Entre os documentos publicados por Pio XII examinaremos os
seguintes que contêm passagens referentes ao tema da Revelação:
Humani Generis (12 de Agosto de 1950)
Munificentissimus Deus (1 de Novembro de 1950)
Ad Sinarum Gntem (7 de Outubro de 1954)
1 – A Humani Generis, mesmo sem tratar explicitamente da
própria noção de revelação, toca em pontos que lhe são conexos: desenvolvimento
dogmático, motivos de credibilidade, função do magistério eclesiástico ante a
verdade revelada. Falando da revelação em seu sentido objetivo, a encíclica designe-a
como ‘verdade revelada’ (D. 2310), ‘verdade divinamente revelada’ (D. 2307),
que contém ‘tesouros de verdade’ (D. 2314), ‘depósito revelado’ (D. 2314), ‘depósito
de fé’ (D. 2313-2314). O Cristo confiou à Igreja ‘todo o depósito da fé, a
Sagrada Escritura e a divina tradição, para que o guarde, defenda e interprete’.
‘Juntamente com essas fontes sagradas, Deus conferiu à sua Igreja o Magistério
vivo para que também esclarecesse e explicasse o que no depósito da fé está
contido apenas de forma obcura e como que implícita’. Isso quer dizer que todos
os dogmas estão contidos na doutrina revelada, alguns explicitamente,
implicitamente outros; é função do teólogo mostrar como aquilo que a Igreja
ensina ‘está explícita ou implícita contido n os livros sagrados e na divina
tradição’.
2 – Na Bula dogmática Munificentíssimus Deus, Pio XII exprime-se
do mesmo modo. Declara que a assunção corporal de Nossa Senhora ‘é uma verdade
revelada por Deus e contida no depósito divino, confiado por Cristo à sua
Esposa, para que ela o guarde fielmente e infalivelmente o proclame. O
Magistério da Igreja, não apenas com meios humanos, mas com a assistência do
Espírito da verdade (Jo 14,26), e por isso sem qualquer erro exerce a função
que lhe foi confiada de conservar através dos séculos, puras e íntegras, as
verdades reveladas. Por isso as transmite sem alteração, sem nada acrescentar
nem suprimir’ (AAS, 42 (1950): 756-757).
Objetivamente, pois, a revelação apresenta-se como um conjunto
de verdades, um sagrado depósito que a Igreja conserva vigilantemente. Esse
depósito vive no coração da Igreja, que é divinamente assistida para poder
conservá-lo sem contaminação, para ter dele uma consciência sempre mais clara,
sem acrescentar novas verdades, mas por um processo de explicação das verdades
contidas nesse depósito que a reflexão humana jamais poderá esgotar. A Igreja é
levada a essa explicitação pela necessidade de defender a verdade revelada ou
pelo impulso da piedade ou da reflexão teológica. É dessa Igreja sempre viva
que recebemos o objeto de nossa fé. Estão em suas mãos as fontes da revelação,
com as explicitações feitas. Como observa a Humani Generis, quando voltamos às
fontes não é para julgar segundo elas a explicitações da Igreja, mas para
interpretar as fontes à luz da Igreja que nos diz infalivelmente o que elas
contêm. Proceder de maneira inversa seria ‘explicar o claro pelo obscuro’, preferir
o implícito à verdade explícita’.
3 – A encíclica Ad Sinarum Gentem trata da autonomia quanto à
pregação, explica que uma justa e sadia liberdade concedida quanto aos métodos
não deve chegar ao ponto de pôr em questão a própria doutrina e sua
interpretação. ‘Com que direito poderiam os homens interpretar a seu
bel-prazer, diversamente em cada nação, o Evangelho que nosso Senhor Jesus
Crsito divinamente nos revelou?’ Os bispos, sucessores dos apóstolos e os
presbíteros, colaboradores dos bispos, ‘devem anunciar e ensinar esse Evangelho
que o próprio Senhor e seus apóstolos anunciaram e ensinaram’. Eles ‘conservaram-no
e transmitiram ilibado e íntegro através dos séculos’. Eles não são autores do
Evangelho, mas apenas ‘depositários e arautos constituídos pela autoridade de
Deus’. Podem assim repetir as palavras do Cristo: ‘Minha doutrina não é minha,
mas daquele que me enviou’ (Jo 7,16). Os bispos de todos os tempos repetem a
exortação de Paulo: ‘Ó Timóteo, guarda o depósito, evitando as vaidades
profanas de palavras e as contradições de uma pretensa ciência’. E mais estas
palavras do mesmo apóstolo: ‘Guarda o bom depósito, com a virtude do Espírito
Santo, que habita em nós’. Uma vez que ‘foi divinamente revelada a doutrina’
cuja integridade a Igreja deve defender, seja anátema quem anunciar um
Evangelho diferente que é pregado pela Igreja.
Fonte: LATOURELLE, R.; Teologia
da Revelação, Edições Paulinas: São Paulo, 1985, p.354-356.
Nenhum comentário:
Postar um comentário