Em algumas expressões das Escrituras testificam a existência dos anjos. Recorre-se à
hermenêutica para interpretar a palavra ‘céu’ em Gn 1, 1 como referência à
criação dos Anjos. Sua origem, por criação, fica ainda mais evidente com o
Evangelho e, por exemplo, com São Paulo
em Cl 1, 16: “porque n´Ele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra,
as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo
foi criado por Ele e para Ele”. O testemunho da Escritura a respeito de sua
origem é tão claro quanto à unanimidade da Tradição e do Magistério da Igreja.
Nessa mesma linha, Santo Tomás demonstra
a sua existência espiritual, confirmando sua origem por criação. Mesmo sendo
puramente espiritual, ou seja, não possuindo matéria, nem estando submetido ao
movimento e ao tempo, o Anjo, porque foi criado, não existiu desde sempre. O
Anjo, portanto, não é eterno, pois além de sua existência ter começado a partir
de um instante, sua essência também não era, por si mesma, necessária, mas
efeito do amor, sabedoria, liberdade, bondade e poder divinos.
Os Anjos são eviternos porque não são nem eternos, justamente porque foram criados e começaram a existir a partir de um momento, nem temporais, precisamente por serem de natureza puramente espiritual, sem nenhuma mescla com a matéria e por não estarem absolutamente sujeitos ao tempo. A criação de sua natureza não supôs a preexistência de uma matéria individual, comum ou universal a toda criação, sobre a qual Deus operasse para produzi-la, senão que ela foi criada direta e imediatamente por Deus, do nada. Isso significa que, antes da natureza angélica, nada existia semelhante a ela. Contudo, sua origem não antecedeu necessariamente à criação das criaturas corporais, embora isso não invalide interpretar que possam ter sido criadas antes das corpóreas, pois não implica contradição sustentar que o perfeito anteceda ontologicamente ao imperfeito. Assim, Tomás subordina a origem do anjo à onipotência criadora de Deus, afastando a falsa doutrina de que eles teriam existido desde sempre ou que fossem capazes de criar ou gerar outro anjo ou qualquer outra natureza que lhes fosse inferior.
Segundo Tomás, cada anjo é uma criatura espiritual única diante de Deus, dotada de dons naturais que recebeu em sua criação, mas ainda assim é um ser criado, portanto, limitado, apesar de ser imaterial, incorpóreo, imortal e incorruptível. Isso elimina qualquer tipo de composição com a matéria em sua natureza. Do mesmo modo, exclui-se da sua natureza qualquer propriedade que seja inerente ou dependa do corpo, como nutrir-se, respirar, locomover, descansar e gerar sexualmente unindo-se a outro corpo. Os que afirmam a corporeidade do Anjo se apoiam em interpretações equivocadas de certas passagens da Escritura como, por exemplo, da narração do Gênesis (6, 2 e 4) onde se diz que ‘os filhos de Deus’ tiveram relação carnal com as mulheres e geraram gigantes. Também motivaria um erro de atribuição de corpo ao ser angélico uma equivocada interpretação do texto do Apóstolo (1Cor. 11, 10: “Por isso, a mulher deve velar sua cabeça convenientemente, por causa dos anjos”), como se o estar descoberta constituísse uma tentação para os anjos. Aqui ‘anjos’ significam os ministros ou mensageiros de outras comunidades que ficariam escandalizados com penteados pouco pudicos. Muitas outras passagens, muito mal interpretadas, sugeriram a afirmação de que o anjo possuísse corpo. Essas referências motivaram a interpretação de que a natureza angélica fosse dotada de corpo, como ocorreu, por exemplo, com São Justino [†163] ao sustentar que os demônios são filhos dos anjos decaídos: “Os anjos transgrediram e tiveram relações com mulheres e delas tiveram filhos, chamados demônios”. Ademais da Patrística, também na Escolástica, alguns sustentaram o mesmo, como São Boaventura [†1274], que afirmou haver certa corporeidade no anjo (II Sent. 23, 2, 1: II 317). Assim, pois, o Anjo, além ser de uma criatura puramente espiritual é também um ser pessoal, bom por natureza, nominalmente conhecido por Deus.
Um espírito subsistente que possui intelecto, vontade, liberdade, capaz de comunicar seu pensamento a outro anjo, por meio da sua vontade. Comunica-se com um outro, quando, por exemplo, um anjo superior fala ao inferior e o ilumina ou quando um inferior fala a um superior e aprende, ou mesmo quando um anjo fala a Deus, não para ensinar, mas para consultá-lO e admirá-lO. A distância local em nada intervém na comunicação entre os anjos. Assim sendo, não é necessário que um anjo inferior, quando fala a um superior, o ilumine com alguma verdade ou que a fala entre dois anjos seja conhecida por todos. O que um anjo comunicou a outro depois do seu sim ou do seu não à graça de Deus, também influiu na confirmação ou na queda de outros anjos, sobretudo daqueles que lhes eram subordinados. O Anjo, no instante posterior à sua criação e com o auxílio da graça santificante inerente à sua natureza, pôde livremente converter-se ou não à bem-aventurança, que é a última perfeição alcançável pela sua natureza. O seu sim ou o seu ‘serviam’ confirmou imediatamente nele a graça santificante, tornando meritória a sua santificação, pela qual contemplou a glória, segundo seus dotes naturais recebidos em sua criação e aumentou-lhe a sabedoria e a capacidade de amar, incapacitando-o de pecar, em razão da presença do Amor, mas sem a necessidade de que isso o fizesse aumentar ou progredir na bem-aventurança.
