domingo, 27 de outubro de 2013

A doutrina do EX OPERE OPERATO



Contra os reformadores, o Concílio de Trento ensinou: ‘Se alguém afirmar que os sacramentos da nova lei não conferem a graça ex opere operato, mas só a fé na promessa divina é suficiente para obter a graça, A.S.’ (DS 1608).

Trento quer responder aos reformadores, os quais afirmavam que a palavra e a fé são veículos suficientes da graça. Trento recusa-se a fazer depender a graça unicamente da fé do ministro e do sujeito, pois ex opere operato significa que através da ação da Igreja o próprio Cristo age em nós.

Depois do Concílio de Trento, por vezes, os teólogos católicos separaram o ex opere operato do ex opere operantis, dando a impressão de que o rito sacramental é mecanicamente eficaz. Esqueceu-se que a eficácia dos sacramentos, embora não dependa da disposição daquele que os recebe ou ministra como causa da graça, contudo depende desta disposição como condição. Isso teve conseqüências funestas na pastoral, até nossos dias. Com essa compreensão só importa sacramentalizar, mesmo que o sujeito esteja morto ou lhe falte a devida disposição. Tal prática é o que, a rigor, chamamos de sacramentalismo, que nada menos é do que uma depravação dos sacramentos.

O sentido do ex opere operato tridentino é mais profundo. Quer sublinhar o primado da graça e a iniciativa de Deus na salvação. O teólogo Ch. Moehler, no século passado, interpretou muito bem o ex opere operato no sentido ex opere Christo operato.

A doutrina do ex opere operato diz, pois, algo fundamental sobre o próprio homem. Este não se realiza só no dar, mas também no receber. O fazer e a técnica, na ordem da salvação, não são a última palavra. O homem deve estar disposto a receber. É dado a sim mesmo a partir de uma liberdade, que no fundo, é a liberdade de dizer ‘Pai’. A causa da graça dos sacramentos não é o próprio homem e seus méritos, mas Deus. É Cristo quem batiza, quem perdoa. Em outras palavras, o ex opere operato não significa magia. Segundo esta, os ritos possuem uma força secreta em si mesmos, atuando a favor ou contra os homens. Mas, quando a Igreja se engaja como um todo, sua ação é eficaz, porque Cristo age através dela, independentemente de suas virtudes ou fraquezas. A presença da graça no mundo não depende das disposições subjetivas de quem recebe ou ministra um sacramento. O ex opere operato garante que o ‘sim’ definitivo de Deus aos homens não é colocado em perigo pela indignidade humana.

O ex opere operato significa, pois, que o próprio Cristo age nos sacramentos, às vezes, até mesmo através de homens indignos. O Senhor é fiel. O Sacramento é garantia de sua fidelidade. Mas, Cristo não nos salva sem nós, sem a nossa generosa colaboração, sem a nossa fé. Sem fé, não há sacramento. A graça sacramental pressupõe a fé, mas esta não produz graça. Nesse sentido, a doutrina do ex opere operato elucida um aspecto importante, mas deve ser visto no contexto global.


Fonte: ZILLES, U. Os sacramentos da Igreja, Porto Alegre: Ed. PUC-RS, 2001, (Coleção Teológica).

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