Para manter fiel ao conceito de
revelação e para salientar o caráter teologal da fé, o concílio declara
inicialmente que o objeto da fé é o próprio Deus enquanto Revelador. Devemos
acreditar no Deus que revela, no Deus que fala; devemos obedecer-lhe: essa é
uma afirmação constante da própria revelação (Rm 16,26; 1,5; 2Cor 10,5-6; Ef
1,13; 1Cor 15,11; Mc 16,15-16) e dos textos do magistério.
Segundo concílio, essa fé estabelece
entre Deus e o homem uma relação viva, de pessoa a pessoa, numa adesão total
que inclui o conhecimento e o amor. É todo o homem que, livremente, se confia a
Deus. Pela revelação Deus vem até o homem, condescende, patenteia-lhe os
segredos de sua vida íntima, à procura de uma reciprocidade de amor. Pela fé o
homem volta-se para Deus, dá-se-lhe na amizade. O final da frase explica em que
consiste essa rendição do homem todo a Deus. O homem, pela fé, presta a Deus
total homenagem de sua inteligência e de sua vontade, assente livremente à
revelação. O concílio evita assim duas concepções incompletas da fé: uma
fé-homenagem, praticamente sem conteúdo, e uma fé-adesão despersonalizada a uma
doutrina. A fé cristã é indissoluvelmente dom e assenso.
A resposta do homem à revelação
não é a simples resultante da atividade humana; é um dom de Deus. Não basta que
o Evangelho ressoe aos ouvidos; exige-se também uma graça preveniente e
adjuvante, que mova para crer e possibilite crer. A ação da graça, é , logo em
seguida, descrita com termos bíblicos e mais personalistas: concretamente
exigem-se auxílios do Espírito Santo que movem o coração do homem, que o
convertem para Deus, que iluminam a inteligência e inclinam as potências
volitivas. É o Espírito Santo que ‘dá a todos a suavidade da adesão e a crença
na verdade’. Muitas vezes salienta a Escritura que, para crer, é necessária
essa ação da graça que abre o espírito para a luz que vem do alto (Mt 16,17;
11,25; At 16,14; 2Cor 4,6) e atrai o homem em direção a Cristo (Jo 6,44). Essa
ação interior é o testemunho do Espírito (1Jo 5,6) que age internamente para
que o homem reconheça a verdade do Cristo.
É também ao Espírito e aos seus
dons que devemos atribuir o aprofundamento da revelação. Pois o dom da fé é
semente que deve germinar e crescer indefinidamente. Esse aprofundamento da fé,
que conduz a uma superciência de Deus e de seu mistério, é obra do Espírito.
Dizendo que o Espírito, com seus dons, confere uma inteligência mais profunda
da revelação, o concílio novamente evidencia a ação do Espírito sobre a
inteligência do crente. No movimento do homem em direção à fé, é o Espírito que
abre a inteligência para esse mundo totalmente novo em que o introduz ao
Evangelho. Também no interior da fé é o Espírito que desenvolve o poder de
penetração da inteligência (dom da inteligência) e dispõe o fiel a compreender
pelos caminhos do amor (dom da sabedoria), infundindo-lhe uma consonância
afetiva que lhe torna co-natural o Evangelho.
Fonte: LATOURELLE, R. Teologia da
Revelação. Edições Paulinas: São Paulo, 1985, p. 384-386.
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