A doutrina de fé sobre o inferno é uma das realidades mais difíceis
para a sensibilidade contemporânea. No entanto, é uma realidade que claramente
pertence ao depósito da fé[1]
Vamos tentar
aproximar pacificamente desta dificuldade. Vejamos algumas dificuldades sérias. Sendo Deus infinitamente bom e
todo poderoso, sendo infinita sua misericórdia, é possível que haja um inferno
eterno?; pode realmente um Deus bom ‘criar’ um inferno?; dada a limitação humana,
pode o homem realizar atos cuja consequência seja uma desgraça eterna?; pode
uma ação feita na história ter consequências negativas eterna na escatologia?[2];
uma moral de homens livres, não exige que nos despreocupemos dos ‘prêmios’ e ‘castigos’
instituídos pela autoridade, seja humana ou divina? Isto é, não nos leva a
doutrina sobre o céu e o inferno a uma moral de escravos?
Estas são
dificuldades específicas sobre o inferno. Existem outras que fazem referência
aos pressupostos imprescindíveis de tal doutrina: por exemplo, a sobrevivência
da alma e a ressurreição dos corpos para a eternidade. Esquecemo-nos destas
últimas questões, para centrarmos no que faz referência específica ao inferno,
dando por certo às doutrinas sobre estes pressupostos.
Assim, pois,
dando por certo a imortalidade da alma, a vida eterna do homem, e a vida na
plenitude existencial de sua corpóreo-espiritualidade depois da ressurreição
dos mortos, é possível o inferno?
Jesus e o
inferno
Por ora, notemos que Jesus Cristo aparece aos olhos do leitor do Novo
Testamento como um homem manso, pacífico, compassivo, que acolhe a todos e a
todos compreende em especial os pecadores. Sua mensagem é evangélica, boa nova,
salvação. Não obstante, às vezes fala e atua com dureza. Assim, em suas
críticas com os fariseus, ou na expulsão dos mercadores do templo, ou em suas
múltiplas alusões, naquilo que a tradição interpretou como o inferno. Teria que
estudar com detalhe a autenticidade e a historicidade que os biblistas dão a
estas passagens. Não obstante, Cristo fala da geena de fogo inextinguível, do
choro e ranger de dentes, de uns que não são admitidos ao banquete, ou as
bodas, ou que não são ‘conhecidos’ por Deus[3]
É impressionante
e majestoso o quadro do juízo final: Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o
fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos (Mt 25,41). Além do mais, há
passagens da Sagrada Escritura que afirmam ‘com absoluta claridade que há
pecados que excluem do Reino de Deus’[4].
Tradução: Roberto Marcelo da Silva
Fonte:
Título
:
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La
Predicación sobre el infierno: ¿Pastoral del miedo?
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Autor(es)
:
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Entidad
editora :
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Servicio
de Publicaciones de la Universidad de Navarra
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Materia
/ Palabras clave :
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Teología
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Enlace
permanente:
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Aparece
en las colecciones:
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[1] Os documentos mais importantes seriam: o símbolo
Quicumque (s. V), a Profissão de fé do Concílio IV de Latrão (s. XIII), a
constituição Benedictus Deus (s. XIV); entre os documentos recentes: o número
48 da Lumen gentium, e a Profissão de fé de Paulo VI.
[3] Para levar a cabo do impressionante número e
seriedade das vezes em que Jesus previne sobre o inferno, basta ler SCHMAUS, M.,
Teología Dogmática, VII: Los Novíssimos, Rialp, 1961, 423-425;
[4] 1 Cor 6,9-10: Acaso não sabeis que
os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os
impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os
devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores,
nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus; Gal 5,20-21 - idolatria,
superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos,
invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos
previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de
Deus!; Ef 5,5 - Porque sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento -
verdadeiros idólatras! - terá herança no Reino de Cristo e de Deus; Ap 21,8 – Os
tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os
idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e
enxofre, a segunda morte.
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