Os Anjos são eviternos porque não são nem eternos, justamente porque foram criados e começaram a existir a partir de um momento, nem temporais, precisamente por serem de natureza puramente espiritual, sem nenhuma mescla com a matéria e por não estarem absolutamente sujeitos ao tempo. A criação de sua natureza não supôs a preexistência de uma matéria individual, comum ou universal a toda criação, sobre a qual Deus operasse para produzi-la, senão que ela foi criada direta e imediatamente por Deus, do nada. Isso significa que, antes da natureza angélica, nada existia semelhante a ela. Contudo, sua origem não antecedeu necessariamente à criação das criaturas corporais, embora isso não invalide interpretar que possam ter sido criadas antes das corpóreas, pois não implica contradição sustentar que o perfeito anteceda ontologicamente ao imperfeito. Assim, Tomás subordina a origem do anjo à onipotência criadora de Deus, afastando a falsa doutrina de que eles teriam existido desde sempre ou que fossem capazes de criar ou gerar outro anjo ou qualquer outra natureza que lhes fosse inferior.
Segundo Tomás, cada anjo é uma criatura espiritual única diante de Deus, dotada de dons naturais que recebeu em sua criação, mas ainda assim é um ser criado, portanto, limitado, apesar de ser imaterial, incorpóreo, imortal e incorruptível. Isso elimina qualquer tipo de composição com a matéria em sua natureza. Do mesmo modo, exclui-se da sua natureza qualquer propriedade que seja inerente ou dependa do corpo, como nutrir-se, respirar, locomover, descansar e gerar sexualmente unindo-se a outro corpo. Os que afirmam a corporeidade do Anjo se apoiam em interpretações equivocadas de certas passagens da Escritura como, por exemplo, da narração do Gênesis (6, 2 e 4) onde se diz que ‘os filhos de Deus’ tiveram relação carnal com as mulheres e geraram gigantes. Também motivaria um erro de atribuição de corpo ao ser angélico uma equivocada interpretação do texto do Apóstolo (1Cor. 11, 10: “Por isso, a mulher deve velar sua cabeça convenientemente, por causa dos anjos”), como se o estar descoberta constituísse uma tentação para os anjos. Aqui ‘anjos’ significam os ministros ou mensageiros de outras comunidades que ficariam escandalizados com penteados pouco pudicos. Muitas outras passagens, muito mal interpretadas, sugeriram a afirmação de que o anjo possuísse corpo. Essas referências motivaram a interpretação de que a natureza angélica fosse dotada de corpo, como ocorreu, por exemplo, com São Justino [†163] ao sustentar que os demônios são filhos dos anjos decaídos: “Os anjos transgrediram e tiveram relações com mulheres e delas tiveram filhos, chamados demônios”. Ademais da Patrística, também na Escolástica, alguns sustentaram o mesmo, como São Boaventura [†1274], que afirmou haver certa corporeidade no anjo (II Sent. 23, 2, 1: II 317). Assim, pois, o Anjo, além ser de uma criatura puramente espiritual é também um ser pessoal, bom por natureza, nominalmente conhecido por Deus.
Um espírito subsistente que possui intelecto, vontade, liberdade, capaz de comunicar seu pensamento a outro anjo, por meio da sua vontade. Comunica-se com um outro, quando, por exemplo, um anjo superior fala ao inferior e o ilumina ou quando um inferior fala a um superior e aprende, ou mesmo quando um anjo fala a Deus, não para ensinar, mas para consultá-lO e admirá-lO. A distância local em nada intervém na comunicação entre os anjos. Assim sendo, não é necessário que um anjo inferior, quando fala a um superior, o ilumine com alguma verdade ou que a fala entre dois anjos seja conhecida por todos. O que um anjo comunicou a outro depois do seu sim ou do seu não à graça de Deus, também influiu na confirmação ou na queda de outros anjos, sobretudo daqueles que lhes eram subordinados. O Anjo, no instante posterior à sua criação e com o auxílio da graça santificante inerente à sua natureza, pôde livremente converter-se ou não à bem-aventurança, que é a última perfeição alcançável pela sua natureza. O seu sim ou o seu ‘serviam’ confirmou imediatamente nele a graça santificante, tornando meritória a sua santificação, pela qual contemplou a glória, segundo seus dotes naturais recebidos em sua criação e aumentou-lhe a sabedoria e a capacidade de amar, incapacitando-o de pecar, em razão da presença do Amor, mas sem a necessidade de que isso o fizesse aumentar ou progredir na bem-aventurança.
Fonte: FAITANIN,
P., A ordem dos anjos, segundo Tomás de Aquino, in: Ágora Filosófica, Ano 10 • n. 1 •
jan./jun. 2010, p. 24-26.
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