domingo, 13 de outubro de 2013

A problemática da cristologia moderna: o Jesus histórico



Entre os anos de 1774-1778 foram publicados os Fragmentos de um até então anônimo  professor de línguas orientais Hermann Samuel Reimarus (1694-1768). Reimarus expõe , com clareza, a distinção entre a doutrina de Jesus e a doutrina dos apóstolos. Ele sustenta que o Jesus que existiu realmente em Nazaré e o Cristo pregado nos evangelhos não são o mesmo. No seu julgar, é necessário diferenciar metodologicamente aquilo que é apresentado pelos apóstolos daquilo que foi efetivamente o ensinamento de Jesus no curso de sua vida. Jesus não ensinou profundos mistérios e nem mesmo aspectos relevantes sobre a fé religiosa. Ao contrário, a sua pregação se ocupou essencialmente de ensinamentos morais e preceitos de vida. Para Reimarus, o centro da pregação de Jesus está na convicção da iminência do Reino dos Céus, um Reino já esperado e aguardado pelos judeus.

As ideias de Jesus sobre o Reino não se distinguiam essencialmente daquelas ideias do judaísmo da época. Reimarus sustenta que o anúncio do Reino, na consciência de Jesus, teria uma conotação terreno-política. Todavia, a sequência dos eventos culminou com a morte ignominiosa de Jesus. Então, os discípulos, para não se verem envolvidos no mesmo fracasso do mestre, roubam o seu cadáver e passam a anunciar a sua ressurreição. Desta forma, se abre um novo cenário: aquele que pregava o Reino é agora a expressão visível ou a personificação do Reino. Não mais um reino político-terreno, mas um reino de natureza escatológica. O sentido escatológico dado à pregação do Reino de Deus, tal como é possível ler nos evangelhos, se deve, essa é a conclusão de Reimarus, à pregação dos apóstolos

O mérito de Reimarus está em trazer para a reflexão teológica a questão da historicidade dos eventos narrados nos evangelhos e, no particular de nosso interesse, a questão da compreensão da ressurreição. Um tema que, desde então, não é mais lido na simples aceitação das narrativas evangélicas como eventos históricos e que também não pode ser lido somente sob o olhar piedoso da fé. A partir de Reimarus, o problema da historicidade da ressurreição de Jesus está tão presente na consciência ocidental, que é possível vê-lo a partir de outras perspectivas, mas não se pode ignorá-lo. E não é só a questão da ressurreição que exige novas leituras. As teses de Reimarus suscitaram a necessidade de respostas e posicionamentos. Toda essa problemática, ainda em forma embrionária, coincide com o aparecimento da história como ciência. Entende-se, portanto, ter sido justamente da ciência histórica que surgiram as primeiras tentativas de respostas. Assim, nasce a corrente de pesquisa que se ocupará de descobrir quem foi, de fato, Jesus de Nazaré.

Fonte: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/16459/16459_3.PDF

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