segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Teologia Apofática e Teologia Catafática

Apofatismo deriva do verbo 'apofasko' = 'apofemi', que significa negar. Ordinariamente refere-se à teologia. Entende-se por "teologia apofática" o sistema teológico que procede por negações, recusando-se progressivamente a referir a Deus os atributos tomados do mundo sensível e inteligível, para aproximar-se de Deus - que está além de todas as coisas criadas e de todo conhecimento relativo a elas - transcendendo todo e qualquer conhecimento e conceito. Ao contrário, teologia catafática, própria da tradição ocidental, é o procedimento teológico mediante o qual se referem a Deus os conceitos relativos aos nomes com os quais ele é indicado: tais conceitos, extraídos dos seres derivados de Deus, podem ser aplicados a Deus como causa primeira de todas as coisas, não podendo porém exprimir adequadamente sua natureza. É preciso porém deixar claro que também no Ocidente encontramos uma notável tradição apofática, bastando lembrar mestre Eckhart ou os místicos espanhóis do século XVI, ou simplesmente a tradição mística franciscana. O apofatismo encontra seu apogeu em Dionísio, o Pseudo-Areopagita, o misterioso autor do Corpus dionysiacum (provavelmente início do século VI), aquele que influenciou mais do que todos a mística bizantina. Ele distingue dois sistemas teológicos possíveis: um procede por afirmações (teologia catafática ou positiva), o outro por negações (teologia apofática ou negativa). O primeiro leva-nos de fato a certo conhecimento de Deus, mas trata-se de um meio muito imperfeito. A via apofática, embora nos conduza à ignorância perfeita, é entretanto a única que está em conformidade com a natureza incognoscível de Deus. Com efeito, todos os conhecimentos têm como objeto aquilo que é, ao passo que Deus está além de tudo aquilo que existe. Para se aproximar dele seria preciso negar tudo aquilo que lhe é inferior, quer dizer, tudo aquilo que é.

Fonte: SPITERIS, Y.,  Apofatismo, in: Lexicon - dicionário teológico enciclopédico, São Paulo: Loyola, 2003,  p. 41.

« mais vous vous élèverez davantage par voie de négation, parce que comme le dit Denys : « les affirmations restent en dessous de la vérité tandis que les négations sont vraies » (De Coel. Hierarch. C. 2, §3.), et bien qu’elles paraissent exprimer moins, elles disent en réalité davantage. (…) Notez aussi que ces négations renferment une affirmation suréminente (…) vous affirmer que Dieu est au dessus de tout ce que vous niez (…) alors la considération de cette vérité vous fait entrer dans la nuit de l’esprit ; elle vous élève plus haut et vous introduit plus en avant parce qu’elle vous enseigne à vous dépasser vous-même, vous et tout ce qui est créé. (…)c’est la voie la plus élevée, cependant pour être parfaite, elle doit faire suite à la voie d’affirmation »

"mas vos vós elevareis ainda mais pela via da negação, pois como o disse Denys : "as afirmações ficam em baixo da verdade, enquanto as negações dizem a verdade" (De Coel. Hierarch. C. 2, §3.), e mesmo si elas parecem exprimir menos, na realidade elas dizem mais (...) pensai também que estas negações enceram nelas uma afirmação super-eminante (...) vos afirmais Deus ser por cima de todo o que vos negais (...) assim a consideração desta verdade vós faz entrar na noite do espírito ; vós eleva mais alto e vós introduz mais na frente pois vós ensina a vós ultrapassar a vós mesmo, vós e todo o que é criado. (...) é a via a mais elevada, porém para estar perfeita, ela tem que vir depois da via da afirmação"  

Les Trois Voies de la Vie Spirituelle, s. Bonaventure (1217-1274),
traduction du père Jean de Dieu ofm.cap, 
société et librairie s. François d’Assise, Paris, 1929, p. 152.

2 comentários:

  1. Fantástico, parabéns.....excelente texto, informação essencial a toda formação cristã. Muito obrigado....Gaaça e paz.

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  2. Essa teologia lembra o que prega o Deísmo agnóstico de que não temos capacidade para penetrar os mistérios do Criador

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