terça-feira, 22 de outubro de 2013

Seminário Jesus (Seminar Jesus - 1985)





O Seminário Jesus foi fundado em março de 1985, em Berkeley, California, por Robert Funk, professor da Universidade de Montana.O Seminário Jesus apresenta-se como um esforço no sentido de encontrar o Jesus ‘real’ que estaria oculto por trás da teologia dos evangelistas e dos dogmas da Igreja. O idealizador do Seminário, Robert Funk, acusa a Igreja de manter seus fiéis na ignorância.

Segundo Funk o objetivo do Seminário Jesus é ‘liberar Jesus’. O único Jesus que a maioria das pessoas quer é o mítico. Elas não querem o Jesus real. Elas querem um Jesus que possa ser reverenciado. Um Jesus do culto. Afirma ainda que a alta hierarquia religiosa não permitiu que informações obtidas em pesquisas de alto padrão fossem transmitidas, por meio dos padres e pastores, a todo um universo laico desejoso de conhecê-las. É altamente discutível, porém, que o objetivo do Seminário tenha sido produzir ‘pesquisas de alto padrão’.

John Dominic Crossan, co-responsável pelo Seminário Jesus, é um dos seus membros mais expressivos. Crossan foi descrito como um dos mais brilhantes, sedutores, eruditos e sagazes estudiosos do Novo Testamento da atualidade, muito embora considere que seu livro ‘O Jesus Histórico’ esteja errado em quase tudo, assim afirma outro representante do Seminário Jesus Tom Wright.

Segundo Wright, as fontes usadas por Crossan para a reconstrução do Jesus histórico são problemáticas. Em grande parte, ela se baseia em obras não-canônicas, tais como o Evangelho Gnóstico de Marcos, obras apócrifas cuja datação segundo ele, seria anterior ao ano 60, e que ele considera de igual ou maior importância que os Evangelhos canônicos.
Crossan rejeita, assim como alguns membros do Seminário o Evangelho de Marcos sendo este um mero produto de interesses teológicos. Ao reconstruir o mundo em que Jesus viveu, ele se apoia principalmente na antropologia social. Ao invés de tentar entender Jesus contra o pano de fundo de sua própria tradição religiosa, da história e das Escrituras judaicas, Crossan define Jesus inserindo-o numa matriz sociocultural de caráter ‘secular’, caracterizada pela classe e por outras distinções sociais, bem como pela dinâmica política da colonização e da ocupação.

Para Crossan, Jesus não é um operador de milagres no sentido tradicional, mas um filósofo cínico judeu e um mago. Ele rejeita a ideia de que Jesus se dirigisse a Deus chamando-o de Abba, tivesse um seleto grupo de doze em meio a seus apóstolos, ou falasse sobre o advento futuro do reino. Sua prática da ‘comensalidade livre’, dividindo refeições com todas as pessoas, sem observar leis judaicas a respeito da pureza, convenções sociais ou estrutura familiar tradicional, evidencia que ele defendeu um igualitarismo radical que desafiava as estruturas estabelecidas e o poder hierárquico. Embora Wright aplauda Crossan por seu uso inovador das ciências sociais, ele pondera se sua análise e seleção de materiais teriam sido ideologicamente orientadas.

Crossan afirma que ‘ a comunidade cristã primitiva nada sabia a respeito da paixão de Jesus para além do fato em mesmo’ Afirma que Jesus foi executado pelos romanos, e não pelos líderes judeus, e que seu corpo foi provavelmente consumido pelos cachorros que iam procurar comida ao pé da cruz. A primeira narrativa da paixão que teria servido de fonte para Marcos, ele atribui a um hipotético ‘Evangelho da Cruz’, versão primitiva do Evangelho apócrifo de Pedro. Crossan vê esse Evangelho da Cruz como uma historicização de profecias mais arcaicas a respeito da paixão e da parousia. Em seu modo de ver, a narrativa da paixão não deve ser entendida como história recordada. Ela foi criada por escritores cristãos primitivos com base em modelos do Antigo Testamento. De modo semelhante, ele vê as narrativas sobre a ressurreição como instrumentos de legitimação da autoridade dos primeiros líderes da Igreja.

Das considerações apresentadas sobre o Seminário Jesus, podemos perceber que o estudo sobre o Jesus Histórico é crucial para a cristologia solidamente fundamentada. Sem ele, a fé cristã e sua cristologia permanecem vulneráveis às acusações de divinizar Jesus e falsificar sua mensagem que vêm sendo ouvidas na busca pelo Jesus Histórico desde os tempos de Reimarus até os dias de hoje com o Seminário Jesus.



Princípios básicos do Seminário Jesus:

Jesus de Nazaré nasceu no reinado de Herodes o Grande; sua mãe se chamava Maria e ele teve um pai humano, cujo nome pode não ter sido José;

Jesus nasceu em Nazaré, não em Belém;

Jesus foi um sábio itinerante cuja atuação foi no meio dos marginalizados;

Jesus praticou curas sem fazer uso da medicina ou magia tradicionais, aliviando sofrimentos por nós hoje definidos como psicossomáticos;

Ele não andou em cima das águas, não alimentou a multidão com pães e peixes, não transformou a água em vinho, nem ressuscitou Lázaro da morte;

Jesus foi preso em Jerusalém e crucificado pelos romanos; ele foi executado como um perturbador da ordem pública e não pela pretensão de ser o Filho de Deus;

O túmulo vazio é uma ficção: Jesus não ressurgiu corporalmente da morte;

A crença na ressureição se baseia na experiência visionária de Paulo, Pedro e Maria.
 

Fonte: RAUSCH,  T.; Quem é Jesus? Aparecida: Editora Santuário, 2006, p. 35-44.

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