O Seminário Jesus foi fundado em março
de 1985, em Berkeley, California, por Robert Funk, professor da Universidade de
Montana.O Seminário Jesus apresenta-se como um esforço no sentido de encontrar
o Jesus ‘real’ que estaria oculto por trás da teologia dos evangelistas e dos
dogmas da Igreja. O idealizador do Seminário, Robert Funk, acusa a Igreja de manter
seus fiéis na ignorância.
Segundo Funk o objetivo do Seminário
Jesus é ‘liberar Jesus’. O único Jesus que a maioria das pessoas quer é o
mítico. Elas não querem o Jesus real. Elas querem um Jesus que possa ser
reverenciado. Um Jesus do culto. Afirma ainda que a alta hierarquia religiosa
não permitiu que informações obtidas em pesquisas de alto padrão fossem
transmitidas, por meio dos padres e pastores, a todo um universo laico desejoso
de conhecê-las. É altamente discutível, porém, que o objetivo do Seminário
tenha sido produzir ‘pesquisas de alto padrão’.
John Dominic Crossan, co-responsável
pelo Seminário Jesus, é um dos seus membros mais expressivos. Crossan foi
descrito como um dos mais brilhantes, sedutores, eruditos e sagazes estudiosos
do Novo Testamento da atualidade, muito embora considere que seu livro ‘O Jesus
Histórico’ esteja errado em quase tudo, assim afirma outro representante do
Seminário Jesus Tom Wright.
Segundo Wright, as fontes usadas por
Crossan para a reconstrução do Jesus histórico são problemáticas. Em grande
parte, ela se baseia em obras não-canônicas, tais como o Evangelho Gnóstico de
Marcos, obras apócrifas cuja datação segundo ele, seria anterior ao ano 60, e
que ele considera de igual ou maior importância que os Evangelhos canônicos.
Crossan rejeita, assim como alguns
membros do Seminário o Evangelho de Marcos sendo este um mero produto de
interesses teológicos. Ao reconstruir o mundo em que Jesus viveu, ele se apoia
principalmente na antropologia social. Ao invés de tentar entender Jesus contra
o pano de fundo de sua própria tradição religiosa, da história e das Escrituras
judaicas, Crossan define Jesus inserindo-o numa matriz sociocultural de caráter
‘secular’, caracterizada pela classe e por outras distinções sociais, bem como
pela dinâmica política da colonização e da ocupação.
Para Crossan, Jesus não é um operador de
milagres no sentido tradicional, mas um filósofo cínico judeu e um mago. Ele
rejeita a ideia de que Jesus se dirigisse a Deus chamando-o de Abba, tivesse um
seleto grupo de doze em meio a seus apóstolos, ou falasse sobre o advento
futuro do reino. Sua prática da ‘comensalidade livre’, dividindo refeições com
todas as pessoas, sem observar leis judaicas a respeito da pureza, convenções
sociais ou estrutura familiar tradicional, evidencia que ele defendeu um
igualitarismo radical que desafiava as estruturas estabelecidas e o poder
hierárquico. Embora Wright aplauda Crossan por seu uso inovador das ciências
sociais, ele pondera se sua análise e seleção de materiais teriam sido
ideologicamente orientadas.
Crossan afirma que ‘ a comunidade cristã
primitiva nada sabia a respeito da paixão de Jesus para além do fato em mesmo’
Afirma que Jesus foi executado pelos romanos, e não pelos líderes judeus, e que
seu corpo foi provavelmente consumido pelos cachorros que iam procurar comida
ao pé da cruz. A primeira narrativa da paixão que teria servido de fonte para Marcos,
ele atribui a um hipotético ‘Evangelho da Cruz’, versão primitiva do Evangelho
apócrifo de Pedro. Crossan vê esse Evangelho da Cruz como uma historicização de
profecias mais arcaicas a respeito da paixão e da parousia. Em seu modo de ver,
a narrativa da paixão não deve ser entendida como história recordada. Ela foi
criada por escritores cristãos primitivos com base em modelos do Antigo
Testamento. De modo semelhante, ele vê as narrativas sobre a ressurreição como
instrumentos de legitimação da autoridade dos primeiros líderes da Igreja.
Das considerações apresentadas sobre o
Seminário Jesus, podemos perceber que o estudo sobre o Jesus Histórico é
crucial para a cristologia solidamente fundamentada. Sem ele, a fé cristã e sua
cristologia permanecem vulneráveis às acusações de divinizar Jesus e falsificar
sua mensagem que vêm sendo ouvidas na busca pelo Jesus Histórico desde os
tempos de Reimarus até os dias de hoje com o Seminário Jesus.
Princípios básicos do Seminário Jesus:
Jesus de Nazaré nasceu no reinado de
Herodes o Grande; sua mãe se chamava Maria e ele teve um pai humano, cujo nome pode
não ter sido José;
Jesus nasceu em Nazaré, não em Belém;
Jesus foi um sábio itinerante cuja
atuação foi no meio dos marginalizados;
Jesus praticou curas sem fazer uso da
medicina ou magia tradicionais, aliviando sofrimentos por nós hoje definidos
como psicossomáticos;
Ele não andou em cima das águas, não
alimentou a multidão com pães e peixes, não transformou a água em vinho, nem
ressuscitou Lázaro da morte;
Jesus foi preso em Jerusalém e
crucificado pelos romanos; ele foi executado como um perturbador da ordem
pública e não pela pretensão de ser o Filho de Deus;
O túmulo vazio é uma ficção: Jesus não
ressurgiu corporalmente da morte;
A crença na ressureição se baseia na
experiência visionária de Paulo, Pedro e Maria.
Fonte: RAUSCH, T.; Quem é Jesus? Aparecida: Editora
Santuário, 2006, p. 35-44.
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