O ‘Servo de Deus’ faz referência a
figura misteriosa do Ebed Jahvé, descrita em Is 42,53. Personagem inocente que
se oferece em sacrifício de intercessão e expiação pelos pecadores. Mediador da
aliança restabelecida entre Deus e seu povo, mais ainda: da salvação para todos
os povos (42,6 ‘Eu, Javé, chamei você para ser a luz das nações’; 49,6 ‘não é
suficiente que sejas meu servo para restaurar as tribos de Jacó... vou fazer de
ti a luz das nações’; 53,11s ‘justificará muitos homens’). Admiravelmente
exaltado após sua morte ignominiosa e violenta.
Quem era esse ‘Servo’? A ideia de um
Messias sofredor parece não ter emergido no judaísmo pré-cristão, ao menos no
sentido de que o sofrimento expiatório nunca chegou a ser integrado na doutrina
messiânica.
Ora, Jesus sugeriu, em diversas alusões
significativas, ser ele o Servo padecente. Ao dizer que ‘não veio para ser
servido, mas para servir e dar a vida em redenção da multidão’ (Mc 10,45; Mt
20,28) evocava Is 53, como igualmente ao dizer que seu sangue era ‘derramado
pela multidão’ (Mc 14,23). Em outra passagem aparece dizendo expressamente: ‘É
necessário que se cumpra em mim ainda este oráculo: foi contado entre os
malfeitores’ (Lc 22,37; Mc 15,28 apoiado em Is 53,12).
Assim, Jesus propunha elementos de
grande importância para a interpretação de sua pessoa e obra. Ele é alguém que
aceitou uma condição de humildade (Fl 2, 6. Ele tinha a condição divina, mas
não se apegou a sua igualdade com Deus. 7. Pelo contrário, esvaziou-se a si
mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens.
Assim, apresentando-se como simples homem, 8. humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!), surgindo entre os homens
como ‘quem não possui aparência’ (Is 53,2s). Sua obra não é apenas a da
pregação que anuncia o próximo perdão divino, é a outorga desse perdão mediante
uma imolação sacrifical (‘ofereceu sua vida em expiação’, ‘tomou sobre si os
pecados de muitos homens’: Is 53).
Identificando-se com o Servo, Jesus deu
realce ao sentido de sua paixão e morte. Não seria somente um martírio a mais
na linhagem dos profetas incompreendidos, seriam a oblação voluntariamente
aceita, o momento culminante de sua trajetória, sua ‘Hora’. A comunidade
primitiva teria refletido sobre essa identificação (Mt 12,17-24; 1Pd 2,21-25;
Fl 2,5-11; At 3,13; 4, 29s; 8, 28-36).
Fonte: GOMES, C. F.; Riquezas da
Mensagem Cristã. Rio de Janeiro: Edições ‘LUMEN CHRISTI’, 1989, p. 301-302.
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