuncia a Boa Nova da ressurreição dos mortais. Isto explica a ligação estreita entre a silhueta do Cristo ressuscitado e aquela de Adão que ele leva em sua própria Ressurreição; exaustos, porque acordados do sono da morte (do pecado); Adão contempla seu libertador com um olhar ao mesmo tempo de alegria e cheio de cansaço. Ele segura sua mão tornada livre num movimento de acolhida e de oração. Igualmente à frente, Eva ajoelhada, levanta respeitosamente as mãos cobertas por um pano de sua veste. Atrás deles se encontram muitas vezes Moisés, os justos do Antigo Testamento e os anunciadores da vinda do Messias. O Cristo tem na mão um rolo (o quirógrafo, isto é, a lista dos mortos, ou ‘as ordens que nos condenavam e que subsistia contra nós’ (Col 2,14), ou ainda, ao contrário, a Boa Nova, o Evangelho).
Um abismo se abre na terra – como no ícone do batismo de Cristo e naquela da Crucifixão. Esta cavidade obscura lembra igualmente aquela onde o Menino Jesus foi colocado em panos no ícone da Natividade. É uma ligação profunda que une as duas festas da Natividade e da Páscoa.




Tradução: Roberto Marcelo da Silva

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