A expressão 'filho do homem’ (em
aramaico: barnascha) diria por si o mesmo que ‘homem’, num modo de falar
enfático, não usual na linguagem corrente. Mas seria esta a significação
intencionada por Jesus, que tantas vezes se designou assim, segundo o
testemunho dos Evangelhos.
Aplicado a Jesus, o título ocorre 68
vezes nos sinóticos, 12 em João, uma nos Atos, uma em Hebreus, duas no Apocalipse.
Nos Evangelhos a expressão aparece sempre como autodesignação de Jesus. Este
fato, e o de não constar seu uso na teologia apostólica, prova sua
autenticidade jesuânica.
Em Dn 7,13-37 temos a descrição de um
sonho: o profeta vê, após 4 grandes animais saindo das águas (e representando 4
reis), alguém ‘como um filho do homem’, entre as nuvens do céu, recebendo do
Altíssimo a investidura régia sobre todos os povos, em vista de um reino
eterno. Pouco mais adiante, quem reina porém, é ‘o povo dos santos do Altíssimo’.
Quem é então o personagem? É humano? Indivíduo ou coletividade?
A expressão ‘como um filho do homem’
deveria ser interpretada, segundo alguns, como significativa de uma visão
imaginária, não real. Outros adotam a interpretação coletiva: o povo de Israel
seria esse ‘filho do homem’, do mesmo modo que os quatro animais são quatro
outros povos. Acontece, porém, que os animais significam não só os reinos mas
também os seus reis. A tradição judaica apocalíptica (Enoque e 4 Esdras)
entendeu ali um indivíduo, chegando identifica-lo por vezes com o futuro
Messias.
Jesus, em outras passagens, parece
utilizar a expressão ‘filho do homem’ para referir-se a seu próprio ministério terrestre e, até a
sua Paixão – com o que estabelecia um elo entre os títulos de ‘Filho do Homem’
e ‘Servo’; por exemplo no texto: ‘o Filho do
homem não veio para ser servido, mas para dar sua vida em redenção da
multidão’ (Mc 10,45; Mt 20,28).
Segundo Cullmann, esta fusão de duas
imagens, dois títulos, é algo novo. Indicava ser ele alguém que cumpre na terra
um desígnio divino, cuja revelação se dará na escatologia, explicando-se pela
sua aparência humilde, sua vocação ao Sacrifício e sua misteriosa solidariedade
entre os homens.
Portanto, o título de ‘Filho do homem’
não parece indicar diretamente a Jesus em sua ‘natureza humana’, mas em sua
função de Rei messiânico. Parece haver certa analogia com o ‘segundo Adão’ ou
‘o homem celeste’ de 1Cor 15, 45ss e Rm 5, 12ss.
Fonte: GOMES, C. F.; Riquezas da
Mensagem Cristã. Rio de Janeiro: Edições ‘LUMEN CHRISTI’, 1989, p. 303-304.
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