Contra os reformadores, o
Concílio de Trento ensinou: ‘Se alguém afirmar que os sacramentos da nova lei
não conferem a graça ex opere operato, mas só a fé na promessa divina é
suficiente para obter a graça, A.S.’ (DS 1608).
Trento quer responder aos
reformadores, os quais afirmavam que a palavra e a fé são veículos suficientes
da graça. Trento recusa-se a fazer depender a graça unicamente da fé do
ministro e do sujeito, pois ex opere operato significa que através da ação da
Igreja o próprio Cristo age em nós.
Depois do Concílio de Trento, por
vezes, os teólogos católicos separaram o ex opere operato do ex opere
operantis, dando a impressão de que o rito sacramental é mecanicamente eficaz.
Esqueceu-se que a eficácia dos sacramentos, embora não dependa da disposição
daquele que os recebe ou ministra como causa da graça, contudo depende desta
disposição como condição. Isso teve conseqüências funestas na pastoral, até
nossos dias. Com essa compreensão só importa sacramentalizar, mesmo que o
sujeito esteja morto ou lhe falte a devida disposição. Tal prática é o que, a
rigor, chamamos de sacramentalismo, que nada menos é do que uma depravação dos
sacramentos.
O sentido do ex opere operato
tridentino é mais profundo. Quer sublinhar o primado da graça e a iniciativa de
Deus na salvação. O teólogo Ch. Moehler, no século passado, interpretou muito
bem o ex opere operato no sentido ex opere Christo operato.
A doutrina do ex opere operato
diz, pois, algo fundamental sobre o próprio homem. Este não se realiza só no
dar, mas também no receber. O fazer e a técnica, na ordem da salvação, não são
a última palavra. O homem deve estar disposto a receber. É dado a sim mesmo a
partir de uma liberdade, que no fundo, é a liberdade de dizer ‘Pai’. A causa da
graça dos sacramentos não é o próprio homem e seus méritos, mas Deus. É Cristo
quem batiza, quem perdoa. Em outras palavras, o ex opere operato não significa
magia. Segundo esta, os ritos possuem uma força secreta em si mesmos, atuando a
favor ou contra os homens. Mas, quando a Igreja se engaja como um todo, sua
ação é eficaz, porque Cristo age através dela, independentemente de suas
virtudes ou fraquezas. A presença da graça no mundo não depende das disposições
subjetivas de quem recebe ou ministra um sacramento. O ex opere operato garante
que o ‘sim’ definitivo de Deus aos homens não é colocado em perigo pela
indignidade humana.
O ex opere operato significa,
pois, que o próprio Cristo age nos sacramentos, às vezes, até mesmo através de
homens indignos. O Senhor é fiel. O Sacramento é garantia de sua fidelidade.
Mas, Cristo não nos salva sem nós, sem a nossa generosa colaboração, sem a
nossa fé. Sem fé, não há sacramento. A graça sacramental pressupõe a fé, mas
esta não produz graça. Nesse sentido, a doutrina do ex opere operato elucida um
aspecto importante, mas deve ser visto no contexto global.
Fonte: ZILLES, U. Os sacramentos da Igreja, Porto Alegre:
Ed. PUC-RS, 2001, (Coleção Teológica).
Artigo muito bom e elucidativo.
ResponderExcluirArtigo muito bom e elucidativo.
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