segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Purificação depois da morte nos relatos bíblicos – Purgatório



Naturalmente, a Escritura só pode fazer insinuações sobre uma purificação além da morte desde o momento em que começou a atestar a sobrevivência do homem em união com Deus. Tanto o Antigo como o Novo Testamento não oferecem senão insinuações. Poderíamos ver uma destas no segundo livro dos Macabeus (2Mc 12, 40-46). Tendo-se encontrado sob as túnicas dos falecidos na guerra objetos consagrados aos ídolos, rezou-se para que lhes perdoasse totalmente os pecados. O nobre Judas mandou organizar uma coleta recolhendo duas mil dracmas. O dinheiro foi enviado a Jerusalém, para que ai se oferecesse um sacrifício de expiação. O autor do relato acrescenta esta observação: ‘Com ação tão bela e nobre ele tinha em consideração a ressurreição, porque se não cresse na ressurreição dos caídos, teria sido coisa supérflua e vã orar pelos defuntos. Além disso, considerava a magnífica recompensa que está reservada àqueles que adormecem com sentimentos de piedade. Santo e pio pensamento’.

No Novo Testamento refere como Jesus falou de um pecado que não se perdoa nem neste mundo nem no outro. É o pecado contra o Espírito Santo, isto é, a negativa consciente a Jesus Cristo e a sua obra (Mt 12,32; Mc 3, 29; Lc 12, 10; Lc 12, 58). E se pode interpretar as palavras de Jesus no sentido em que há pecados perdoáveis no outro  mundo. Talvez seus ouvintes lembraram o texto do segundo Macabeus. Paulo escreve na primeira Epístola aos Coríntios: ‘Pois quanto ao fundamento, ninguém pode por outro senão aquele que está posto, que é Jesus Cristo. Se sobre este fundamento alguém edifica ouro, prata, pedras preciosas ou madeira, feno, palha, a sua obra ficará manifesta, pois em seu dia o fogo o revelará, e provará qual foi a obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento resistir, o autor receberá o prêmio e aquele cuja obra for consumida sofrerá o dano; ele, todavia, se salvará, mas como quem passa pelo fogo’ (1Cor 3,11-15). Esta passagem não constitui um testemunho imediato a favor do purgatório. Contudo pode-se tirar a seguinte consequência: quem é indolente em sua fé, se salvará quando chegar o dia do Senhor, mas só a muito custo, como quem recebe queimaduras ao atravessar as chamas. E se no dia do juízo universal ainda é possível uma purificação, sem dúvida, podemos concluir que esta é muito mais possível no período intermédio.

Fonte: SCHMAUS, M. A fé da Igreja, Petrópolis: Vozes, p. 217, v. VI.

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